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Conflito entre índios e fazendeiros é "iminente" em MS

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
27 de Jan de 2004

Cerca de quatro mil caiovás-guaranis estão dispostos a enfrentar quem quiser retirá-los de áreas ocupadas

Prefeito de Japorã (MS) afirma que se acordo não sair será difícil evitar um confronto

Índios estão armados para enfrentar fazendeiros que dizem estar cansados de esperar pela Justiça. (Celso Junior/AE)

Iguatemi (AE) - O prefeito de Japorã, Sebastião Aparecido de Souza (PFL), disse ontem que é iminente um massacre de índios na região, diante da ameaça dos fazendeiros de realizar a desocupação forçada das 14 fazendas invadidas em seu município, na divisa de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Com uma pistola calibre 380 ao alcance da mão, ele contou que os cerca de 4 mil caiovás-guaranis estão dispostos a enfrentar quem for retirá-los, seja a polícia ou os fazendeiros. "Eles não estão dispostos a recuar um milímetro e poderá ser o maior massacre de índios da história do Brasil."

Considerado pelos fazendeiros como defensor dos índios, Souza diz que usa a arma porque recebe muitas ameaças. Ele participa das negociações da Procuradoria da República e da Fundação Nacional do Índio (Funai) com os caiovás para cumprir a ordem de desocupação das áreas. E não esconde a tensão. "Se não sair logo um acordo, vai ser difícil evitar o confronto."

Hoje, ele voltou à aldeia para novas negociações. Segundo Souza, parte dos líderes indígenas concorda em deixar as sedes das fazendas e permitir que os criadores entrem para cuidar do gado e fazer lavouras. "Mas eles não admitem sair das fazendas e ficar do lado de fora."

Os índios interpretaram a decisão liminar da desembargadora Consuelo Yoshida, do Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo, como uma sentença definitiva a seu favor. "Eles sabem que as terras lhes pertencem e temem perdê-las de novo, por isso se recusam a sair."

Os caiovás também têm consciência, segundo o prefeito, da amplitude do movimento deles, com a grande cobertura da mídia estrangeira. "A imprensa internacional tem simpatia pela causa indígena e eles sabem disso. Também avaliam que a morte de um ou mais índios teria grande repercussão negativa para o governo Lula."

Para ele, a entrada de policiais ou de milícias armadas nas fazendas seria como acender o estopim de um barril de pólvora. "É preciso continuar conversando com eles." Souza considera legítima a reivindicação dos índios, mas reconhece o direito dos fazendeiros a uma indenização: "A culpa dessa encrenca é do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que ignorou a presença dos índios e dividiu as áreas para assentamento de colonos."

Os caiovás, segundo ele, foram empurrados para a reserva de Porto Lindo. "Numa área de 1.648 hectares, vivem 3.500 a 4 mil índios, o que tem levado a aldeia a uma situação de miséria." Na sua avaliação, a ampliação da reserva para 9,6 mil hectares, conforme o estudo da Funai, é vital para a melhoria da qualidade de vida dos índios. "Os fazendeiros têm suas razões, mas o lado social não pode ser ignorado. Numa área maior, eles vão cultivar para seu sustento, pois, ao contrário do que os fazendeiros dizem, índio não é parasita."

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