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Confirmada semi-escravidão de índios

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Denilson Pinto
03 de Abr de 2002

A promotora de Justiça de Costa Rica, Cristiane Amaral Cavalcanti, confirmou que os 42 índios, responsáveis pelo incêndio e destruição do ônibus no município, na última segunda-feira, estavam sendo explorados para trabalhar nas lavouras de algodão da região em regime de semi-escravidão. Ela revelou que chegaram a servir comida azeda para eles e que eles dormiam no chão.

Tanto os índios como os demais homens que costumam ser contratados nesta época do ano para trabalharem na lavoura, segundo a promotora, acabam não recebendo o salário prometido, devido aos inúmeros descontos. "Eles cobram pelo alojamento, comida, roupa, entre outras coisas que são oferecidas. No final do mês, eles não recebem salário e isto configura exploração no trabalho", denuncia a promotora.

Ontem, após o Ministério Público ter sido acionado, o "gato" Ondino Ferreira Dias, responsável pela contratação dos índios, através do seu advogado Jesus Queiróz Baird, foi obrigado a fazer o acerto com eles, pagando R$ 20 por dia trabalhado. Todos eles retornaram a Campo Grande, ficando na cidade apenas Mauro Silva Acunha, 18 anos, que, se encontra preso na delegacia, acusado de ter sido o autor do incêndio no ônibus.

Segundo a promotora, na próxima segunda-feira, o Ministério Público vai se reunir com cerca de 15 empreiteiros, propondo um termo de compromisso de ajustamento de contrato. Cristiane disse que vai propor que eles respeitem a legislação trabalhista, sob pena de terem que pagar uma multa de R$ 700 por dia.

Ela afirmou que a exploração dos bóias-frias que trabalham nas fazendas da região tem sido um problema que vem se repetindo todos os anos. No início do ano passado, Ondino já chegou a ser denunciado por exploração de mão-de-obra. Cristiane disse que esta é a primeira vez que foram contratados índios. Ela denunciou que Ondino chegava até mesmo a vender dose de pinga a eles por R$ 1,50, enquanto nos bares da cidade o preço é de R$ 0,50. A despesa seria descontada do pagamento deles, assim como todo o material para o trabalho que foi fornecido.

Na segunda-feira, ao tomar conhecimento da revolta dos índios, a promotora chegou a acionar a Delegacia Regional do Trabalho para resolver o problema. No entanto, como ontem houve o acerto, os fiscais acabaram não se deslocando até o município. Segundo a promotora, na verdade, para resolver o problema da exploração de mão-de-obra na região, haveria necessidade de uma fiscalização constante nas fazendas. "A cidade deveria ter um posto fiscal do trabalho. Tenho certeza que isto iria inibir este tipo de crime", afirmou Cristiane.

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