VOLTAR

Comunidades afetadas protestam em encontro

Diário de Cuiabá-Mato Grosso- MT
Autor: Orlando Morais
30 de Mai de 2001

Representantes de índios, seringueiros e pequenos peodutores condenam projetos

O segundo dia do Encontro Nacional dos Participantes do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), ontem, em Cuiabá, foi marcado pelo desabafo dos que mais sofrem com a destruição do meio ambiente. Representantes de povos indígenas, de seringueiros, de pequenos produtores rurais e de demais povos da floresta reclamaram do que chamam, em referência ao próprio PPG-7, de projetos feitos para a satisfação financeira de consultores e de governantes.Segundo o representante do povo manchinery, do Acre, Sabá Manchinery, os 215 povos indígenas da região da Amazônia Legal estão cada vez mais vulneráveis, pois têm sido usados por garimpeiros, traficantes de drogas, madeireiros e agora por militares e consultores parasitas, disse ele, dirigindo-se a muitos consultores ambientais presentes na platéia. Os índios já estão cansados, de acordo com Manchinery, de receber o homem branco nas aldeias, responder a suas perguntas e depois não verem nada mudar. Estamos há muito tempo ouvindo as pessoas falarem em proteção às florestas e em desenvolvimento sustentável, mas só o que vimos até agora foi destruição ambiental e descontrole social, afirmou.Sabá Manchinery disse também que os povos indígenas não devem ser obrigados a preservar o meio ambiente, pois já fazem isso normalmente. O problema dos desmatamentos e das queimadas não é um problema nosso. O que nós queremos é saber como vamos sobreviver com os problemas que a sociedade ocidental nos criou, disse ele. Em nome de povos indígenas e do meio ambiente, criam-se projetos de milhões de dólares. Enquanto isso, os índios não conseguem vender um saco do arroz que produzem e passam fome, afirmou.De acordo com o presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros, Everaldo Dutra, o último reduto dos seringueiros no Estado de Mato Grosso, a reserva extrativista Guariba-Roosevelt, está sofrendo sérios problemas para sobreviver, porque não conta com o apoio governamental. Falta-nos assistência técnica, recursos para produzir e meios para comercializar o que produzimos, disse ele. A luta dos seringueiros, segundo Dutra, tem sido a de criar reservas extrativistas com os objetivos de regularizar a situação fundiária das famílias, desenvolver a organização comunitária e melhorar a produção de látex.Para o representante da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagri), Mário Francelino Vieira, as próprias discussões de orçamento para projetos de desenvolvimento sustentável devem ser realizadas com a participação das comunidades mais humildes. Os programas não podem ser realizados por intelectuais que não vivem no dia a dia os problemas que nós enfrentamos, afirmou. Exclusão de área indígena também é criticadaA não inclusão de áreas indígenas nos corredores ecológicos protegidos pelos recursos do PPG-7 (US$ 200 milhões nos próximos dez anos) também foi criticada durante o Encontro que está sendo realizado no Hotel Fazenda Mato Grosso. De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Frederico Müller, se as terras indígenas são as mais preservadas, teriam que entrar obviamente no Programa.Para o presidente da Associação de Defesa do Rio Coxipó, Abel Nascimento, outro defeito do PPG-7 é excluir a educação ambiental dos financiamentos. Como se pode falar em sustentabilidade se não houver a conscientização de crianças e jovens?, pergunta ele. De acordo com Nascimento, os Encontros do PPG-7 deveriam ser realizados fora dos hotéis de luxo, para que tenham maior participação popular. Aqui, 90% dos participantes são governamentais, pois o maior interesse é com os recursos financeiros. Se os povos da floresta não têm nem como entrar aqui, imagine tomar a palavra e falar de seus problemas, afirmou.De acordo com a vice-coordenadora da Rede Mata Atlântica, Maria Dalce Ricas, os projetos elaborados em gabinetes são baseados em fortes interesses econômicos e precisam remunerar muita gente antes de chegar ao seu destino — e por isso têm custos altíssimos, afirmou. Segundo ela, os projetos de gestão e compartilhada, elaborados nas próprias comunidades, geralmente têm baixo custo, requerem tecnologias de baixo impacto ambiental e possuem lisura financeira.Dentro do PPG-7, apenas 15% dos recursos vão para programas elaborados nas comunidades, segundo o secretário técnico dos Projetos Demonstrativos (PDA, um subprograma do PPG-7). Segundo ele, nesses programas apenas 15% dos recursos são usados para consultoria e administração. Entretanto, os bons resultados dos PDAs, segundo Dalce Ricas, ainda não foram suficientes para vencer as barreiras culturais e econômicas tradicionais, e que caracterizam as políticas públicas no Brasil.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.