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Comunidade indígena recebe energia solar

GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B14
19 de Abr de 2004

Comunidade indígena terá sistema de energia solar

Eletrosul constrói cinco aparelhos de captação na ilha dos índios Guatós, a localidade mais isolada do estado
Hoje é dia de comemoração na reserva Terra Indígena Guató, em Mato Grosso do Sul - e não será apenas pelo Dia do Índio. Às 11h, serão inaugurados os cinco sistemas de energia solar instalados pela Eletrosul e uma escola construída pelo governo do Estado do Mato Grosso do Sul. Uma equipe de 10 engenheiros e técnicos da Eletrosul estava trabalhando desde o dia 5 de abril na ilha onde vivem os Guató. A dificuldade no acesso à ilha exigiu uma infra-estrutura especial para o trabalho. Parte da equipe saiu de Campo Grande rumo a Corumbá no dia 1o de abril com um caminhão carregado com oito toneladas de equipamentos.
No dia 2, eles partiram de balsa para a reserva, em uma viagem de 30 horas subindo o Rio Paraguai até a fronteira com a Bolívia, onde fica a Ilha dos Guató. O restante da equipe percorreu 400 quilômetros por terra entre Campo Grande e Corumbá, para de lá partir de barco até a ilha. Para facilitar o trabalho e evitar falhas, os equipamentos que fazem parte dos sistemas de energia solar foram testados antes na Regional de Manutenção do Mato Grosso do Sul (RMMS) da Eletrosul. O Projeto Guató é o primeiro dentro do Programa Luz para Todos a ser desenvolvido com a utilização de energia solar, o que o torna um dos marcos do trabalho que vem sendo realizado em todo o Brasil pelo Ministério de Minas e Energia.
A maior parte do material utilizado para a eletrificação na aldeia foi cedido pelo ministério (cerca de 90%). Os outros 10% ficaram por conta da Eletrosul, assim como a infra-estrutura para a obra - realizada por meio de um convênio com a Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul.
Após a eletrificação das instalações comunitárias da aldeia, o ministério vai viabilizar a instalação de sistemas individuais de geração fotovoltaica em cada oca da ilha, possibilitando à cerca de 30 famílias o acesso individual à energia elétrica com pontos de iluminação e tomadas. A aldeia Guató está localizada em uma ínsua (pequena ilha que se forma em rio) com 10 mil hectares de terra, transformada na reserva Terra Indígena Guató pelo decreto no 1.775, de janeiro de 1996, homologado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro de 2003.
A ilha está situada a aproximadamente 300 quilômetros de Corumbá e o acesso só pode ser feito via aérea com pouso na base militar de Porto Índio, a 45 minutos de barco da aldeia. Ou de barco, com previsão de até 30 horas de viagem a partir de Corumbá. Os sistemas de geração fotovoltaica são alternativas que podem ser utilizadas em regiões de difícil acesso, onde não há condições operacionais para a instalação de linhas convencionais de energia elétrica.
A reserva Terra Indígena Guató é considerada a região mais isolada do Mato Grosso do Sul e por isso foi escolhida para ser a primeira a receber o sistema de energia solar. Ali vivem cerca de 180 índios guató, de uma população de aproximadamente 800 índios. A maioria reside em áreas ribeirinhas e favelas dos municípios de Corumbá e Ladário, ou às margens dos rios Paraguai e São Lourenço, depois de terem sido expulsos da ilha no período da Guerra do Paraguai, no século passado, e em função da presença de latifundiários na ilha que criam gado.
À medida que as fazendas expandiam suas cercas e currais, os índios iam sendo expulsos. Em 1970, os guató chegaram a ser considerados extintos pelo sociólogo Darcy Ribeiro. Conhecidos como índios canoeiros, eles sobrevivem da pesca e a maioria constrói suas casas em cima de canoas. Essa peculiaridade facilitou a fuga nos períodos de invasão. A iniciativa de levar melhorias para a aldeia Guató e resgatar sua cultura e origens começou com um trabalho de levantamento histórico da Nação Guató, feito pela Secretaria Estadual de Educação, onde foram detectadas várias necessidades na reserva, como a própria legalização dela. Com isso, o governo local passou a investir na educação, implantando ali uma escola-pólo.
Diante das dificuldades de manter as aulas devido ao meio de locomoção, (as canoas) foram buscadas parcerias que pudessem ajudar na fixação dos indígenas na ilha, evitando que eles abandonassem novamente suas terras, atraídos pelo meio de vida urbano. O primeiro passo foidoar um barco para resolver o problema de transporte dos professores aos núcleos familiares. Devido ao hábito nômade, a não fixação do índio na terra continuou a ser um problema e a possibilidade de invasão por fazendeiros é permanente. Para tentar conter o problema, o governo do estado buscou parceria com o Ministério de Minas e Energia, através da Eletrosul, e partiu para um projeto mais ousado: levar energia elétrica à aldeia.

GM, 19/04/2004, p.B14.

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