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Comunidade da aldeia Kamicuã luta unida pela sobrevivência

A Tribuna-Rio Branco-AC
24 de Nov de 2003

"O maior problema da aldeia é a economia, não tem mercado em Boca do Acre, produzimos arroz, feijão, milho, macaxeira e abacaxi. Seringa ninguém corta mais, não tem preço, castanha não tem preço" fala Francisco Gonçalves, cacique durante 27 anos.A aldeia Kamicuã tem 440 moradores divididos em três comunidades: Centrinho, Catispero e Praia Nova. A terra indígena tem o nome de Kamicuã e uma área de 58,5 mil hectares demarcados em 1985. São da etnia Apurinã, família lingüística aruak.

Santos Pinheiro, 54, conhecido como Marechal, foi eleito cacique em 2002 e diz que "os benefícios não estão chegando às aldeias. A construção de um posto de saúde, reforma do Chapéu de Palha, mais formação para os professores e projetos de renda para a aldeia, são as necessidades mais urgentes" e acrescenta "na força de nossa coragem, de nosso conhecimento, de nossa união, nós vamos conseguir as coisas".

"No tempo da Funai era melhor, havia uma farmácia cheia de medicamentos" dizem os apurinãs. Desde que foi instituído o convênio Uni-Funasa, em 2000, além da falta de medicamentos, a médica e outras três pessoas que trabalhavam no Pólo-Base (unidade básica de saúde) foram demitidas. O atendimento tem sido feito pela prefeitura e os medicamentos comprados com recursos próprios.

Cláudio Pequeno da Silva Apurinã, gerente logístico do Pólo-Base de Boca do Acre, diz que falta repasse de verba de Brasília. Desde o início do ano faltam recursos para farmácia, supermercado e combustível. Os funcionários receberam o pagamento de três meses no dia 25 de setembro e deveriam receber mais dois meses no dia 25 de outubro.Para pagamento dos fornecedores, o convênio está pedindo que o pólo leve notas fiscais para Rio Branco, mas alguns comerciantes estão se recusando a dar nota antes de receber. "Sempre houve atraso de dois, três meses, mas neste ano a situação piorou muito", afirma Cláudio.

Os banheiros construídos na aldeia, dentro do projeto de saneamento básico, não funcionam, porque a bomba que deveria puxar água do poço queimou logo depois da inauguração em setembro. As mulheres continuam descendo a ladeira para pegar água no igarapé. Outro projeto não concluído é o centro cultural, no chapéu de palha, que deveria ter sala de reunião e loja de artesanato.

Nas duas escolas de 1ª- a 4ª- séries, mantidas pela prefeitura, falta material, reforma e mais qualificação para os três professores, dois indígenas. Os jovens estudam na cidade e atravessam o rio numa catraia cedida pela prefeitura, mas neste semestre dez alunos ficaram sem transporte para as aulas noturnas porque não tem catraieiro neste período.

Os apurinãs querem reformar as casas utilizando madeira das margens do rio Purus, pensam em retirar árvores que são levadas pelas chuvas de inverno. Pretendem tirar madeira branca, como o mulateiro, porque é proibido tirar mogno, cerejeira e castanheira. E acham que será necessário contratar uma serraria para beneficiar a madeira. Necessitam da autorização do Ibama, que solicita um projeto especificando quantidade de metros cúbicos e local de onde vai ser tirada a madeira.

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