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Comunicadores indígenas lutam contra a desinformação nas redes sociais

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Autor: Ana Raquel Lelles
02 de Set de 2024

Comunicadores indígenas lutam contra a desinformação nas redes sociais
Com a internet como aliada, indígenas assumem protagonismo com a disseminação de informação de qualidade para dentro e fora do território

Ana Raquel Lelles
02/09/2024 18:26, atualizado 02/09/2024 20:20

"No Brasil, se você não tem sangue indígena nas veias, tem nas suas mãos."

Em lutas políticas que envolvem território, identidade e liberdade, a comunicação tem sido utilizada como arma importante na defesa dos povos originários, transformando os comunicadores em verdadeiros guerreiros digitais. Usando a tecnologia a seu favor, indígenas vêm combatendo a desinformação dentro e fora das comunidades com conteúdos apurados e adaptados para a audiência. Com apoio dos algoritmos, as postagens on-line chegam a um público amplo, que inclui tanto aliados quanto aqueles que pouco conhecem suas causas.

O trabalho se intensificou, sobretudo, durante a pandemia, período em que houve a necessidade do compartilhamento de informações corretas para salvar vidas. Apesar da distância física, em que rios e quilômetros separam os territórios, a internet mantém os povos indígenas conectados e informados.

Conectados

A internet já está presente nos territórios dos povos originários. Prova disso é o crescimento de domicílios que possuem acesso à internet na Região Norte, a mais indígena do país. Em 2009, o número era de 24% e, 11 anos depois, o volume chegou a 83%, conforme pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

O plano do Ministério dos Povos Indígenas, criado há cerca de dois anos, é aumentar essa abrangência. Por meio do programa Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), o governo federal implementou mais de 120 pontos de conexão digital com foco na população indígena. Agora, aposta no projeto Aldeia Conecta para ampliar o acesso.

Os dispositivos móveis se destacam nesse cenário porque, segundo pesquisa de 2020 da CGI.br, 65% dos moradores da Região Norte têm smartphones como meio exclusivo de comunicação on-line.

Além disso, operadoras de telefone no Brasil ajudam a tornar as redes sociais em um modelo econômico de comunicação. As empresas oferecem planos em que o envio de mensagens de texto, imagens, vídeos e áudios é ilimitado e não implica consumo da franquia de dados.

Isso significa que o WhatsApp, por exemplo, é um meio recorrente de troca de informação. É também via essas plataformas que chegam aos territórios a desinformação, que gera impactos reais na vida das pessoas.

"Quando os parentes precisavam ser vacinados, surgiu fake news de que quem tomasse a vacina iria se tornar jacaré. Muitos povos não queriam se vacinar por acreditar, conforme as crenças culturais, que, de fato, iriam se tornar jacaré. Isso causou um rebuliço nos territórios indígenas, e quem teve que atuar fomos nós, como educadores e comunicadores indígenas"
Tarisson Nawa, jornalista e mestre em antropologia social na Universidade Federal do Rio de Janeiro

O trabalho de informar a população não é fácil. Os comunicadores indígenas não fazem uma mera tradução da notícia em português para as línguas maternas. Esses profissionais reestruturam completamente o conteúdo para deixar a mensagem clara e acessível. O resultado, na prática, é a produção de podcasts em várias línguas maternas, cartilhas e até carros de som para levar informação de qualidade à comunidade.

Para angariar as informações, um sistema colaborativo é mantido nos bastidores: representantes da comunidade enviam o conteúdo para um centro e, após uma checagem dos fatos, as informações são devolvidas ao território. Essa estratégia é usada pela Mídia Indígena, que é o primeiro coletivo brasileiro de comunicadores desse grupo, e pela Rede Wayuri, que atua na região do Rio Negro, no Amazonas.

Quando a comunicação ultrapassa as fronteiras das comunidades, a ação vai além de corrigir termos e frases racistas. O conteúdo produzido pelos guerreiros digitais se torna uma ferramenta de conscientização sobre a luta e a importância dos indígenas para o Brasil, especialmente na preservação dos biomas e na promoção de uma agricultura sustentável.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

"Vivemos um momento de mudanças climáticas, em que outros países olham com muita firmeza para o assunto. Os territórios dos povos originários estão alcançando um 'valor verde', que está sendo revertido em crédito de carbono e outras iniciativas. Há desinformação sobre os indígenas desmatarem, mas esses territórios têm sido ilhas em meio aos desmatamentos."
Cristian Wari'u, comunicador indígena, YouTuber, design e influenciador

Rede Mídia Indígena

O desejo de retribuir levou o jornalista Erisvan Guajajara a criar o primeiro coletivo de comunicadores indígenas do Brasil, o Mídia Indígena. Desde 2017, o grupo trabalha com a produção de conteúdos, com foco na democratização da informação dentro e fora dos territórios. Além do digital, a rede investe na profissionalização de colaboradores, com oficinas e eventos.

"A comunicação é uma ferramenta de luta, visibilidade e ocupação de espaço para dizer que sempre estivemos aqui. As pessoas estão nos escutando e aprendendo a conviver com os povos indígenas tanto no território quanto em contexto urbano."
Erisvan Guajajara, fundador da Mídia Indígena

Com mais de 300 integrantes de várias etnias espalhados pelo Brasil, a Mídia Indígena conta com uma "coordenação" composta por 10 membros que orientam os parceiros na criação de conteúdo. O grupo tem duas bases físicas, uma em Lagoa Quieta (MA) e outra em Imperatriz (MA), onde mantém equipamentos como câmeras e computadores com softwares de edição.

O objetivo do coletivo é ter, pelo menos, um comunicador em cada povo indígena no Brasil. "Assim, conseguimos o máximo possível de contato para dar visibilidade a todos", diz Erisvan Guajajara.

Em constante diálogo via WhatsApp, os representantes se dedicam a acompanhar e relatar tudo o que acontece nos territórios: eventos culturais, avanços econômicos, ataques e atos de protesto sociopolíticos. Antes da divulgação nas redes sociais, há uma revisão da informação com lideranças e anciãos. Esse cuidado também se estende à checagem de fake news, garantindo que a informação seja verificada para, depois, desenvolver estratégias eficazes de comunicação.

"Procuramos métodos distintos para criação de conteúdo relacionado a cada aspecto abordado. Dessa forma, explicamos de forma objetiva e clara para que todos consigam entender qual é o perigo que os temas podem representar aos territórios indígenas", pontua Erisvan Guajajara.

O trabalho se reflete em carrosséis ou em vídeos curtos para Reels no Instagram, entre outras plataformas. Para alcançar um público ainda mais amplo, o grupo frequentemente conta com o apoio de celebridades, como a cantora Anitta, que é uma das maiores artistas brasileiras, no âmbito nacional e internacional.

"A gente tá conseguindo chegar nas pessoas e, ao mesmo, tempo levar a informação da ponta para o mundo"
Erisvan Guajajara, fundador da Mídia Indígena

Prática que salva vidas

Durante a pandemia, a Mídia Indígena desempenhou papel crucial ao levar informações sobre a Covid-19 para territórios isolados, seja por falta de acesso à internet, barreiras de linguagem ou distância física. Com o intuito de salvar vidas, foi traçado um plano para conscientizar sobre a crise global e divulgar a situação dessas comunidades. Os comunicadores usaram vídeos, podcasts e conteúdos nas redes sociais.

"Havia lugares em que não sabiam o que era Covid, nem como se cuidar. Tivemos a ideia de montar um roteiro de podcast com informações em português e entregar para pessoas traduzirem para as línguas indígenas. Quem não tivesse um bom acesso à internet, poderia divulgar no rádio ou compartilhar o áudio"
Erisvan Guajajara, fundador da Mídia Indígena

Essa ação durante a pandemia recebeu reconhecimento internacional, ressaltando a importância do trabalho da Mídia Indígena.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

Com o foco nas eleições de 2024, o grupo mapeou os políticos indígenas no Brasil. A ideia é divulgar as candidaturas e, também, apoiar os postulantes. A Mídia Indígena organiza oficinas e palestras sobre como usar a comunicação digital para ter mais destaque na corrida eleitoral.

Para participar da campanha, faça seu cadastro aqui.
Protagonismo

Com a luz do flash voltada para as comunidades, a Mídia Indígena divulga depoimentos de lideranças a fim de "mostrar que os protagonistas estão no território e sabem contar a história para se defender". A ação inclui a postagem de vídeos com entrevistas, que podem ter algum erro de gravação ou de gramática na norma culta do português. O grupo também publica imagens violentas, como ataques e combates contra invasores.

Mais do que a presença em telas digitais, o coletivo mostra a atuação das lideranças na mídia para a própria comunidade, como uma valorização do trabalho. Isso é feito por meio de exposições nos territórios, com slideshows, e a distribuição de cartilhas com depoimentos.

"Escutar as bases é primordial. Os nossos mais velhos, as nossas lideranças, são a nossa biblioteca de conhecimentos"
Erisvan Guajajara, fundador da Mídia Indígena

Além de fortalecer a presença nas comunidades e no ambiente on-line, outra forma de protagonismo é estar em Brasília. Assim, o próximo passo da Mídia Indígena é estabelecer uma base na capital federal.

Rede Wayuri de Comunicação

O nome da Rede Wayuri de Comunicação reflete a missão do grupo: a palavra na língua nheengatu significa trabalho coletivo. Com atuação principalmente na região do Rio Negro, no estado do Amazonas, o projeto luta contra a desinformação dentro dos territórios com produções em áudio, em rádios, boletins informativos e ações presenciais.

Como a área é rodeada por rios, a troca de informações ocorre principalmente on-line, por meio do WhatsApp. No entanto, as atividades são feitas presencialmente, com sede em São Gabriel da Cachoeira. Eles também têm comunicadores em Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e outras cinco microrregiões.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

A rede está ligada à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e conta com assessoria e parceria do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), além de apoio financeiro da Fundação Rainforest, da Noruega, do Fundo Talmapais, do cantor Bera e da União Europeia.

"Todos nós somos indígenas. Temos os indígenas urbanos e os indígenas que não deixaram a comunidade. Tem que abraçar a causa de todo mundo. Somos um povo só e lutamos por uma causa só"
Cláudia Wanano, jornalista e radialista da Rede Wayuri de Comunicação

Adaptação para a realidade indígena

A Rede Wayuri surgiu da necessidade de uma nova estratégia de levar informação clara, apurada e acessível para as comunidades. Ao contrário dos departamentos de comunicação de instituições que atuam na região, cuja linguagem técnica é pouco acessível, o grupo foca na adaptação da mensagem para a realidade local.

Para desenvolver essa estratégia, foi necessário um diagnóstico do problema que afetava o estado do Amazonas. Em 2016, uma onda de desinformação surgiu na forma de promessas de desenvolvimento, com a intenção de explorar recursos minerais e invadir terras. Como defesa, os boletins informativos impressos precisavam de um aliado, e a solução proposta pelos comunicadores da Foirn foi criar um novo sistema que integrasse áudio e internet.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

No ano seguinte, 16 representantes de etnias do Rio Negro, juntamente com a radialista Claudia Wanano, planejaram a estrutura da Rede com o Foirn. A equipe também participou de oficinas de capacitação, com as jornalistas Renata Tupinambá e Letícia Leite, que era do podcast Copiô Parente, em São Gabriel da Cachoeirinha. Após o treinamento, cada membro retornou para sua comunidade com um celular, uma cartilha com orientações e "tarefas" que deveriam cumprir para manter a prática.

"Sem pressionar e colocar padrões, deixamos cada um criar o próprio roteiro, pensar na própria temática, ou como gostaria de trazer a informação: seja na língua mãe ou em poesia, música. Deixamos eles livres", conta Cláudia Wanano, jornalista e radialista da Rede Wayuri de Comunicação.

Para superar as barreiras físicas, tendo em vista que o transporte é feito por barco, a solução foi utilizar a internet, especificamente o WhatsApp, como meio de troca de informações. O contato com os ouvintes também ocorre pelo aplicativo, em que grupos formados por lideranças da região e imprensa recebem links para podcasts, rádio on-line e informativos.
A importância da comunicação na pandemia

Todo este trabalho ganhou outro nível de importância quando, em outubro de 2020, na pandemia, surgiu o programa de rádio Papo da Maloca. A produção compartilhava informações apuradas sobre saúde e a Covid, além de abrir um espaço para as lideranças indígenas falarem dos trabalhos.

"Além do fique em casa, outra missão foi incentivar a vacinação e explicar que era para eles melhorarem. Orientamos e tiramos dúvidas ao lado do pessoal da Fiocruz, e, simultaneamente, um comunicador já ia traduzindo para a língua materna"
Cláudia Wanano, jornalista e radialista da Rede Wayuri de Comunicação

O processo envolveu duas etapas. O primeiro passo foi a adaptação das informações sobre a doença, transformando o linguajar técnico dos Profissionais de Saúde "em roteiros com linguajar mais popular". Em seguida, o material era traduzido para a língua materna.

O trabalho não é simples, pois algumas palavras técnicas da medicina ou do português não existem no idioma nativo. Os comunicadores precisavam consultar os anciões para encontrar o significado mais próximo possível para levar a informação correta.

Além das atividades digitais e na rádio, a Rede Wayuri usou carros de som para distribuir orientações nas ruas. Esse conjunto de ações recebeu tributo do Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project (WJP). O grupo também ganhou o título de "heróis da informação sobre o coronavírus", em uma lista global do Repórteres Sem Fronteiras.

Aliás, devido ao sucesso de audiência e ao impacto positivo, o programa Papo da Maloca, que inicialmente estava previsto para ser temporário, permanece no ar até hoje, toda quarta-feira, das 10h às 12h, na rádio FM O Dia, e, na parte da tarde, das 15h às 17h, na rádio On-line Wayuri.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais
Ameaças digitais

Com os avanços dos pontos de internet em territórios indígenas, a luta da Rede Wayuri ganha um novo capítulo. Agora, o desafio inclui a conscientização sobre segurança digital, fake news e ameaças digitais, que podem se tornar físicas. A exposição nas redes gera uma vulnerabilidade, que, sem instrução, pode resultar em prejuízos.

Assim como na pandemia, a Rede está montando sessões na rádio e podcasts sobre o tópico, além de cartilhas nas línguas maternas. O próximo passo é orientar as comunidades, presencialmente, sobre os cuidados no ambiente digital. As viagens também têm o propósito de ouvir os desafios do território para criar materiais esclarecedores sobre o assunto.

Cristian Wari'u

Desde a infância, Cristian Wari'u foi encorajado a ser um verdadeiro "guerreiro" em defesa de sua cultura. Filho de duas lideranças indígenas, o comunicador usa armas diferentes dos anciões: há 6 anos, as redes sociais vêm sendo as ferramentas dele de combate a preconceitos e estereótipos sobre as comunidades.

Nascido em Campinápolis (MT), o youtuber é do povo Xavante com descendência do povo Guarani, cujas línguas e tradições são bastante distintas. Em suas produções, ele combina essa rica bagagem cultural hereditária com as próprias experiências, criando conteúdos educativos que impactam diversos públicos.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

Como o trabalho de Cristian pode ser o primeiro contato de muitos brasileiros com o conteúdo digital indígena, o comunicador usa fatores de identificação e informação para que o espectador continue consumindo esse nicho.

A estratégia surgiu ainda no tempo da escola, quando precisou responder a perguntas racistas e estereotipadas sobre a própria cultura. A ideia foi informar os colegas, por meio de conversas casuais, até que as questões perdessem um tom racista e se tornassem uma troca.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais

A união dessa tática a um repertório de um árduo consumidor de audiovisual gerou a criação do próprio canal no YouTube. Hoje, com um celular, um editor de imagem e vídeo e um drive, o comunicador é videomaker, social media, influencer e designer.
Estratégia do polvo

O Brasil tem 300 povos indígenas, por isso não tem como resumir ou generalizar todas as culturas em só um conceito. O nicho digital de comunicadores indígenas se mostra essencial para abordar cada aspecto individual. Assim, a diversidade de conteúdos disponível na internet aumenta, permitindo uma representação mais rica e respeitosa.

O coletivo monta um sistema de "polvo", em que no centro fica um tópico e os tentáculos representam os assuntos derivados, que são tradições, valores, línguas e histórias, entre outros. Tendo em mente a rapidez da internet e a necessidade de um fator viral das produções, Cristian foca conteúdos nos "tentáculos do polvo" para que o tema chegue a mais pessoas.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais
Saúde mental

Comentários de ódio são parte do trabalho de qualquer criador de conteúdo. No entanto, muitos passam do limite, e Cristian relata que já recebeu ataques que até questionam a identidade dele. Apesar de ter crescido com este "letramento do que é ser indígena", o youtuber ainda pontua que essa não é a realidade da maioria. Em vários casos, muitas comunidades são mais "sensíveis" ao hater por terem sido dizimadas, sobrando apenas uma "pintura ou o nome como lembrança", durante o processo de colonização.

É preciso focar o bem-estar tanto dos criadores de conteúdo quanto dos "parentes" - termo usado entre povos para se referir uns aos outros. "A nossa presença em redes sociais também alimenta a autoestima de muitos indígenas que, às vezes, não se sentiam representados", pontua Cristian.

Como um cuidado à saúde mental de estudantes, a Universidade Federal de Brasília (UnB) tem uma Atlética Acadêmica Indígena, da qual Cristian, que cursa Comunicação Organizacional, faz parte. A ideia da instituição é proporcionar um espaço seguro e de lazer no decorrer da graduação, incentivando a socialização e a criação de uma rede entre os alunos.

Para se inscrever, acesse aqui.

Tarisson Nawa

Foi um longo caminho até Tarisson Nawa se tornar o primeiro jornalista indígena do Acre, com formação na Universidade Federal do Pernambuco. O comunicador continua investindo na trajetória acadêmica, com mestrado em Antropologia Social, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo objetivo é vinculado ao povo e à memória; e um doutorado em Comunicação, na Universidade de Brasília, em que pesquisa os jornalistas indígenas e as práticas profissionais.

O jornalista é o primeiro da família nuclear a ter uma graduação, o que é um grande orgulho para ele e a comunidade. Esse processo veio na infância. Nascido no extremo oeste do Brasil, em Mâncio Lima (AC), migrou aos 13 anos para Rio Branco, com o objetivo de estudar, já que o ensino na cidade natal era precário. Na capital acriana, completou o ensino médio e seguiu na academia.

"Quanto mais diplomação, mais eu consigo contribuir com os meus parentes fora do território, porque é algo que o branco valoriza. Eu sou mestre, faço doutorado, e pessoas já criam um certo respeito, e assim eu posso contribuir para amplificar as vozes dos meus parentes"
Tarisson Nawa, jornalista e mestre em Antropologia Social, na Universidade Federal do Rio de Janeiro

O poder da educação

A educação sempre percorreu a história da família de Tarisson. Os avós dele saíram da região do Rio Azul, em Mâncio Lima, em busca de melhores condições de estudo. A área tem resquícios de influência do ciclo da borracha, em que muitas pessoas ainda trabalham em regimes análogos à escravidão.

Assim, o jornalista defende a educação como empoderamento. No entanto, não é uma luta fácil, já que, em muitos territórios, há uma falta de profissionais diplomados conforme sistema não-indígena para dar aulas, o que faz com que a maioria trabalhe apenas com a graduação do ensino médio.

Kelly Boni (@kellyboneguajajara)Arte - Guerreiros Digitais
Transformação

Com a chegada da internet, o acesso ao direito da informação e a conexão reorganiza os territórios. Apesar do receio de uma possível perda da cultura, o resultado foi o contrário. As produções de conteúdo indígena na pandemia geraram uma valorização, como explica Tarisson.

Assim como outros comunicadores, o jornalista atuou na luta contra a desinformação entre territórios com a criação de cartilhas informativas para agregar aos povos isolados.

Aliás, durante esse período, muitos parentes voltaram para os territórios e, assim, tiveram mais contato com as tradições. Foi então que as técnicas ancestrais de produção de medicamentos e cuidados ganharam protagonismo, ao lado das orientações contra a Covid.

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