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Começa o terceiro grau indígena

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: ORLANDO MORAIS
10 de Jul de 2001

Na primeira universidade para índios estão matriculados 200 representantes de 35 etnias

Foi inaugurada ontem em Barra do Bugres (a 160 quilômetros de Cuiabá) a primeira faculdade de ensino superior para comunidades indígenas da América Latina. A partir deste mês, 200 representantes de povos indígenas de 35 etnias de todo o Brasil começam o curso de Licenciatura Plena para a formação de professores no campus de Barra do Bugres da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).Ao contrário de outros cursos de magistério, o programa curricular da Faculdade Indígena será voltado para a realidade sócio-econômica e cultural de cada etnia. De acordo com o reitor da Unemat, Arno Rieder, a proposta deve servir de referência inclusive para eventuais mudanças no sistema educacional brasileiro.Na Escola de 3o Grau Indígena, como está sendo chamada, a primeira discussão será sobre as teorias de concepção do universo. Eles terão aulas de física e astronomia, mas a concepção de cada povo será trazida para a sala de aula e respeitada, diz o coordenador do curso, Elias Januário. Os indígenas também terão aulas de Ciências Sociais, Matemática, Línguas e Literatura, Artes e Natureza.Segundo Elias Januário, o projeto começou a ser pensado no governo do Estado há 4 anos, com o objetivo de garantir o que manda a Constituição Federal de 1988: que cada povo indígena tem o direito a cursos específicos, vinculados a sua história e cultura.Vinte professores, de 14 aldeias, ministrarão as aulas. De acordo com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Glênio Alvarez, vários Estados brasileiros, como Roraima e Pará, estão interessados em realizar projetos semelhantes. Com o curso específico, serão gastos R$ 3 milhões pela Secretaria Estadual de Educação.A formatura dos primeiros professores indígenas do Brasil está programada para acontecer no mês de julho de 2005. Até lá, os indígenas terão aulas em regime seriado especial nos meses de janeiro e julho de cada ano. Das 35 etnias, 22 são de Mato Grosso.As aulas acontecerão durante oito horas por dia, de segunda-feira a sábado. Durante o período de aulas, os alunos e alunas ficam hospedados na Escola Agrícola de Barra do Bugres. Nos outros meses do ano, os professores da Unemat vão acompanhar os índios-professores nas aldeias, onde vão colocar em prática o que aprenderam.GRAVADOR DE PROMESSAS – Inúmeras autoridades compareceram ontem a Barra do Bugres para a aula inaugural, ministrada pelo líder indígena Marcos Terena e pelo governador Dante de Oliveira. Cada uma que discursava tinha a voz gravada por diversos índios que impunham gravadores junto às caixas de som.Desconfiados da benevolência de tanto homem branco, o que eles mais queriam ouvir era que o curso não seria abandonado ou interrompido tal como aconteceu no Projeto Tucum, financiado pelo Banco Mundial e que levou o Magistério a 240 índios.Mesmo não tendo sido convidado pelo protocolo governamental, o bororo Félix Adugo Enawu, representante dos novos acadêmicos, fez questão de dizer que, uma vez terminado esse curso, seria conveniente que o Estado abrisse cursos de pós-graduação e de graduação em outras áreas do conhecimento, como Direito, Economia e Saúde.

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