VOLTAR

Começa conversa entre lideranças indígenas e gestores

Página 20
Autor: Andréa Zílio
01 de Mar de 2007

Depois de libertar a equipe de técnicos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), detida desde a última segunda-feira na aldeia Nova Esperança, índios yawanawá participaram ontem de encontro com dirigentes de órgãos do governo estadual e federal para falar da insatisfação com a saúde indígena do Acre, agilizando assim o planejamento de reuniões que a Funasa alega ter programado para este ano.

O líder do povo yawanawá, o cacique Biraci Brasil, conta que a equipe que foi detida na aldeia, não sofreu maus-tratos e manteve uma rotina de trabalho no local, realizando atendimento aos índios para suprir pendências em seus trabalhos, e mesmo com um discurso mais apaziguador, confirma que a atitude de "pedir" a permanência da equipe na aldeia foi uma forma de mostrar uma reação pedindo a atenção da Funasa. "Nós pedimos para eles ficarem lá, porque precisávamos fazer com que a Funasa nos ouvisse a partir de uma reação nossa", diz Biraci.

Não é a primeira vez que os indígenas do Acre se manifestam sobre o atendimento na saúde de seu povo, mas com certeza a reação dos yawanawá mostra que a tolerância para tanta insatisfação está se esgotando. Eles comparam o atendimento oferecido a sua gente, como o mesmo dado na periferia das cidades, com a grande diferença de estarem mais longe das instituições. O próprio trajeto a aldeia Nova Esperança exige percorrer 80 quilômetros de Tarauacá até a margem do rio Gregório e depois seguir nele por um dia e meio.

"Somos um povo de paz, sempre buscamos conversar sobre tudo e somos abertos a trabalhos em parceria. Não íamos e não maltratamos ninguém, mas temos de ser ouvidos, porque a forma com que a saúde indígena vem sendo tratada não funciona como deveria. Estão tratando do índio como as pessoas na periferia, mas o pior é que estamos muito mais longe dos governantes", diz.

O pedido de atenção foi ouvido e atendido e a reunião com os yawanawá, que levou também ao auditório da Funasa o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Francisco Apurinã, o assessor da Organização dos Povos Indígenas (OPI), Roque Yawanawá, a representante da Organização das Mulheres Indígenas, Letícia Yawanawá, entre outros, fortaleceu o compromisso de uma agenda com diversas reuniões com todas as lideranças das 14 etnias do Estado.

Hora de corrigir - Francisco Pianko, secretário dos Povos Indígenas (SEPI), reconhece a deficiência na saúde indígena e de que a reclamação do povo yawanawá é compartilhada também pelos outros povos. "Está faltando integração dos órgãos que trabalham a saúde indígena. O próprio governo precisa, dentro da Secretaria de Saúde, criar um instrumento para acompanhar isso mais de perto. Não podemos dizer se o dinheiro para o atendimento à saúde indígena é suficiente ou não, porque precisamos conhecer as deficiências, nos organizarmos e trabalhar essas necessidades", comenta.

O coordenador regional da Funasa, José Carlos, diz que a instituição irá rever o cronograma de trabalho e suas equipes e tentar solucionar os problemas junto às comunidades indígenas, e que as reuniões que estão programadas para acontecer nos municípios, em que as lideranças indígenas serão ouvidas, ajudará nessa tarefa.

Letícia Yawanawá fala que em uma reunião entre parentes, ouviu da parteira Luíza Yawanawá a seguinte frase: "Estamos no meio da floresta gritando por socorro sem ninguém ouvir". Ela afirma que o pedido de seu povo é o pedido de todos os índios do Acre, que é a saúde para o índio, para o ser humano. Se a capacidade do homem de racionalidade é seu grande atributo, as lideranças mostram que têm muito a falar e os dirigentes de órgãos mostraram ontem que querem ouvir. Então, está aberto o diálogo.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.