Com Samarco, lucro da Vale cai 43%

Com Samarco, lucro da Vale cai 43%
Após desastre ambiental em Mariana, mineradora faz provisão de R$ 3,7 bilhões

RAMONA ORDOÑEZ
ramona@oglobo.com.br

O rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, em novembro do ano passado, atingiu em cheio os resultados da Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, que tem o controle da empresa junto com a BHP Billiton. O lucro líquido da mineradora brasileira foi de R$ 3,585 bilhões no segundo trimestre, 43% abaixo dos ganhos de R$ 6,311 bilhões dos três primeiros meses do ano e 30% menor do que em igual período em 2015. A queda se deve, principalmente, a uma provisão de R$ 3,733 bilhões referente à Samarco.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse, em conferência com analistas ontem, que a questão da Samarco está bem encaminhada.
- O acordo que foi feito com a Samarco e os diversos pares oferece uma solução concreta, efetiva e de longo prazo para remediar e compensar os impactos da ruptura da barragem - destacou.
No primeiro semestre, os ganhos da mineradora somaram R$ 9,896 bilhões. Em igual período do ano anterior, ela havia apurado prejuízo de R$ 4,395 bilhões.
Os resultados operacionais no segundo trimestre foram considerados positivos pelo mercado.
- A Vale está numa tendência de recuperação, conseguindo se colocar dentro de um cenário melhor do que estava há dois trimestres, com redução de custos e beneficiada também com o aumento dos preços do minério de ferro. O inesperado foi o impacto do repasse de recursos para a Samarco - avaliou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora.
A dívida bruta totalizou US$ 31,814 bilhões em 30 de junho, registrando um ligeiro aumento em relação aos US$ 31,470 bilhões de 31 de março de 2016 .
Murilo Ferreira destacou que foram atingidos recordes de produção no minério de ferro em Carajás, em níquel e cobre. SEM DIVIDENDOS No segundo trimestre, a Vale produziu 86,8 milhões de toneladas de minério de ferro, 12% superior ao primeiro trimestre, quando foram 77,5 milhões de toneladas. No semestre, a produção acumulada foi de 164,3 milhões de toneladas, queda de 1,4% em comparação a igual período do ano passado.
A Vale não vai pagar dividendos aos acionistas, independentemente de obter resultados positivos, afirmou o diretor de Finanças e da Vale, Luciano Siane:
- A companhia permanece 100% focada na redução da sua dívida, essa é a nossa prioridade principal. Nós geramos um fluxo de caixa positivo e conseguimos amortizar alguns empréstimos, apesar do efeito contrário. Enquanto a gente não tiver clareza e evidência de que teremos um balanço sólido para enfrentar qualquer cenário de preços de commodities, não vamos antecipar declarações a respeito de dividendo.
O presidente da Vale informou que, até o fim do ano, a companhia deverá concluir três operações de venda de ativos. Sem entrar em detalhes, Murilo disse que na próxima semana será anunciada a primeira transação, que está em fase de ajuste final de documentação.
- Para este terceiro trimestre, esperamos concluir duas transações e temos uma terceira que deve ficar para o último trimestre do ano. Felizmente, as coisas estão dentro da agenda de trabalho que havíamos fixado, e estamos em um cenário positivo - disse Murilo.
A mineradora planeja vender ativos essenciais e não essenciais para atingir US$ 15 bilhões até o fim de 2017.
A Vale estima fechar, nas próximas semanas, acordo com a japonesa Mitsui para o negócio que inclui a mina de carvão em Moatize, em Moçambique, e o corredor logístico integrado Nacala, usado para escoamento dos produtos. O acordo prevê que a Mitsui compre fatia de 15% na mina de carvão e de 50% em Nacala. O valor do negócio é estimado em US$ 2 bilhões a US$ 2,7 bilhões.
- É um exagero dizer que está ocorrendo uma revisão geral do acordo. Estamos promovendo ajustes e no momento adequado será trazido ao público - explicou Siane.
O negócio entre as duas companhias começou a ser negociado em 2014 e previa a venda pela Vale à japonesa de uma fatia em Moatize e no projeto para escoamento da produção.

O Globo, 29/07/2016, Economia, p. 22

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