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Com ressalvas, EUA liberam extração de petróleo no Ártico

FSP, Mundo, p. A9
12 de Mai de 2015

Com ressalvas, EUA liberam extração de petróleo no Ártico
Autorização do governo à Shell impulsiona concorrência global em região ambiental e geopoliticamente delicada
Ambientalistas alertam para consequências de acidente em área remota; pressão da indústria é antiga

Do "New York Times", em Washington de São Paulo

O governo Barack Obama concedeu nesta segunda (11) licença condicional à Shell para perfurar poços de petróleo e gás natural no oceano Ártico a partir de julho.
A decisão é uma vitória do setor petroleiro após anos de pressão para operar no mar de Chukchi, uma extensão do oceano Ártico entre o Alasca e a Rússia onde se estima haver grandes reservas de petróleo e gás natural.
A região ártica --estratégica em termos ambientais, econômicos e geopolíticos-- abriu nos últimos anos nova frente de disputa entre Rússia (que mantém vários projetos locais), países do norte europeu (sobretudo Noruega, que tem a maior atuação na área), EUA e, mais recentemente, China, por meio de parcerias internacionais.
A nova decisão americana impõe um revés aos ambientalistas, que vinham pressionando o governo para rejeitar as propostas no Ártico, e lança ambiguidade sobre o legado ambiental de Obama (leia análise nesta página).
O argumento central é que, por causa do isolamento da área, um acidente ali poderia ter consequências piores que as do vazamento do Golfo do México em 2010, quando, após a explosão de uma plataforma, 11 pessoas morreram e milhões de litros de petróleo oram derramados no mar.

CONDIÇÕES

A aprovação ainda está condicionada a que a Shell receba outras licenças pendentes, referentes à fauna local e ao descarte de dejetos.
"Enquanto isso, vamos continuar a testar e preparar nossos prestadores de serviços, ativos e planos de contingência", afirmou Curtis Smith, porta-voz da Shell.
O governo Obama inicialmente havia concedido à Shell uma licença para começar a perfurar no oceano Ártico no terceiro trimestre de 2012. No entanto, as primeiras incursões da empresa se viram prejudicadas por numerosos problemas operacionais e de segurança.
Duas das plataformas de petróleo encalharam e tiveram de ser rebocadas para águas mais seguras.
Em 2013, o Departamento do Interior concluiu que a Shell falhara em uma ampla gama de tarefas operacionais básicas, como a fiscalização de subcontratadas encarregadas de funções essenciais.
Em relatório, criticava asperamente a gestão da Shell, que admitiu estar despreparada para os problemas encontrados ao operar no implacável ambiente do Ártico.
A diretora do Serviço de Administração de Energia Oceânica do Departamento do Interior afirmou em comunicado que a nova decisão foi "ponderada" e considerou "os recursos ambientais, sociais e ecológicos da região".
"Estabelecemos altos padrões para a proteção desse ecossistema e de nossas comunidades árticas", escreveu Abigail Ross Hopper.

Decisão expõe dualidade de Obama em país polarizado

Raul Juste Lordes de Washington

A agenda verde de Obama é mais um reflexo da dificuldade de se ter um presidente de consenso em um país com uma política cada vez mais polarizada. Ao tratar de ambiente, Obama frequentemente irrita sua base de apoio sem conquistar adesões entre a oposição republicana.
Apoiado pela minúscula (mas barulhenta) esquerda ambientalista americana nas eleições de 2008, Obama logo se viu com a recessão herdada do governo de George W. Bush (2001-2009) e com uma taxa de desemprego que chegaria a 10% em seu primeiro ano na Casa Branca.
Em nome da geração de empregos, o democrata foi bastante flexível em permitir a expansão da exploração de gás de xisto pelo sistema de fraturação hidráulica. Ambientalistas criticaram a permissividade da gestão Obama com as empresas petrolíferas, sempre mais próximas da oposição republicana.
Para equilibrar a agenda, Obama destinou bilhões de seu pacote de recuperação econômica em 2009 e 2010 para empresas que investissem em energias renováveis, colecionando alguns sucessos (a montadora de carros elétricos Tesla, que agora investe pesado em baterias) e fracassos (Solyndra, fabricante de painéis solares, faliu, mesmo com empréstimo federal de US$ 527 milhões).
Mas o boom energético a partir da fraturação hidráulica virou realidade, o preço da gasolina caiu à metade e deixou o país bem menos dependente do petróleo do Oriente Médio --permitindo o diálogo com o Irã, que incomoda os aliados Arábia Saudita e Israel e parte do eleitorado judeu democrata.
Por outro lado, sabendo que a maioria do Congresso é contrária a políticas que envolvam custos para se reduzir a emissão de gases (e que mais da metade da população americana não acredita no aquecimento global), Obama passou por cima do Congresso e assinou uma ordem presidencial para chegar a um inédito pacto com a China em novembro passado.
Em outro momento, o Obama ambientalista vetou, em fevereiro, a ampliação do oleoduto Keystone XL, que corta o país da fronteira com o Canadá ao golfo do México, mesmo depois de aprovada pela Câmara e pelo Senado, sob controle da oposição.
Mesmo sendo uma decisão celebrada pelos ambientalistas e protelada pelo Departamento de Estado e pela Agência de Proteção Ambiental, Obama evocou a economia para vetar. "O oleoduto não cria muitos empregos", disse em uma entrevista coletiva.
O equilíbrio entre reanimar a economia americana e preservar o ambiente ainda desafia a coerência obamista.

FSP, 12/05/2015, Mundo, p. A9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/218998-com-ressalvas-eua-liberam…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/218997-decisao-expoe-dualidade-d…

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