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'Com obras no prazo, não dependemos de chuva', diz Alckmin

FPS, Cotidiano, p. C3
21 de Fev de 2015

'Com obras no prazo, não dependemos de chuva', diz Alckmin
Governador diz que, por ora, nada indica a necessidade de rodízio; fevereiro tem marca recorde de chuva nas represas
Chuvas do início do mês ainda estão longe de afastar crise; sistema Cantareira tem quadro crítico na Grande SP

Fabrício Lobel de São Paulo Venceslau Borlina Filho Enviado Especial a Limeira

O volume total de chuvas em fevereiro nos seis reservatórios da região metropolitana de SP já superou a média histórica para todo o mês.
Diante desse cenário, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que, por ora, não acha necessária a implantação de um rodízio de água.
Segundo ele, se as obras em andamento para interligar os mananciais avançarem conforme o planejado, a ampliação do volume de chuvas não seria mais primordial para a definição dessa medida.
"Estamos trabalhando para não fazer o rodízio. Nada indica hoje que precisa ser feito [rodízio]. Se as obras todas forem entregues no prazo, nós não estamos dependendo de chuva", disse, em Limeira.
O governo paulista aguardará até o fim de março para optar ou não por um rodízio.
Até lá, como a Folha revelou nesta semana, espera que o sistema Cantareira, o principal da Grande SP, alcance ao menos 14% da capacidade.
Esse volume, somado às obras, seria suficiente para atravessar todo o período seco de 2015 sem um rodízio na região metropolitana de SP.
Ontem (20/2) o Cantareira operou com 10% de sua capacidade. O índice já contabiliza duas cotas do volume morto, que é a porção de água que fica abaixo das tubulações de captação e só passou a ser utilizada no ano passado por causa do agravamento dos efeitos da forte estiagem.
A "recuperação" dessas duas cotas de volume morto ainda segue distante. Para preencher o equivalente a ela, o Cantareira teria de subir até 29,2%, algo possível somente nas chuvas de 2015/2016.

MUDANÇA DE PLANOS
No final de janeiro, diante da então escassez de chuvas, o governo tucano tratava um rodízio como inevitável. Mas as chuvas do início de fevereiro mudaram esse cenário.
Esse início de mês é o melhor em 13 anos nos seis mananciais da Grande SP.
Nesses primeiros 20 dias, choveu em todas as represas 1.293 milímetros. Em 2014, por exemplo, choveu só 37% desse volume nos sistemas.
Também neste mês, o volume de chuva no Cantareira, que atende 6,2 milhões de pessoas --a maioria na na zona norte da capital--, foi 33% acima da média. Já no Alto Tietê, que abastece 4,5 milhões no extremo leste da Grande SP, a chuva ultrapassou em 45% a média do mês.
A principal obra para evitar um rodízio deve começar em março, segundo o governo.
Trata-se da interligação, por meio de adutoras, entre os sistemas Rio Grande, braço da represa Billings, e o sistema do Alto Tietê.
Apesar da complexidade da obra, Alckmin promete que ela poderá começar a operar em maio. Técnicos da Sabesp, porém, apostam em junho.

Chuvas devem diminuir até o final de fevereiro

A condição climática responsável pelas chuvas em fevereiro não deve se repetir até o fim do mês.
Até o Carnaval, a umidade da Amazônia conseguiu atuar sobre o Estado de São Paulo, causando chuvas mais abrangentes e volumosas, capazes de aumentar o nível dos reservatórios da região metropolitana.
A partir deste sábado (21), no entanto, o tempo ficará seco e com forte calor, segundo a Climatempo.
Essa condição deve persistir até a semana seguinte. A diferença é que, a partir de segunda-feira (23), ocorrerão pancadas de chuvas isoladas no final da tarde, típicas do verão.
A próxima frente fria deve chegar a São Paulo apenas no final do mês, nos dias 27 e 28, causando temporais. Essas chuvas, apesar de fortes, têm menor capacidade de encher as represas.

Em meio à crise, cidade cobra taxa única de água em SP
Independentemente do consumo mensal, moradores de Barrinha pagam um valor fixo de R$ 22,51 na conta

Gabriela Yamada Enviada Especial a Barrinha (SP)

Lavagem de calçadas com água à vontade, torneiras pingando nos quintais e mangueiras esquecidas abertas. Cenas como essas, cada dia mais raras devido à crise hídrica no Estado, ainda são comuns na cidade de Barrinha, na região de Ribeirão Preto.
Como não há hidrômetros nos imóveis, é cobrada uma taxa única de R$ 22,51 para o uso da água, retirada do aquífero Guarani. "Independentemente do quanto se usa de água, se é casa ou comércio, o valor pago por todos é o mesmo", diz o secretário de Governo, Luiz Tadeu Giollo.
A Folha esteve na cidade no último dia 11 e flagrou moradores lavando calçadas. "Se eu não usar água, a sujeira entra em casa. É por higiene", disse uma mulher, que não quis ter o nome divulgado. Ela usava uma lavadora de alta pressão para empurrar a sujeira acumulada na sarjeta.
A situação persiste mesmo após Barrinha ter enfrentado um rodízio no ano passado. Cada família do município de 30,5 mil habitantes consome em média 1.000 litros de água por dia, segundo a prefeitura, o equivalente a 250 litros por pessoa. O volume supera o gasto per capita em São Paulo (130 litros) e Franca (170 litros), segundo a Sabesp. A Organização Mundial da Saúde indica um consumo diário de 110 litros por pessoa.
A gestão do abastecimento de água é feita pela prefeitura, que tem prejuízo com a baixa arrecadação pelo serviço --cerca de R$ 50 mil por mês. Só o gasto com a energia elétrica dos 16 poços artesianos é de cerca de R$ 120 mil. O deficit foi questionado pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) em 2014. Segundo Marcos Vinícius da Silva, secretário executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Mogi-Guaçu, a cidade ainda registra perdas de 40% na rede. "Neste momento crítico de seca no Estado, as prefeituras têm de adotar medidas para entrarem no eixo."

IMPASSE
Um impasse político, porém, impede que a situação seja resolvida. Em outubro passado, o prefeito Mituo Takahashi (PT) enviou um projeto de lei à Câmara que previa reajuste de R$ 10 na conta e a instalação de hidrômetros individuais. O projeto foi rejeitado.
Segundo o presidente da Câmara, Saint Clair Marinho Filho (DEM), projeto aprovado em 2009 previa a criação de uma autarquia para a gestão da água. A empresa, que nunca saiu do papel, teria autonomia para instalar os hidrômetros. "O prefeito está querendo tirar a responsabilidade dele e jogar para os vereadores." Procurado, o prefeito não respondeu.

FPS, 21/02/2015, Cotidiano, p. C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209100-com-obras-no-prazo-na…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209101-chuvas-devem-diminuir…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209102-em-meio-a-crise-cidad…

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