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Com menos dinheiro, ONGs apertam orçamento

O Globo, Economia, p. 34
14 de Dez de 2008

Com menos dinheiro, ONGs apertam orçamento
Verbas externas e nacionais começam a diminuir. Fundação Ford vai destinar 20% a menos para o Brasil

Cássia Almeida

O terceiro setor começa a se organizar para trabalhar com menos recursos no Brasil. Diante da crise financeira global, a expectativa é que o volume de dinheiro, principalmente o externo, caia ainda mais. A Fundação Ford, que está há 45 anos no Brasil, prevê queda de 20% nos recursos para o país em 2009, o que significa menos US$ 3,6 milhões para financiar projetos, baixando de US$ 18 milhões para US$ 14,4 milhões.
A crise agrava um cenário já de menos recursos para o Brasil. Os países mais pobres na África, no Leste da Europa e no Oriente Médio devem sofrer mais com a crise, aumentando a pobreza e a instabilidade institucional. Portanto, o dinheiro, que já estava há cerca de dez anos tomando outro rumo, vai diminuir ainda mais. Esse é o temor da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong).
- A pobreza vai aumentar. Os recursos vão diminuir e serão destinados aos países mais atingidos pela crise - disse Taciana Gouveia, da diretoria colegiada da Abong.
Crise é maior em países doadores de verbas
E os países que mais destinam dinheiro para a cooperação internacional são exatamente os que estão no epicentro da crise: os países europeus e os Estados Unidos.
- O fundo de US$ 14 bilhões de onde saem os recursos para os projetos teve perdas grandes. Este ano distribuímos US$ 600 milhões. A previsão para o ano que vem é de US$ 400 milhões - disse Ana Toni, representante da Fundação Ford no Brasil.
Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), acredita que os países centrais vão destinar menos recursos para a cooperação internacional, fonte de grande parte do financiamento de ONGs no Brasil. Metade do dinheiro que sustenta o Ibase vem de fora.
- Num primeiro momento, o efeito foi até positivo. Com a subida do dólar, entraram mais reais. Mas os recursos devem diminuir com a crise.
Dinheiro que já vem diminuindo há anos. Segundo Grzybowski, o Brasil, potência emergente, deixou de ser prioridade da cooperação internacional. Há cerca de seis anos, a Holanda destinava à América Latina 25 milhões. Para o ano que vem, o valor caiu para 14 milhões.
- A Holanda já nos pediu justificativas para continuar ajudando o Brasil.
O Instituto Ethos, mesmo acreditando que as receitas vão se manter, vai cortar 25% das despesas em 2009, que foram de R$ 14 milhões este ano.
- A crise é uma oportunidade para rever a gestão - disse Caio Magri, assessor de Políticas Públicas do Ethos.
Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil, já recebeu o aviso: o momento é de parada técnica. Está difícil fazer captações novas:
- Nossos projetos são de dois anos. Mas quem precisa de dinheiro novo já está enfrentando problemas.
Até mesmo no Brasil, país fora do epicentro da crise, as doações podem minguar. Nadison Baptista, coordenador na Bahia da Articulação do Semi-Árido (ASA) que reúne 750 entidades, diz que 80% dos recursos do programa de um milhão de cisternas são do governo federal e estão mantidos. O freio vem da iniciativa privada. Ele prevê redução de até 50% nos recursos dessa fonte. Há seis meses, a Petrobras se ofereceu para financiar duas mil cisternas. Mas não houve resposta:
- A Petrobras não vai financiar o terceiro ano do programa de geração de renda para mulheres.
Os recursos de R$ 390 mil de outro programa, voltado para crianças e adolescentes, que deveria sair no mês passado, foram adiados por seis meses. A Petrobras informou que não cortou patrocínios em andamento, mas reduziu o ritmo de novas contratações.

O Globo, 14/12/2008, Economia, p. 34

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