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Com guarda-sóis e pranchas, ambientalistas improvisam "praia" no Dia do Tietê

FSP, Cotidiano, p. C8
23 de Set de 2009

Com guarda-sóis e pranchas, ambientalistas improvisam "praia" no Dia do Tietê

Paulo Sampaio
Da reportagem local

Vida de verde é difícil, difícil como o quê. Ontem mesmo, no Dia do Tietê, um grupo de ambientalistas improvisou uma praia à beira do rio: um cheiro horroroso, nenhum peixe e ainda choveu.
Mas eles estavam lá, na altura da ponte das Bandeiras, fazendo figuração em trajes de banho: levaram guarda-sóis, cadeirinhas de alumínio, máscaras de mergulho e pranchas. Não era para rir.
"Vêm do Tietê 70% das doenças de São Paulo. Vivemos na Idade Média, quando um rio servia para levar bos...", diz o diretor da fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, que comandou o ato.
Mantovani caminha ansiosamente enquanto solta na "praia" seu arsenal antifumaça. "Tá vendo aquele caminhão?", pergunta, virando-se para a marginal. "Descarrega 2.000 partes por milhão de enxofre. A norma europeia estabelece dez partes. Oito mil pessoas morrem por ano em decorrência da poluição por diesel contaminado."
Andréia Ferreira, do Projeto Tietê, da Sabesp, explica que as obras de despoluição do rio estão entrando na terceira etapa. Terceira?
"Os resultados da primeira [de 1992 a 1998] e da segunda [2002 a 2008] não são visíveis na cidade. Mas em municípios vizinhos por onde o rio passa, como Itu, Salto, Porto Feliz, o índice de oxigenação das águas já é aceitável", diz.
Ela afirma que, no subsolo, boa parte da rede de coletores de esgoto está pronta, mas é necessário conectá-los às residências, e isso prescinde da vontade da população.
"A qualidade da água do rio não depende só de ações de saneamento. É preciso contar com a educação das pessoas. Qualquer papel jogado no chão ou cocô de cachorro não recolhido vem parar no rio com a chuva", afirma.
Alhures- na margem oposta do rio Tietê- vêm chegando seis grafiteiros. Explicam que estão ali "para colocar o que está faltando no rio". "Vou pintar peixes, árvores e flores", diz Rasta. "Minha avó pescava no Canindé. Jogava uma lata de óleo com farinha de mandioca e puxava de volta cheia de peixes. Eu queria que meus netos pudessem mergulhar no rio."
Uma parede de concreto de sustentação lateral serve de painel. Saci vai fazer "um portal de onde sai água límpida".
Difícil avaliar qual das margens do rio reunia manifestantes com mais imaginação.

FSP, 23/09/2009, Cotidiano, p. C8

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