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Com arte rupestre, serra do Mar quer turista

FSP, Cotidiano, p.C8
07 de Dez de 2005

Com arte rupestre, serra do Mar quer turista
Estudo encontra 76 vestígios arqueológicos e históricos no parque, que acompanha todo o litoral de SP

Afra Balazina

Um estudo coordenado por um pesquisador da USP descobriu vestígios arqueológicos no Parque Estadual da Serra do Mar, entre eles uma arte rupestre em uma pedra de quase três metros, no vale do rio Quilombo, em Cubatão (Baixada Santista).
Com isso, a administração da área preservada quer incentivar o turismo e criar uma espécie de museu a céu aberto aos visitantes.
Os 76 vestígios foram detectados pela equipe do arqueólogo Paulo Zanettini, doutorando do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, durante estudos para a elaboração do plano de manejo do parque, documento equivalente ao plano diretor de uma cidade. Entre os objetos há polidores, machados e pontas de lança.
Segundo o arqueólogo, é a primeira ocorrência de arte rupestre na serra do Mar. "Além de existir grande possibilidade de mais serem encontradas, é provável que essa gravação seja uma evidência concreta da utilização da serra do Mar como rota em períodos pré-coloniais e também após a chegada do colonizador europeu."
Como foi feito um levantamento rápido, será necessário mais estudos para datar a arte rupestre.
Para Zanettini, as descobertas mostram que o parque deve ter fins educacionais. "Daremos orientações de como articular as riquezas para fins de preservação, pesquisa e uso público."
Segundo a coordenadora-geral do plano de manejo, a arquiteta Adriana Mattoso, a intenção é fazer parcerias para elevar a visitação. "Não temos experiência em gestão. Para abrir o material arqueológico à visitação precisamos ter muito controle. Mas, quanto mais atrativos o parque tiver, mais parceiros virão e mais consideração das pessoas haverá."
Segundo o diretor da divisão de parques do Instituto Florestal, Luiz Roberto de Oliveira, o levantamento arqueológico foi o que mais surpreendeu no plano de manejo em razão da diversidade das descobertas. Foi observada a ocorrência de aves de 42 espécies ameaçadas de extinção e duas aves raras, a saudade e o caneleiro-do-chapéu-preto. Também foram mapeados 400 km de trilhas.
A arqueóloga Madu Garcia, do Museu Nacional da UFRJ, diz que a arte rupestre foi um "achado ímpar". "É uma novidade na pré-história brasileira. Não temos ocorrências no litoral, a não ser em Santa Catarina", diz.
Parque
Dos oito núcleos do parque, dois não têm infra-estrutura para visitação (Curucutu e Pedro de Toledo). Os principais visitantes da unidade de conservação da serra do Mar são grupos de estudantes. Com exceção do núcleo Picinguaba, em Ubatuba (litoral norte), os demais só possuem alojamento para pesquisadores. Segundo Mattoso, a visitação anual é de cerca de 50 mil pessoas.

Famílias tradicionais não serão removidas
Em vez de expulsar todas as pessoas que vivem no Parque Estadual da Serra do Mar para garantir sua preservação, o plano de manejo prevê que os moradores tradicionais (como quilombolas e caiçaras) permaneçam no local. Eles também poderão continuar com suas atividades, que incluem agricultura e pastagens.
Por ser uma unidade de conservação integral, não deveria haver ocupação na área preservada. Não há um cadastro dos moradores, mas estima-se a existência de 3.000 moradias dentro do parque -sem contar as dos chamados bairros Cota, em Cubatão (litoral sul), onde vivem aproximadamente 15 mil pessoas em comunidades erguidas para abrigar os operários da via Anchieta.
Para os idealizadores do plano de manejo, os habitantes tradicionais podem impedir invasões. "Queremos oficializar a permanência mediante compromisso de conservar a área", diz a coordenadora-geral do plano de manejo, Adriana Mattoso. Moradores não poderão ampliar o terreno.
O plano deve ser aprovado pelo Estado e pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente).

FSP, 07/12/2005, Cotidiano, p. C8

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