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Coleta de castanha-do-para na Amazonia e insustentavel

O Globo, Ciencia e Vida, p.45
19 de Dez de 2003

Coleta de castanha-do-pará na Amazônia é insustentávelRoberta JansenAo contrário do que sempre se afirmou, a coleta de castanha-do-pará na Amazônia não é uma atividade sustentável. Estudo publicado na última edição da Science” revela que se forem mantidos os padrões atuais de coleta, os castanhais podem ser devastados num período de 50 a 100 anos. A castanha-do-pará é a única semente comercializada internacionalmente que não é proveniente de plantações, mas sim de árvores de florestas. — O objetivo do nosso trabalho é mostrar que, a longo prazo, a coleta persistente tem efeitos negativos na população natural de castanheiras e poderá ter também um impacto econômico para a região, onde milhares de pessoas dependem dessa coleta — afirmou o biólogo brasileiro Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, coordenador do estudo, em entrevista por telefone. Em condições naturais, a reposição das castanheiras depende em grande parte das cutias. O roedor quebra o fruto da castanheira, alimenta-se de algumas das sementes e enterra as demais, dando-lhes a chance de germinar. A coleta intensiva interrompe esse ciclo. O resultado, como demonstra o estudo, é que a floresta apresenta cada vez menos castanheiras jovens (com menos de 60 centímetros de diâmetro de tronco) — um forte indicativo de que está sob ameaça, já que não há reposição das árvores que morrem. — É raríssimo ver uma árvore jovem nessas populações sistematicamente superexploradas há muitos anos — disse Peres. — E isso compromete a capacidade de regeneração. O problema só não é mais grave, segundo o biólogo, porque as castanheiras são árvores muito longevas: podem viver até 500 anos. A solução para o problema, apontou Peres, está na própria natureza. — Existem técnicas de germinação da castanha, mas mais interessante, barato e fácil seria manipular o próprio sistema natural — disse o cientista. — Basta que se deixe de coletar de algumas árvores durante dois ou três anos e teremos novas plantas. Para Peres, seu trabalho deve ser visto como um aviso: — O estudo procura mostrar que, apesar de essa coleta afetar apenas a semente, não pode ser definida como sustentável.

O Globo, 19/12/2003, p. 45

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