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Clube de Roma alertou sobre risco de crescimento desordenado

Valor Econômico - São Paulo - SP
Autor: Silvia Czapski
31 de Mai de 2001

Ambientalistas previram dificuldades nos anos 70

Convidado para uma mesa redonda com o tema energia, Paulo Nogueira Neto, ex-secretário nacional do Meio Ambiente, responsável, nos anos 80, por leis como a Política Nacional do Meio Ambiente, destoou de todos especialistas: "Eles só discutiam a possibilidade e conseqüências do racionamento. Eu falei do longo prazo..." Nogueira Neto lembra que há décadas ambientalistas avisam que os recursos naturais são finitos, devendo ser usados racionalmente. "Acho que o primeiro alerta veio do Clube de Roma", diz, referindo-se ao grupo de empresários, cientistas e economistas que produziu o estudo "Limites do Crescimento", em 1972, prevendo o caos, se os países continuassem a crescer e degradar o ambiente, no ritmo de então. "Tudo está interligado. Não dá para separar crise de energia de instabilidade demográfica, ou desigualdade social. Também, o aumento do consumo de combustíveis contribui para as mudanças climáticas."Coordenadora da publicação "As Hidrelétricas do Xingu e Povos Indígenas", que denunciava, em 1988, grandes projetos de barragens nas terras dos índios, Leinad Ayer, da Comissão Pró-Índio, lembra que, com a repercussão do livro, nenhum novo projeto foi realizado nessas áreas. "Em assuntos como esse, nós nos apoiávamos em trabalhos dos cientistas. Por exemplo, Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou, naquele tempo, que a crise do petróleo deu espaço ao Proálcool, que havia gás natural abundante e não aproveitado por exemplo na Bacia de Campos, e - em vez de construir grandes hidrelétricas - daria para apostar em fontes não convencionais, como energia solar, eólica, dos oceanos, e as pequenas centrais hidrelétricas, cujo impacto ambiental é muito menor." Ela completa: "Naquele tempo, criticava-se o autoritarismo do setor elétrico e a opção pelos megaprojetos, mas isso continua até hoje.""Nesse setor, tudo é feito de forma emergencial, sem planejamento", reclama Carlos Bocuhy, representante dos ambientalistas no Conselho de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Consema). "O governo usará a atual crise para forçar o cronograma das grandes termoelétricas, que carregam junto enormes problemas ambientais. Como falta planejamento, num segundo momento poderá se descobrir que o investimento foi errado. Em relação à população, o racionamento não é educativo. É como já vimos no caso da água: a reação imediata é estocar o máximo logo antes do corte, enchendo baldes e vasilhas. Quando volta o fornecimento, a população volta a desperdiçar.""Precisaríamos de educação para o uso de energia. E isso vale para as ONGs, para o governo, a iniciativa privada, a população " , rebate Antonio Carlos de Oliveira, do Vitae Civilis. Físico, ele explica que iluminação deve servir ao conforto ambiental, sem desperdício. "Não adianta desligar o ar-condicionado para economizar energia e todos se sentirem mal, fazendo a produção despencar. Por outro lado, é absurdo, onde há sistema central de refrigeração, alguém deixar a janela aberta, pois estará jogando fora energia e dinheiro."Outra conseqüência da não educação para a racionalização energética: empresários tendem a superdimensionar motores que vão comprar, para não precisar adquirir outros, num momento de ampliação. Mas isso significa desperdício de energia, que é também desperdício de recursos financeiros. Da mesma forma, o plano governamental de doar lâmpadas eficientes aos pobres pode ser desperdício. Bairros de periferia são ponta de rede, com muitas variações de tensão. "Lâmpadas eficientes queimam mais fácil. Poderia ser mais eficaz instalá-las nas milhares de escolas públicas, que funcionam das 7 da manhã às 11 da noite, revendo, ao mesmo tempo, suas instalações elétricas."

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