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Clima: um desastre ameaça a África

O Globo, O Mundo, p. 30
07 de Nov de 2006

Clima: um desastre ameaça a África
Conferência de Nairóbi começa com apelo a nações ricas para reduzirem efeitos do aquecimento

O aumento aparentemente inexorável da temperatura do planeta levará a catastróficas conseqüências sobretudo nos países pobres, que não terão verbas para lidar com eventuais adaptações a um mundo mais quente. Especialistas de 189 países reunidos em Nairóbi, no Quênia, para a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, fizeram um apelo às nações ricas para que adotem medidas concretas para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa e também para ajudar os países mais pobres a lidarem com o aquecimento.

As alterações climáticas em curso ameaçam as recentes conquistas de redução de pobreza e fome e praticamente inviabilizam metas traçadas nessas áreas para um futuro próximo. Na África, pelo menos 70 milhões de pessoas estariam diretamente ameaçadas por enchentes.

- As mudanças climáticas ameaçam as metas de desenvolvimento para bilhões de pessoas das áreas mais pobres do mundo - afirmou o ministro do Meio Ambiente do Quênia, Kivutha Kibwana, na abertura da conferência da ONU, a primeira sobre clima realizada num país da África Subsaariana. - Enfrentamos um risco genuíno de vermos as recentes vitórias na luta contra a redução da pobreza retrocederem nas próximas décadas, particularmente para as pessoas mais pobres do mundo e, em especial, para aquelas do continente africano.

Um relatório da ONU divulgado no domingo sustenta que a África é muito mais vulnerável ao aquecimento global do que se poderia imaginar. Segundo o documento diversas cidades costeiras devem submergir com a elevação dos níveis dos mares em 2080, entre elas centros importantes como Cidade do Cabo e Lagos, levando nada menos que 70 milhões de pessoas a se deslocarem. Uma destruição de até 30% da infra-estrutura costeira está prevista.

Plantações de alguns dos principais cultivos do continente, como milho e sorgo, vão desaparecer. As duas principais regiões fornecedoras de água doce do continente, Okavango, em Botsuana, e parte do Nilo, no Sudão, podem secar. Mais de um quarto dos habitais de animais selvagens na África estaria ameaçado de destruição.

Representantes de organizações não governamentais presentes exigiram também dos países desenvolvidos que adotem medidas concretas para a redução das emissões a partir de 2012, quando chega ao fim o período coberto pelo Acordo de Kioto. Segundo dados da ONU, as concentrações de dióxido de carbono aumentaram em 0,5% em 2005 e não cairão salvo um acordo mais agressivo que Kioto seja posto em prática rapidamente.

- Maiores reduções são necessárias por parte dos países industrializados - afirmou Catherine Pearce, da ONG Amigos da Terra.
Steve Sawyer, do Greenpeace, acrescentou:
- O processo precisa ser rápido para que não haja um vazio entre o fim dos compromissos de Moto e os novos.

Precisamos atuar rapidamente para superar a velocidade com a qual as geleiras estão derretendo. Um novo acordo deve estar pronto, no máximo, até o fim de 2008, para que haja tempo de ratificá-lo.

Aumento da temperatura pode chegar a 5,8 graus Celsius
O Acordo de Moto, assinado por 35 nações desenvolvidas, prevê a redução das emissões em 5% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. Os Estados Unidos, responsáveis por cerca de 40% das emissões mundiais, no entanto, não assinaram o documento. Os participantes do encontro pediram ainda um uso mais amplo dos créditos de carbono - um mecanismo previsto no Acordo de Moto que permite que países que não consigam reduzir suas emissões comprem créditos provenientes de reduções feitas em outros lugares.

De acordo com estimativas da ONU apresentadas na conferência, a temperatura média da superfície da Terra aumentará de 1,4 a 5,8 graus Celsius até o ano 2100, enquanto que, no século passado, o aumento registrado foi de 0,6 grau Celsius. Esse aumento está diretamente relacionado às crescentes emissões dos chamados gases do efeito estufa, produzidos, em grande parte, na queima de combustíveis fósseis.

EUA não alteram política climática
Pais não pretende mudar sua posição sobre o Acordo de Kioto

Responsáveis por cerca de 40% das emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global, os Estados Unidos não só não assinaram o Acordo de Kioto para redução dos poluentes, como sustentaram ontem que não pretendem mudar sua política em relação ao tema pelo menos até o fim do segundo mandato de George W. Bush, em janeiro de 2009.

Harlan Watson, presidente da delegação americana na conferência da ONU sobre clima, disse não haver sinais de qualquer mudança de política na questão, o que despertou fortes criticas de ambientalistas.

- Certamente não tenho indicação de que haja mudança em nossa posição ou probabilidade de que isso ocorra durante sua (de George W. Bush) presidência - disse Watson.

Bush decepcionou os especialistas em meio ambiente ao abandonar, em 1995, o Acordo de Kioto, alegando que a redução prevista afetaria a economia americana.
Washington diz que analisa medidas alternativas para lidar com o aquecimento global.

- O presidente Bush e sua administração estão firmemente comprometidos a adotarem ações sensíveis sobre a mudança climática, um desafio sério a longo prazo - disse Watson. - A política da mudança climática do governo tem base científica e encoraja os avanços de pesquisa que levam à inovação tecnológica.

Seria o caso, por exemplo, de uma inovação apresentada ontem por cientistas americanos e britânicos, um avião cujo formato inovador ajudaria a reduzir os efeitos das mudanças climáticas. 0 formato de suas asas levaria a uma economia de combustível de 35%.

O Globo, 07/11/2006, O Mundo, p. 30

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