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Clima: pressão sobre o Brasil

O Globo, Ciência, p. 30
26 de Fev de 2008

Clima: pressão sobre o Brasil
EUA aceitam metas de CO2 obrigatórias se emergentes cumprirem também

Único país desenvolvido a não ratificar o Acordo de Kioto, que estabelece metas contra o aquecimento global, os Estados Unidos revelaram ontem que estariam dispostos a adotar metas fixas e obrigatórias para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Para isso, porém, os americanos exigem também um compromisso semelhante dos países em desenvolvimento - em especial Brasil, China e Índia. O anúncio foi feito em Paris por James Connaughton e Daniel Price, respectivamente conselheiros ambiental e econômico do presidente George W. Bush.
Na Conferência do Clima das Nações Unidas, realizada em dezembro, em Bali, os EUA foram acusados de bloquear os esforços para um acordo global e se mostrarem inflexíveis nas discussões sobre limites de reduções. No último dia do encontro, porém, concordaram em participar de um cronograma de negociação para a próxima cúpula do clima, marcada para dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca.
De acordo com os conselheiros, os Estados Unidos esperam concluir uma "declaração de líderes" antes do próximo encontro dos países do G-8, em julho. Não foi revelado, entretanto, como os EUA farão esses cortes de emissões.
Proposta global de redução de emissões
O comprometimento dos países em desenvolvimento é um antigo anseio do governo Bush, que considera o Acordo de Kioto desigual por não cobrar metas obrigatórias das economias emergentes. Segundo Kioto, os países desenvolvidos têm metas obrigatórias a cumprir, já os países em desenvolvimento - como Brasil, Índia e China - não são obrigados a cortar emissões.
-Os Estados Unidos estão preparados para fazer parte de um acordo global com metas obrigatórias para a redução das emissões - disse Price. - Esse acordo deve ter a participação de todas as grandes economias do planeta, sejam elas dos países ricos ou em desenvolvimento. Mesmo que os Estados Unidos e a Europa apagassem todas as suas luzes a partir de hoje, não chegaríamos a 2030 ou 2050 com bons resultados contra as mudanças climáticas.
Na última reunião do G-8, o Japão sugeriu reduções globais de 50% até 2050. Para Price, essa proposta pode ser uma das bases para a nova declaração do grupo. A nova proposta americana foi recebida com ceticismo no próprio país.
- A idéia de que todas as nações tenham metas iguais de reduções já demonstrou ser politicamente difícil de ser realizada - disse Phillip Clapp, diretor da ONG Pew Environment Group. - A Casa Branca sabe que uma proposta dessas não é uma opção de negociação para o governo chinês.
Para Clapp, o governo Bush está fazendo uma manobra para iludir as pessoas.
- Querem participar de uma ação que só vai ter efeito daqui a 40 anos e pretendem vender isso como uma grande conquista - criticou Clapp.
Mudança de posição desde o ano passado
Para analistas, a nova proposta americana faz parte de uma aparente mudança de postura que teve início no ano passado, quando Bush sugeriu um encontro envolvendo 17 nações que respondem por 80% das emissões. O grupo já teve um primeiro encontro em janeiro, no Havaí, e tem um outro programado para acontecer em abril, em Paris.
Na Conferência de Bali, os países europeus inicialmente classificaram os encontros como uma forma de esvaziar as negociações multilaterais conduzidas pela ONU.
Após a primeira reunião, porém, seus representantes consideraram os debates no Havaí como francos e promissores.

O Globo, 26/02/2008, Ciência, p. 30

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