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Clima é tenso em Suiá Missú

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Keka Werneck
21 de Out de 2003

É tenso o clima entre pequenos produtores rurais e um grupo de índios xavante, que, após 36 anos, voltou para a fazenda Suiá Missu, de onde foi expulso pelo governo militar.

O grupo de índios chegou na área, que fica no município de São Félix do Araguaia, em nome de cerca de 600 xavante, que, em sua maioria, vive na aldeia Água Branca, no município de Canarana, desde 1967.

O que estes xavantes querem é reaver a área, que perderam, na década de 60, período em que começou de forma mais significativa a ser fomentada a chamada expansão das fronteiras agrícolas no país.

A retirada destes xavantes ficou na história como um episódio cruel, considerando que, para os índios, a terra é o símbolo da vida, é a identidade de um povo. "Eles foram levados de avião. Em 15 dias, 95 morreram, ficaram doentes", conta o educador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em São Félix, Franklin Machado.

Em lugar dos índios, a área virou uma fazenda, em nome da empresa Agip Liquegaz. Na Eco-92, evento que reuniu o "mundo" em torno de questões ambientais, no Rio de Janeiro, a empresa devolveu aos xavantes, a título de compensação, a terra, que já está demarcada e homologada, como reserva.

A referida fazenda, no entanto, continua em "mãos particulares". O agricultor Gilberto Rezende afirma ter comprado-a da Agip Liquegaz, como narra Machado.

"É que, na época da devolução, políticos se mobilizaram com fazendeiros para impedir o retorno dos índios, sob o argumento de que devolver terra para índio significa retrocesso para o país e que a região do Araguaia não se desenvolve porque tem muita área indígena. É esta a mentalidade geral", lamenta Machado.

Nos últimos anos, segundo informa ele, o pretenso dono teria feito uma espécie de reforma agrária privada, ou seja, dado pequenos lotes aos sem-terra, para evitar conflito, e ficado com a maior parte.

Este processo acabou levando cerca de mil famílias para a fazenda. Elas é que estão, agora, irritadas com a chegada dos índios, embora eles é que tenham, por lei, direitos.

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