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Clima de tensão culmina em morte

Correio do Povo-Porto Alegre-RS
30 de Jun de 2003

Assassinato de indígena foi precedido por impasse que ocorre há mais de um ano em Faxinalzinho

A morte do índio caingangue Adilson Cardoso, de 23 anos, na madrugada de sábado, em Faxinalzinho, foi um desfecho violento da tensão envolvendo indígenas que dura mais de um ano naquela cidade. O assassinato de Cardoso, que foi sepultado ontem, no cemitério da Reserva de Votouro, reuniu os 1,3 mil índios da reserva e os 150 que estão acampados perto da cidade desde março de 2002. Sábado à tarde, 300 indígenas fizeram um protesto no local do crime, obrigaram o comércio e fechar e trancaram a RS 287 e a estrada de Faxinalzinho a Erval Grande. Devido à tensão, PMs de Nonoai e de Erechim foram deslocados para reforço e a BM de Passo Fundo está de prontidão. 'Os índios querem que a Polícia de São Valentim, que investiga o caso, apresente quem matou o caingangue ', disse uma fonte da BM que preferiu não se identificar.
Cardoso foi encontrado às 2h de sábado, com um corte no pescoço e um ferimento na cabeça, ao lado do salão onde houve um baile de festa junina, no centro da cidade. Socorrido, ele morreu a caminho do Hospital de Nonoai. Conforme testemunhas, a morte decorreu de uma série de conflitos iniciados no baile, sexta-feira à noite. Após confronto entre brancos e indígenas dentro do salão, Cardoso teria saído e adormecido do lado de fora. No fim do baile, à 1h de sábado, em novo conflito, um dos rapazes brancos teria apanhado muito. Meia hora depois, mais 10 amigos do jovem agredido voltaram ao local, onde ocorreu outro conflito, envolvendo dezenas de pessoas que saíam do baile. À 1h45min, quando tudo parecia ter terminado, Cardoso foi encontrado ferido e viria a morrer pouco depois.

A tensão envolvendo indígenas ocorre desde março de 2002, quando 43 famílias de duas reservas da região acamparam na entrada da cidade. Com laudo da Funai, eles exigem 31 mil hectares de terras, área maior que o município de Faxinalzinho, que tem 14,4 mil hectares. Enquanto os índios sustentam que a terra era originalmente deles, agricultores locais têm documentos de posse com data de 1849. Em 16 meses, o impasse incluiu invasões, protestos, ameaças, reuniões com a Comissão de Assuntos Municipais da Assembléia Legislativa e encontros com a Funai, culminando, agora, nos confrontos e na morte.

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