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Clima: Brasil se alia à China

O Globo, Ciência, p. 34
03 de Mai de 2007

Clima: Brasil se alia à China
Pressão para que países ricos assumam culpa pelo aquecimento global

Bangcoc e Brasília

O Brasil e a Índia se uniram ontem à China para exigir mudanças no texto do terceiro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês), que está em discussão em Bangcoc, na Tailândia. Esta semana a China praticamente bloqueou as negociações ao propor a maioria das 1.500 emendas apresentadas ao sumário do relatório de apenas 24 páginas, cujo objetivo é sugerir medidas para reduzir o aquecimento global e amenizar os seus efeitos.

Disputa por peso político no relatório
O relatório do IPCC não tem valor legal. É um documento científico, mas de grande credibilidade e peso político, já que é fruto do trabalho de mais de 2.000 cientistas e representantes de cerca de 100 países. E é justamente devido ao peso político do IPCC que Brasil, China e Índia querem ver incluído no texto final um parágrafo no qual se diz que "se os países com alta taxa de emissão per capita de gases-estufa não reduzirem suas emissões significativamente, será difícil fazer progressos substanciais no combate do aquecimento global". Os países com alta taxa per capita são as nações desenvolvidas.

Embora vá se tornar o maior poluidor do mundo até o fim deste ano, a China tem baixa emissão per capita, já que este índice está associado também ao nível de consumo.

China, Índia e Brasil querem ainda que os países industrializados sejam diretamente responsabilizados pelas mudanças climáticas e seus efeitos.

Eles exigem a declaração de que as emissões acumuladas pelos países industrializados são muito elevadas, cerca de 75% do total disse à revista britânica "New Scientist" um delegado que participa da reunião do IPCC e não quis se identificar.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem, em Brasília, que o Brasil tem posições em comum com a China e a Índia sobre a responsabilidade dos países desenvolvidos pelo aquecimento global. O raciocínio é que as economias desenvolvidas poluíram o planeta durante mais de um século e agora devem empreender maiores esforços para recuperar o meio ambiente.

Os países desenvolvidos não podem abdicar das suas responsabilidades. Nós temos as nossas e vamos cumpri-las - disse Amorim.

Segundo ele, é natural que o Brasil tenha um papel de destaque na discussão de temas ambientais. Ele lembrou que a matriz energética do país não é poluidora, pois tem como principal fonte a energia hidrelétrica.

Pelo Acordo de Kioto, somente os países industrializados têm cotas obrigatórias de redução de emissão de gases do efeito estufa.

No entanto, Estados Unidos e União Européia pressionam para que países em desenvolvimento, em especial Brasil, China e Índia, também sejam obrigados a fazer reduções. Enquanto China e Índia têm uma economia em franco crescimento baseada numa matriz energética considerada suja - principalmente carvão - o Brasil é criticado pelas queimadas na Amazônia, que o colocam entre os maiores poluidores do planeta.

O desmatamento é justamente o principal problema brasileiro no que diz respeito a mudanças climáticas.

Luiz Pinguelli Rosa, coordenador do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, diz que o próprio Brasil deveria determinar metas de redução de desmatamento:
- O Fórum apresentou um pacote de medidas ao governo brasileiro, como uma contribuição ao Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas.
E certamente o combate das queimadas é a principal delas. 0

Visite o mundo antes que ele acabe
Empresas de turismo já oferecem excursões a lugares ameaçados

Michael McCarthy Do Independent
Londres

As mudanças climáticas estão fazendo surgir um novo tipo de viagem: o turismo do aquecimento global. Seu lema parece ser o seguinte: visite algumas partes do mundo antes que elas desapareçam por completo.

Uma empresa americana anunciou esta semana que vai vender excursões, de até 12 dias, a partir de junho, para a Ilha do Aquecimento, na Groenlândia, recentemente descoberta após a geleira que a ligava ao continente derreter.

O Oceano Ártico, que está ameaçado de perder sua cobertura de gelo no verão até 2020, é um outro alvo. Uma companhia inglesa prepara cruzeiros, em navios do tipo quebra-gelos, para a área. Analistas dizem que o surgimento desse novo tipo de turismo era inevitável. Segundo eles, em busca por novas experiências, algumas pessoas não querem mais visitar lugares que recebem dezenas de milhares de pessoas por semana. A ironia que esse tipo de turismo traz é que se muitas pessoas visitarem esses lugares ameaçados pelas mudanças climáticas, queimando combustíveis fósseis a cada viagem, elas vão garantir o surgimento de muitos outros.

O Globo, 03/05/2007, Ciência, p. 34

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