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Clamor da floresta: "O que estão esperando? Que morram mais índios?"

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
10 de Mai de 2004

Em nota veiculada ontem, a Coordenação das Organizações das Nações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) reagiu ao cancelamento da expedição Imagem do Javari, por decisão da juíza federal substituta, Fabíola Bernardi, decorrente de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal. "Lamentamos que o destino dos povos indígenas seja submetido a pleitos jurídicos, a desentendimentos de competência, quando que a melhor medida deveria ser adotar a perspectiva de somar esforços e construir parcerias que facilitem atacar com urgência os graves problemas de saúde que enfrentam os povos indígenas do Vale do Javari", diz a nota assinada pelo coordenador geral da entidade, o índio Jecinaldo Barbosa Cabral (sateré -mawé) e pelos diretores Crisanto Rudzo Tseremey'wa (xavante), Maria Miquelina Barreto Machado (tucano) e Genival Oliveira dos Santos (Mayopruna).

O documento da Coiab manifesta o posicionamento da entidade sobre a Saúde dos Povos Indígenas no Vale do Javari, analisa a decisão da juíza Fabíola Bernardi, alerta sobre a gravidade do estado de saúde dos índios da região e a urgência de tomar medidas para conter a epidemia que ameaça a continuidade histórica destes povos. A nota pública da Coiab foi encaminhada à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério Público Federal (MPF).

A nota esclarece que a situação dos povos indígenas do Vale do Javari é tão grave que no início do ano foi declarada pelo Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), como "situação de calamidade pública". Em 16 de janeiro de 2004 a organização indígena denunciava: "Toda semana acontece a remoção vias aérea e fluvial de pacientes das comunidades dos rios Itacoai, Javari, Itui, Jaquirana e Curuçá, dos povos Kanamari, Kulina, Matis, Mayuruna e Marubo. Se continuar assim, calcula-se que em menos de 20 anos serão extintos os povos que habitam o Vale do Javari, de uma população de aproximadamente 3.500 pessoas."

Sobre o cancelamento da Expedição "Imagem do Javari", o Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja) também se pronunciou, afirmando que qualquer atividade que contribua a garantir a continuidade histórica dos nossos povos, a melhoria das suas condições de vida, será sempre bem-vinda, "desde que seja implementada com o conhecimento prévio e consentimento dos índios".

A situação é tão grave que a nota de denúncia do Civaja conclui alertando:

"Por tudo isso, o CIVAJA convoca o Ministério da Saúde, a Funai, outros órgãos governamentais, instituições particulares, ONG's, Igrejas, Exército, Marinha, Prefeitura e outras entidades para que se mobilizem urgentemente a fim de controlar a epidemia de hepatite que flagela e ameaça a vida dos povos indígenas do Vale do Javari, pois não podemos nos conformar apenas em assistir as mortes dos nossos parentes de braços cruzados".

O Civaja lembrava ainda que havia notícias sobre a existência de hepatite na área indígena desde 1982, no entanto "as autoridades competentes não tomaram, até hoje, as providências necessárias".

- O que está sendo esperado? Que morram mais índios? Quer-se a extinção dos povos indígenas do Vale do Javari? - questiona o Conselho.

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