VOLTAR

Civilização ameaçada

O Globo, Ciência, p. 30
19 de Jun de 2007

Civilização ameaçada
Cientistas alertam para risco de cataclismo ambiental

Steve Connor
Do Independent

ATerra está em perigo iminente e só um plano de resgate planetário a salvaria do cataclismo ambiental imposto pelas mudanças climáticas. As palavras não são de ecoterroristas fazendo proselitismo panfletário, mas sim de importantes cientistas escrevendo numa prestigiada revista acadêmica.

Seis especialistas de algumas das principais instituições dos EUA, entre elas a Nasa, publicaram um alerta nada ambíguo: a civilização está sendo ameaçada pelo aquecimento global.

Eles também criticam implicitamente o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU por subestimar o grau de elevação do nível do mar neste século decorrente do derretimento de geleiras e das coberturas de gelo dos pólos.

Em vez de um aumento de 40 centímetros, como previsto pelo IPCC, a real elevação do nível dos mares em 2100 poderia chegar a vários metros.

Por isso, eles dizem, a Terra está em "perigo iminente". No estudo de 29 páginas publicado na "Philosophical Transactions of the Royal Society", alguns dos principais estudiosos do clima descrevem por que acreditam que a Humanidade não pode mais se dar ao luxo de ignorar "a grave ameaça" das mudanças climáticas.

"As recentes emissões de gases do efeito estufa colocam a Terra perigosamente próxima de uma dramática mudança climática que pode sair do controle com grandes riscos para os seres humanos e outras criaturas", escreveram os cientistas. Somente esforços intensos para reduzir as emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa podem manter o clima terrestre similar ao registrado no último milhão de anos, acrescentaram.

Humanidade teria dez anos para impedir caos
Os pesquisadores foram coordenados por James Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da Nasa, o primeiro cientista a alertar o congresso americano sobre o aquecimento global. Os outros cientistas são Makiko Sato, Pushker Kharecha, e Gary Russell, também do Instituto Goddard, David Lea, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, e Mark Siddall, do Observatório Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, em Nova York.

Segundo eles, a pressão nada natural que vem sendo exercida sobre o clima pelas atividades humanas ameaçam gerar uma alteração climática drástica que poderia "dar início a um cataclismo" nas maciças coberturas de gelo da Antártica e da Groenlândia.

Drásticas alterações do clima ocorreram no passado, mas nenhuma foi registrada desde o desenvolvimento de sociedades humanas mais complexas e civilizações, que provavelmente não sobreviveriam a tais mudanças se elas ocorressem agora. "A civilização se desenvolveu, e criou extensa infraestrutura, durante um período de incomum estabilidade climática, o holoceno, que já dura 12 mil anos. Este período está prestes a acabar", alertaram os cientistas. Segundo Hansen, a Humanidade tem cerca de dez anos para efetivas medidas draconianas de redução das emissões de CO2 e impedir tal catástrofe. 0

Amazônia pode atingir um nível crítico de desmatamento

Carlos Albuquerque

O desmatamento da Floresta Amazônica pode chegar a um estágio tão crítico que mesmo o reflorestamento será impossível. O alerta é do ambientalista americano Thomas Lovejoy, um dos pioneiros nas pesquisas no local.

- Em um cenário extremo, podemos chegar a um nível de desmatamento que faria com que o nível das chuvas diminuísse, a estação das secas aumentasse e a temperatura subisse drasticamente - disse ele, em palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais. - Com o desequilíbrio ou até mesmo o desaparecimento do clima típico das florestas tropicais, o reflorestamento poderia se tornar impossível.

Lovejoy elogiou os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criados pelo Acordo de Kioto, que prevêem incentivos para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Porém, disse que é preciso também incentivar a população local a trabalhar contra o desmatamento.

- O MDL foi uma das maiores conquistas que tivemos na luta contra o aquecimento global. Mas ele não resolve tudo o que pode ser feito para parar o desmatamento - declarou. - Uma possibilidade seria um acordo que beneficiasse as comunidades que estão no centro do desmatamento, dar incentivos para que ficassem mais resistentes.

O Globo, 19/06/2007, Ciência, p. 30

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.