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CIR pretende expulsar fazendeiros, denuncia Sodiurr

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: WIRISMAR RAMOS
09 de Set de 2004

O tuxaua Silvestre Leocádio disse que, durante reunião realizada recentemente, o CIR propôs que as estradas de acesso a Alto Alegre comunidade fossem bloqueadas

A onda de invasões de fazendas na região de Normandia é, na verdade, parte de um plano maior do Conselho Indígena de Roraima (CIR), com apoio da Igreja Católica e de Organizações Não Governamentais (ONGs) para desestabilizar a economia do Estado.
A denúncia é do presidente da Sociedade dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr), índio Macuxi Silvestre Leocádio. Segundo ele, o CIR não almeja apenas a demarcação em área única da terra Raposa/Serra do Sol (que ainda aguarda homologação pelo presidente Lula), mas também transformar em área contínua todas as reservas de Roraima que já foram homologadas em ilhas.
"O presidente do CIR, Jacir de Souza, está visitando as malocas e incentivando os índios a montarem barreiras nas estradas para forçar o Governo Federal a agilizar a homologação da terra indígena Raposa/Serra do Sol e transformar as reservas que já foram demarcadas em ilhas, de forma contínua", denuncia.
O presidente da Sodiurr informou que, depois que o CIR incentivou a invasão de fazendas em Normandia, obrigando quase todos os fazendeiros da região a abandonarem suas propriedades, agora o próximo alvo é a região do Taiano, no Município de Alto Alegre.
Silvestre Leocádio conta que o presidente do CIR, Jacir de Souza, durante uma reunião realizada recentemente na maloca do Pium com as lideranças indígenas para tratar de assuntos diversos, propôs que as estradas de acesso àquela comunidade fossem bloqueadas até que o Governo Federal expulse os não índios e transforme a demarcação em área contínua, mesmo a região não integrando a reserva Raposa/Serra do Sol.
A maior preocupação, segundo Silvestre Leocádio, é que os seus irmãos indígenas estão sendo usados pelo CIR, Igreja Católica e as Ong's para atender a interesses que não beneficiam as comunidades indígenas. "Pelo contrário, isso acaba prejudicando a convivência harmoniosa que nós, índios, tínhamos com os não índios", enfatiza.
Convivência pacífica ameaçada
Leocádio afirma que um exemplo de boa convivência entre índios e não índios pode ser encontrado no próprio município de Alto Alegre, onde as reservas foram demarcadas em ilhas e todos vivem pacificamente, sem nenhum conflito.
"O que eles (CIR e Igreja Católica) querem é acabar com essa convivência pacífica e, para isso, colocam os índios na linha de frente, fechando estradas e invadindo fazendas, para obrigar o Governo Federal a fazer o que eles querem. Porque o Jacir, os padres e as freiras não vão para lá, ao invés de mandar os índios?", questiona.
No Município de Alto Alegre, hoje vivem cerca de 2.300 índios das etnias Macuxi e Taurepang, distribuídos em dez reservas, demarcadas em ilhas a partir de 1980: Sucuba, Raimundão I e II, Anta I e II, Boqueirão, Mangueira, Pium, Barata, Livramento e Truaru.
O forte da economia do Município de Alto Alegre é a pecuária e o cultivo de produtos agrícolas como banana, mandioca e arroz. Mais recentemente, Alto Alegre também está despontando como excelente produtor de grãos, sendo o principal a Soja.
Fome
O presidente da Sodiurr, Silvestre Leocádio, disse que as comunidades indígenas ligadas ao CIR correm um sério risco de passar necessidades e até fome, se algo não for feito para reverter essa situação de conflitos e invasões de fazendas.
Ele explica que enquanto os índios se preocupam em ocupar fazendas e bloquear estradas, esquecem de plantar suas roças e, quando o suprimento de alimentos acabar, não terão mais de onde tirar e a situação das comunidades indígenas pode ficar crítica.
"Nem o CIR, nem os padres terão condições de sustentar essas comunidades e, diante dessa situação, é bem provável que os índios comecem a passar fome", avisa, ao apelar para as lideranças indígenas para que reflitam muito antes de seguir orientações do CIR.
A reportagem tentou falar, no final da tarde de ontem, com o presidente do CIR, Jacir de Souza, e com um representante da Igreja Católica, para que comentassem a respeito das denúncias do presidente da Sodiurr, mas não conseguiu

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