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Cineasta Lúcia Murat aborda o conflito dos Kadiwéu com pecuaristas

Amazônia Real (Manaus - AM) - www.amazoniareal.com.br
Autor: Alberto César Araújo
29 de Jun de 2015

Para documentar as mudanças ocorridas nos 15 anos que separam o longa de época "Brava Gente Brasileira" (2000) de seu mais recente filme, o documentário "A Nação Que Não Esperou Por Deus", a cineasta, produtora e roteirista Lúcia Murat retorna ao tema indígena. Ela retrata o complexo conflito entre fazendeiros e os índios da etnia Kadiwéu.

As filmagens de "A Nação Que Não Esperou Por Deus", com estreia marcada para o próximo dia 16 de julho nos cinemas, foram realizadas na Terra Indígena Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul, na mesma região onde há oitenta anos a expedição do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) fez história e foi determinante na mudança do pensamento sobre arte do antropólogo ao presenciar as pinturas feitas de jenipapo no corpo das indígenas.

No livro "Tristes Trópicos", Levi-Strauss narra sua expedição em 1935 no Brasil. Se nesta obra clássica, o antropólogo francês vai além da mera observação de um olhar estrangeiro e exótico a respeito dos índios "selvagens"- guerreiros, Murat se debruçou para um olhar mais atento, delicado diante da complexidade do tema.

A aldeia Nalike que Strauss visitou já não existe mais. Em seu lugar, surgiu uma fazenda, mas não muito longe dali, está a aldeia São João, na área rural do município de Porto Murtinho (MS), também retratada no filme de Murat.

Os Kadiwéu foram um dos primeiros povos indígenas a viverem numa das mais antigas Terras Indígenas do país, concedida ainda por D. Pedro II depois da participação dos Guaikuru na Guerra do Paraguai. Parte dela foi arrendada durante anos para fazendeiros da região. Depois de muita luta para recuperar quase toda a área original, os Kadiwéu cansaram de aguardar a regulamentação da Funai (Fundação Nacional do Índio) e partiram para a alto demarcação.

Nos dias atuais, com a chegada da eletricidade, da televisão, de cinco igrejas evangélicas com pastores indígenas e com sucessivas invasões de pecuaristas, grande parte de seu território foi invadido por fazendas. A pressão que a cultura Kadiwéu sofre é mostrada no filme. Segundo a sinopse encontrada no site de divulgação, as reuniões entre os Kadiwéu e os pecuaristas sobre a questão das terras são reveladoras não somente pela situação atual de pressão, mas de preconceitos que se acumularam na história da conquista.

A singularidade do projeto está no fato do material ter sido filmado em três momentos diferentes, ao longo de 17 anos. Com isso, pode-se acompanhar a história deste povo durante um período de grande transformação, quando o contato com a sociedade branca se intensifica. E ao mesmo tempo, através de "Brava Gente Brasileira", ter um pouco da sua história desde o século 18, material realizado a partir do cruzamento do depoimento dos antigos com a literatura branca.

Em "A Nação Que Não Esperou Por Deus", a principal liderança Kadiwéu, o cacique Ademir Matchua, é quem conduz a narrativa. Ele foi morto por um outro índio durante uma discussão sobre o futuro da aldeia no dia 11 de dezembro de 2014. As filmagens já tinham encerrado. Murat conheceu Ademir ainda adolescente quando fez figuração em "Brava Gente...".

Lúcia Murat revelou o seu sentimento a respeito do triste episódio com o cacique Ademir Matchua em recente entrevista publicada pelo portal UOL.

"Para mim significa perder alguém que tinha se tornado um amigo, um jovem que eu tinha conhecido durante as filmagens de 'Brava Gente Brasileira' e que nos surpreendeu 15 anos depois pela coragem, tranquilidade e sabedoria com que lidava com os pecuaristas num conflito extremamente difícil e delicado", afirmou a cineasta.

Como o documentário "A Nação Que Não Esperou Por Deus" tem uma distribuição limitada é intensão dos produtores, futuramente, promover debates com realizadores, antropólogos, ONGs e grupos indígenas para abrir a discussão sobre "quem é o índio hoje em dia?" E assim refletir sobre o descaso da mídia tradicional perante os conflitos externos (e internos) que, porventura, prejudicam a manutenção da cultura local da comunidade indígena Kadiwéu.

Quem são os Kadiwéu?

Segundo estudo do Instituto Socioambiental, os kadiwéu são conhecidos também como "índios cavaleiros", por sua destreza na montaria. Eles guardam em sua mitologia, na arte e em seus rituais o modo de ser de uma sociedade hierarquizada entre senhores e cativos. Guerreiros, lutaram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, razão pela qual, como contam, tiveram suas terras reconhecidas. No último levantamento populacional realizado pela Funai, os kadiwéu somavam como 1.346 pessoas, em 2009.

Trailer oficial - A nação que não esperou por Deus

As fotografias publicadas pertencem a produção do documentário. Mais informações no site: www.anacaoquenaoesperou.com.br

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