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Cimi acusa Funai e alerta sobre conflitos no Juruá

A Tribuna
31 de Out de 2007

A falta de uma postura clara da Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre os conflitos entre índios e seringueiros no alto rio Juruá pode levar a uma guerra em pouco tempo. O alerta é do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão que vem tentando avisar há muito tempo para a mistura explosiva de tráfico de droga e madeira, projetos de assentamento mal executados e terras indígenas sem demarcação.

O coordenador do Cimi, Lindomar Padilha, disse que um projeto para resolver o problema depende de uma ação mais efetiva da Funai nacional, que, em resposta, alega não ter recursos para sequer enviar uma equipe técnica ao Juruá. A ação da Funai é necessária porque recentes alterações legais deram ao órgão a responsabilidade por questões agrárias envolvendo povos indígenas.

"Há mais de 10 anos, o Incra implantou um projeto de assentamento na região, mas a área fica exatamente sobre as terras indígenas. É um absurdo que não foi levado em conta e como se não bastasse, dentro desse lugar ainda há várias rotas do tráfico de drogas e de madeira. Ou a Funai toma logo uma providência urgente ou os conflitos só vão aumentar", alerta Padilha.

Ações da Polícia Federal, do Ibama e do Imac já aconteceram na região, sem sucesso. De acordo com o Cimi, logo depois que as operações terminam os conflitos voltam a ser registrados.

Ontem, diante da ameaça de um conflito armado, o Cimi obteve da Funai local a promessa de intervenção na região. O estopim foi a divulgação, na imprensa, de um incidente bem simples para o estado de nervos na região: um seringueiro que teve a casa incendiada, supostamente por um grupo de apolima-araras - uma das três tribos que habitam a região.
No final da tarde, porém, Padilha entrou em contato com a reportagem e informou que a Funai não cumpriu o prometido e não enviou qualquer servidor para acompanhar o conflito.

A reportagem conferiu: o administrador regional da Funai está em Boca do Acre (AM) e a Funai em Cruzeiro do Sul está sem chefe de posto e ninguém responde pelos índios do Juruá. Diante do absurdo, o Cimi divulgou uma nota aberta à população. (Josafá Batista)

Nota pública do Cimi

"A situação de conflito entre índios e não-índios no Rio Amônia, no alto Juruá, município de Marechal Thaumaturgo, está cada vez mais explosiva.

Desde 1998 que um grupo de índios denominados Apolima-Arara (Arara do Amônia) iniciou uma luta pela regularização fundiária de sua terra. Em 2003 a Funai divulgou um relatório atestando ser a terra reivindicada como tradicional daquele povo.
Ocorre que a mesma terra é disputada pelos índios, moradores da Reserva Extrativista e por parceleiros do Incra. Ao longo desses anos aconteceram muitos casos de violência contra os indígenas sem que nenhuma medida tenha sido tomada no sentido de evitar outros conflitos de proporções ainda maiores.

No último dia 25, um senhor de nome Adailson, supostamente e segundo ele mesmo, com autorização do Ibama, resolveu levar a cabo uma de suas promessas: invadir a terra indígena e construir lá uma casa para morar.

A reação dos índios foi de atear fogo na casa do invasor enquanto ainda não havia moradores. No dia 26 quatro policiais Federais foram até o local na companhia de mais cinco soldados do Exército Brasileiro para constatarem o ocorrido e tentar apaziguar os ânimos.

Neste mesmo dia 26 tomaram depoimento de Francisco Siqueira Arara, cacique do povo e José Ângelo, importante liderança do povo. A Funai em Rio Branco já foi comunicada dos fatos e aguarda-se uma tomada de posição.
O que torna a situação ainda mais grave é que há nove anos esse conflito vem se arrastando. Ibama, Funai e Incra não se entendem e não tomam as medidas necessárias.

A comunidade, o movimento indígena e entidades de apoio, especialmente esse Cimi, têm denunciado sistematicamente o descaso das autoridades mas parece que não surte efeito.

Os índios encontram-se praticamente entrincheirados aguardando retaliações já que os não-índios prometeram reagir.
Nós, de nosso lado, cobramos das autoridades um fim àquela situação. Que seja demarcada em definitivo a terra e que todos os invasores sejam retirados como sendo o único meio de solucionar o problema e para que desgraças ainda maiores não venham a acontecer".

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