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Cientistas brasileiros vêm ao Acre pesquisar vacina do sapo Kampô em áreas indígenas

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Romerito Aquino
26 de Nov de 2005

Projeto Kampô vai estudar a viabilidade da vacina e da produção de fármacos e cosméticos, com repartição de benefícios para os índios

Ele é um pequeno sapo verde, conhecido de tempos imemoriais na floresta amazônica. Das cerca de 200 moléculas presentes em sua secreção cutânea, uma já virou a substância chamada deltorfina, medicamento internacional de ponta para evitar a isquemia cerebral. Outra resultou na dermorfina, um analgésico 40 vezes mais poderoso que a morfina.

Usada como vacina ou injeção, a secreção expelida pelo corpo do sapo verde é muito boa, segundo os índios, para dar saúde, alegria e sucesso na vida. Serve para caçar, pescar e, ainda, conseguir um amor. "Se tomar (a injeção), assim como a caça vem, a mulher também vem e não sabe nem porque", ensinam os índios. Para os curandeiros não-índios da selva, a injeção ou vacina também já curou, nas últimas décadas, muita úlcera, gastrite, renite, malária e males do intestino e do estômago.

Paralelo à conhecida história terapêutica desse poderoso sapinho amazônico, existe outra fantástica, que veio com a notícia dada em setembro deste ano pelos cientistas do Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, dos Estados Unidos, que descobriram, em testes de laboratórios, que peptídeos encontrados na pele de alguns tipos de sapos (a do Kampô têm os peptídeos deltorfina e dermorfina) também servem para impedir a infecção provocada pelo vírus HIV, causador da Aids. A notícia não especifica o sapo Kampô, mas tudo leva a crer que ele está incluído no rol desses futuros salvadores da humanidade.

O sapo em questão é o Kampô ou Kambô, muito comum na selva acreana, que começará a ter sua secreção cutânea e seus usos estudados a partir do primeiro semestre de 2006 nas aldeias dos índios Katukina, Yawanawá e Kaxinawá, no Vale do Juruá, por equipes de cientistas de várias instituições públicas e privadas brasileiras, sob a coordenação do Programa Brasileiro de Bioprospecção e Desenvolvimento Sustentável de Produtos da Biodiversidade (Probem).

Idealizado pelo Ministério do Meio Ambiente, a partir de uma carta enviada à ministra Marina Silva em abril de 2003 por lideranças dos índios Katukina do rio Campinas (Cruzeiro do Sul) que reclamavam do comércio, entre brancos, da vacina do famoso sapo de suas matas, o Projeto Kampô deve se transformar no primeiro grande projeto de bioprospecção de medicamentos do Brasil com repartição de benefícios entre os detentores do conhecimento tradicional. No caso, os índios do Acre e do Vale do Javari, no sudoeste do Estado do Amazonas, que também usam, segundo os antropólogos, a vacina do Kampô desde os tempos imemoriais.

Principais objetivos do Projeto Kampô, do Ministério do Meio Ambiente, que conta com o apoio de vários outros ministérios

1 - Executar projeto de bioprospecção para identificar na secreção do sapo moléculas ou princípios ativos para o desenvolvimento de fármacos e cosméticos.

2 - Pesquisar efeitos clínicos da vacina para detectar os potenciais efeitos benéficos e maléficos para a saúde humana.

3 - Estudo da biologia e da ecologia do sapo, dando subsídios para análise da sustentabilidade do uso econômico e do plano de manejo da espécie.

4 - Estudo antropológico sobre o conhecimento indígena relacionado ao uso do Kampô.

Peptídeos do sapo ajudam até a combater a Aids

"O projeto tem um caráter integrador, no sentido de procurar estabelecer uma conexão entre o saber tradicional - associado ao uso etnofarmacológico do Kampô, por povos indígenas -, a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico a partir desse etnofármaco para a geração de novos produtos por empresas e instituições de pesquisa nacionais", assinala o texto do projeto, em andamento na capital federal desde o início deste ano. O texto preliminar do projeto diz ainda que seu objetivo "é garantir a proteção do conhecimento tradicional e a repartição de benefícios oriundos das inovações para os detentores destes conhecimentos e práticas relacionadas à biodiversidade".

Além do projeto de bioprospecção, que visa identificar na secreção do sapo moléculas ou princípios ativos para o desenvolvimento de fármacos e cosméticos, o Projeto Kampô vai pesquisar os efeitos clínicos da vacina para detectar os potenciais efeitos benéficos e maléficos para a saúde humana. Outra fase do projeto prevê o estudo de biologia e de ecologia do sapo, dando subsídios para análise da sustentabilidade do uso econômico e do plano de manejo para a criação dos anfíbios a fim de ser disponibilizado material biológico do projeto de bioprospecção de fármacos e cosméticos. O projeto prevê, ainda, a realização de estudos antropológicos sobre o conhecimento indígena relacionado ao uso do Kampô e seus aspectos etnoecológicos.

Desta forma, com o assentimento dos índios Katukina, Yawanawá e Kaxinawá, estarão visitando nos próximos meses as três aldeias indígenas acreanas, situadas em Tarauacá e em Cruzeiro do Sul, cientistas e pesquisadores ligados a importantes instituições públicas e privadas estaduais e federais. Entre as instituições se destacam a Associação dos Índios Katukina do Campinas (AKA), SEPI, IMAC, Seprof, Seater, Embrapa, Funasa, Funai, Abin, Ibama, Instituto do Coração de São Paulo (Incor), Amazonlink.org, CNPq e Universidades Federais do Acre (UFAC), Amazonas (UFAM), Ceará (UFC), Paraná (UFPR) e de Brasília (UNB), além da renomada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e principais secretarias do Ministério do Meio Ambiente.

Devido à grande importância que o Projeto Kampô terá para o futuro do Acre enquanto estado detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta e que pode ser palco para outros estudos científicos que visem tirar da floresta de forma sustentável, através da biotecnologia, a extrema riqueza que ela possui, o jornal Página 20 publica diariamente, a partir de hoje e nas edições de sábado e domingo, uma série de três reportagens, contendo entrevistas e relatos que detalham a história deste poderoso e rico sapo amazônico.

A pesquisa científica que ocorrerá no Acre sobre as propriedades da secreção do sapo Kampô pode se transformar, em breve, na primeira grande resposta econômica que os cientistas brasileiros terão a oferecer para provar que a exploração sustentável das incalculáveis riquezas vegetais e animais existentes na Amazônia é muito mais vantajosa do que a pecuária, a soja e qualquer outro produto de monocultura, que, juntos, vêm apenas concentrando riqueza e causando desmatamento em todas as bordas da maior floresta tropical do planeta.

Dos relatos de 1925 às pesquisas modernas de nível internacional

Chamado pelos índios Katukina de Kampô ou Kambô e de Kãpun, pelos índios Kaxinawá, todos povos da família lingüística Pano, como também são os Yawanawá de Tarauacá, os Jaminawá dos vales do Acre e Purus e os Marubo e Mayoruna (Matsés), do Vale do Javari amazonense, o sapo, na verdade, é uma perereca que tem nome científico de Phyllomedusa bicolor, muito encontrada embaixo de árvores próximas a igarapés das aldeias, que coaxam por toda a noite anunciando chuva no dia seguinte.

Também comum em outros países amazônicos, como Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas, o sapo Kampô é "capturado" de madrugada pelos índios, que retiram sua secreção cutânea para fazer a chamada "vacina do sapo", que hoje é difundida nas cidades do Juruá, em Rio Branco e em outras capitais brasileiras, onde falsos curandeiros chegam a vender uma dose da vacina por até R$ 300,00.

A secreção é usada pelos índios do Alto Juruá acreano em pequenas incisões queimadas na pele por tições acesos para tirar a "panema", espécie de fraqueza do corpo e do espírito, ou a má sorte de uma maneira geral, que seria responsável por boa parte das enfermidades e estados negativos de diversas naturezas. Os indígenas utilizam a vacina principalmente para dar vigor aos caçadores e combater doenças diversas, mas também a usam de forma preventiva, sendo a vacina aplicada em crianças, mulheres e idosos.

Sensação da vacina é de leveza e fortaleza

O efeito da vacina do sapo é curto, em torno de 15 minutos, porém muito forte. Os que a tomam dizem sentir uma forte onda de calor subindo pelo corpo e indo até a cabeça. A dilatação dos vasos sanguíneos parece provocar uma circulação mais veloz do sangue, deixando o rosto vermelho. Em seguida, o paciente fica pálido, com pressão baixa e começa a sentir sensações de fortes náuseas, que desembocam em vômito ou diarréia. A sensação desagradável vai sendo substituída aos poucos pela de normalidade, com o paciente passando a se sentir forte e leve, como se tivesse feito uma boa limpeza, causando uma grande disposição.

Seguidas reportagens realizadas até por veículos de projeção nacional, como a TV Globo fez em 2002, levaram, no entanto, ao uso indiscriminado da vacina do Kampô, que passou a ser propagada "como uma substância particularmente eficaz na cura de enfermidades para as quais a medicina ocidental não tem tido sucesso em tratar", conforme assinala a antropóloga Edilene Coffaci de Lima, membro da equipe de antropólogos que vai ao Acre estudar cientificamente o Kampô.

A propagação dos "benefícios" da vacina chegou até a Internet, mas em abril de 2004 foi proibido qualquer tipo de propaganda sobre ela pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estuda a proibição definitiva de sua aplicação em locais fora das regiões tradicionais, até que os cientistas estudem e, se for o caso, regulamentem o seu uso público. A Anvisa considera que o paciente que consome a vacina do sapo está sujeito a sérios danos à saúde.

Publicamos nesta página central do encarte uma seqüência de fotos do fotógrafo Alexandre Roger que mostram, no município de Rodrigues Alves, um pouco do que é a aventura de ir atrás de sapos Kampô durante a madrugada, subindo rios e entrando na mata fechada até encontrar igarapés, lagoas e igapós, que são o seu habitat natural.

Em sua dissertação de mestrado e tese de doutorado sobre os índios Katukina dos rios Campinas e Gregório e no recente artigo que publicou sob o título "Do Kampô ao Kambô: transformações do uso do sapo verde entre os Katukina", a antropóloga Edilene Lima lembra o início do relato antropológico do uso medicinal da vacina do sapo Kampô. E esse relato começou há exatos 80 anos, quando o padre espiritano francês Constantin Tastevin registrou o fato em suas andanças pelo Alto Juruá acreano.

Italianos foram os primeiros a descobrir propriedades

Publicado na revista francesa La Geographie, em 1925, o texto do padre, com o título "Lê fleuve Muru", fez a primeira descrição científica sobre o uso da secreção da famosa perereca verde como estimulante cinegético (estímulo à caça). Sua descrição diz respeito às aplicações da secreção do sapo que observou entre os índios Kaxinawá, que viviam e ainda vivem no alto rio Muru, principal afluente da margem direita do rio Tarauacá.

"O exército de batráquios é incontável. O mais digno de ser notado é o campon (como designou o sapo à época) dos Kachinaua. Quando um indígena fica doente, se torna magro, pálido e inchado; quando ele tem azar na caça é porque ele tem no corpo um mau princípio que é preciso expulsar. De madrugada, antes da aurora, estando ainda de jejum, no doente e no azarado produzem-se pequenas cicatrizes no braço ou no ventre com a ponta de um tição vermelho, depois se vacinam com o 'leite' de sapo, como dizem. Logo são tomados de náuseas violentas e de diarréia; o mau princípio deixa o corpo por todas as saídas: o doente volta a ser grande e gordo e recobra as suas cores, o azarado encontra mais caça do que pode trazer de volta; nenhum animal escapa da sua vista aguda, o seu ouvido percebe os menores barulhos, e sua arma não erra o alvo", testemunhou o padre francês.

Pelo que consta no site da Amazonlink.org, as pesquisas científicas sobre as propriedades da secreção do sapo Kampô vêm sendo realizadas desde o início da década de 80. O primeiro a "descobrir" as propriedades da secreção para a ciência moderna foi um grupo de pesquisadores italianos. Depois, amostras do sapo foram levadas do Peru para um pesquisador dos Estados Unidos, que já tinha pesquisado e patenteado anteriormente substâncias da rã Epipedobates tricolor, utilizada tradicionalmente pelos povos indígenas do Equador.

Também foram publicadas pesquisas sobre as propriedades da secreção do Kampô por pesquisadores franceses e israelitas. Mais recente, a norte-americana Universidade de Kentucky pesquisou e patenteou as substâncias dermorfina e deltorfina em colaboração com a empresa farmacêutica ZymoGenetics. (R.A.)

Pesquisas norte-americanas apontam até para a cura da Aids

Para demonstrar o poder científico, médico e financeiro da secreção do sapo Kampô, o site Amazonlink.org revelou, em julho de 2003, a existência de nada menos que 10 patentes internacionais sobre os seus dois peptídeos conhecidos (dermorfina e a deltorfina) originários da secreção do sapo e já pesquisados por universidades e outras instituições internacionais.

São patentes registradas desde 1989 no Japão, na União Européia e, principalmente nos Estados Unidos, onde uma delas contou com a contribuição de cientista israelense. Algumas das patentes estão, inclusive, valorizadas em mais de seis milhões de dólares.

A exemplo do que tem acontecido com a patente do Cupuaçu, que vem sendo cancelada em vários mercados internacionais por pressões de instituições da sociedade civil, do governo e do Congresso brasileiros, oito das patentes sobre a dermorfina e a deltorfina também podem vir a ser questionadas porque foram concedidas depois da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), realizada em 1992. No caso das patentes norte-americanas, essa hipótese torna-se difícil de ocorrer porque os Estados Unidos não ratificaram até hoje a CDB.

Os poderes da dermorfina e da deltorfina

A Convenção da Diversidade Biológica instituiu o novo paradigma internacional de que os recursos genéticos passam a ser de propriedade dos países que os detêm e não mais pertencentes à humanidade, como era antes. Isso vai beneficiar, sobremaneira, o Brasil e outros países megabiodiversos no caso de descobertas de novas substâncias importantes presentes nas inúmeras moléculas da secreção do sapo Kampô.

Ao divulgar os registros das patentes sobre duas das cerca de 200 moléculas da secreção do Kampô, o Amazonlink assinala que as pesquisas internacionais revelaram que tal secreção contém uma série de substâncias "altamente eficazes", sendo as principais a dermorfina e a deltorfina, pertencentes ao grupo dos peptídeos.

"Esses dois peptídeos eram desconhecidos antes das pesquisas de Phyllomedusa bicolor. Dermorfina é um potente analgésico e deltorfina pode ser aplicada no tratamento da Isquemia, ou seja, um tipo de falta de circulação sanguínea e falta de oxigênio, que pode causar derrames", assinala o documento do site.

E a informação mais importante veio a seguir no mesmo site. "As substâncias da secreção do sapo também possuem propriedades antibióticas e de fortalecimento do sistema imunológico e ainda revelaram grande poder no tratamento do Mal de Parkinson, Aids, câncer, depressão e outras doenças". A dermorfina e a deltorfina já estão sendo produzidos de forma sintética, com os laboratórios podendo adquirí-las através de compra on-line pela Internet, pagando royalties aos donos das patentes.

Revista confirma poder dos peptídeos do Kampô

Divulgada em julho de 2003, a informação do Amazonlink coincide com a informação publicada em 29 de setembro deste ano pela revista Galileu, de cunho cientifico, que revelou que pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, dos Estados Unidos, haviam acabado de descobrir que peptídeo encontrado na pele de sapos bloqueia ação do virus HIV, da Aids, em laboratório.

Os peptídeos são moléculas pequenas com estrutura similar à das proteínas. Em diversas espécies de sapos, inclusive o Kampô, ocorre a produção dessa substância na superfície da pele para proteger o animal de bactérias, fungos e vírus. No laboratório da universidade norte-americana, foram isolados 15 peptídeos com ação antimicrobial. "Estes foram aplicados a um conjunto de células que representava os glóbulos brancos e as células T, responsáveis pela defesa do organismo e principais atingidas pelo HIV. A ação de alguns peptídeos impediu a contaminação das células T no momento em que o vírus passava de uma célula para outra.", assinala a revista Galileu. O HIV, vírus causador da Aids, age no corpo destruindo as células T, cuja estrutura é altamente especializada e age na defesa do corpo contra microorganismos invasores causadores de infecção.

É grande a dívida com o Brasil e as populações tradicionais

As patentes internacionais registradas sobre as duas potentes substâncias medicinais descobertas na secreção do sapo Kampô (a dermorfina e a deltorfina) do Acre e de outras regiões da Amazônia sul-americana são frutos ou não da biopirataria internacional, que só do lado brasileiro dariam um prejuízo anual hoje estimado em mais de 10 bilhões de dólares?

Essa é a pergunta básica que precisa ser respondida em tribunais internacionais para saber o tamanho do prejuízo que os índios e outras populações tradicionais da Amazônia tiveram nas últimas décadas pelo roubo do vasto conhecimento que acumularam sobre a natureza por inúmeras gerações, além de terem preservado e mantido vivos os seus preciosos recursos genéticos.

Os pesquisadores do Amazonlink, no entanto, dizem não saber se, e até que grau, o termo biopirataria se aplica para os detentores das patentes e marcas sobre as duas substâncias da secreção do sapo Kampô, que já propiciaram a eles nos últimos anos lucros de centenas de milhões de dólares. Veja, nesta página, o quadro das 10 patentes internacionais registradas para as substâncias dermorfina e deltorfina, presentes na secreção do Kampô. Algumas delas são registradas em valores de mais de US$ 6 milhões de dólares.

"Porém, achamos que estes processos devem ser monitorados, discutidos e avaliados por especialistas, pela população em geral e principalmente pelas populações que utilizam tradicionalmente este recurso", diz o documento dos pesquisadores. Em dezembro de 2002, os pesquisadores do site denunciaram uma série de patentes e marcas sobre recursos biológicos da Amazônia e lançaram a campanha denominada "Limites Éticos acerca do Registro de Marcas e Patentes de Recursos Biológicos e Conhecimentos Tradicionais da Amazônia", que até hoje é considerada um marco no processo de discussão e tomada de decisão sobre o tema.

As fortunas roubadas pela biopirataria

A campanha e, principalmente, a revelação sobre os registros do Cupuaçu causaram grande repercussão tanto a nível nacional quanto internacional, onde algumas das patentes vêm caindo pela absoluta falta de lógica de, no caso da fruta amazônica, ser o próprio nome do produto regional. Várias outras organizações brasileiras aderiram à campanha, coordenada pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), que hoje representa mais de 400 ongs atuantes na Amazônia brasileira.

A campanha das ongs visa conscientizar a sociedade civil, considerando todas as camadas sociais (pesquisadores, indígenas, produtores agroextrativistas, acadêmicos, políticos e outros) sobre o complexo assunto de biopirataria. A iniciativa pretende, ainda, alertar a todos sobre os registros de patentes relacionadas a recursos genéticos, que agridem a identidade cultural das populações indígenas da Amazônia.

Como é sabido, a história da biopirataria na Amazônia brasileira não começou e nem vai terminar com as substâncias poderosas do sapo Kampô, que resultarem em patentes milionárias em várias partes do mundo. A biopirataria começou logo depois da descoberta do Brasil pelos portugueses em 1500, quando os mesmos roubaram dos povos indígenas da região o segredo de como extrair um pigmento vermelho do Pau Brasil.

Atualmente, a flora e a fauna do país continuam desaparecendo e a madeira que deu ao Brasil o seu nome é preservada apenas em alguns jardins botânicos. Da mesma forma, outras substâncias genuinamente brasileiras, como o curare, o quinino e as patentes internacionais da Ayahuasca (ou Santo Daime) e do sangue dos índios Suruí, de Rondônia, são apenas alguns exemplos desta triste história de exploração colonialista dos povos.

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