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Cidades sofrem impactos da romaria de haitianos no Acre

O Globo, País, p. 4
21 de Jan de 2014

Cidades sofrem impactos da romaria de haitianos no Acre
Serviço público de saúde em Brasileia e Epitaciolândia entra em colapso

Jaqueline Falcão e Gustavo Uribe

SÃO PAULO - A entrada em massa de haitianos no Brasil, só este ano 880 imigrantes já pediram refúgio ao país, tem causado impactos na oferta de serviços públicos em cidades como Brasileia e Epitaciolândia, no Acre, principais portas de entrada dos estrangeiros na fronteira com a Bolívia e o Peru. Atualmente, 1,1 mil imigrantes vivem em abrigos na região fronteiriça, o que tem levado as cidades a enfrentarem problemas como falta de infraestrutura e aumento das despesas municipais.
Em Epitaciolândia, além dos estoques de medicamentos terem diminuído, aumentou a sujeira nas ruas e praças, e o poder público tem lidado com brigas entre estrangeiros, sobretudo entre haitianos e senegaleses. Em Brasileia, o principal posto de saúde tem atendido, por dia, 70 haitianos para três moradores que procuram por ajuda. Na cidade, a situação de saúde dos haitianos, boa parte com problemas respiratórios, deixa o atendimento aos moradores da cidade "em segundo plano". Na primeira quinzena deste ano, por exemplo, 480 haitianos já foram atendidos no principal posto de saúde.
A prefeitura de Brasileia cobra atenção do estado e diz que, até agora, a única ajuda que recebeu foi um repasse de R$ 56 mil do Ministério da Saúde, em outubro do ano passado. Por mês, o município gasta R$ 30 mil apenas com remédios para imigrantes, os quais representam cerca de 10% da população. Os recursos, segundo autoridades locais, seriam suficientes para arcar com os custos em medicamentos por dois meses para a população local.
- Cuidar desses haitianos não é só uma atribuição do município. Nós precisamos de ajuda. O Ministério da Saúde libera recursos para os estados, que fazem repasses aos municípios. A situação está ficando cada dia mais difícil. A nossa população está ficando em segundo plano para atendermos essa demanda de haitianos. Isso não está certo - afirmou a secretária municipal de Saúde, Aldenice Ferreira.
O secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, chegou a sugerir ao governador que a fronteira seja fechada temporariamente para evitar a entrada de haitianos, mas Tião Viana é contra a medida. Segundo a secretária municipal da Saúde, por dia, são atendidos cerca de 70 haitianos doentes no posto de saúde, que fica lotado.
- A maioria tem problemas intestinais, micose e infecção respiratória. Atendemos e entregamos medicamentos para que eles se tratem. O morador chega, vê o local lotado e vai embora para um posto de saúde mais distante. Estou atendendo apenas três moradores por dia nesta unidade de saúde - disse a secretária municipal.
A secretária estadual de Saúde, Suely Melo, rebateu as reclamações da prefeitura e disse que o estado atende 70% da demanda de pacientes que seriam de competência do município. Segundo ela, a maioria dos haitianos busca atendimento na rede estadual e uma minoria recorre ao posto da prefeitura. Para ela, não existe um problema de saúde na população abrigada na cidade, mas um problema social. Segundo ela, o poder público tem a obrigação de contratar dois médicos para atender exclusivamente os haitianos. Os profissionais, porém, desistem de trabalhar na cidade entre 30 e 60 dias após contratados.
- No entanto, dois dias na semana há um médico da nossa rede atendendo os haitianos na nossa unidade de saúde - garantiu.
Em Epitaciolândia, segundo o prefeito André Luiz Hassem, a cidade não tem como abrigar o grande volume de estrangeiros que passa por ela em busca de refúgio no país. Segundo ele, o poder público não tem como arcar com a alta demanda de medicamentos no principal posto de saúde do município. De acordo com o prefeito, desde a primeira ajuda do governo federal, cresceu a população de imigrantes que tem atravessado a fronteira.
Segundo relatos do prefeito, tem havido brigas entre estrangeiros e alguns imigrantes fazem necessidades básicas em locais públicos, o que tem elevado a quantidade de sujeira.
- O município não está aguentando mais tanta gente em relação à oferta de remédios e de infraestrutura. E a cidade tem ficando muito suja. Não há condições de abrigar tanta gente, não chegou a infraestrutura necessária. A cidade não comporta tanta gente - reclamou.
A infecção respiratória que tem acometido os haitianos tem ocorrido devido às condições climáticas durante a viagem até o país. Outro fator que contribui para isso é a aglomeração nos alojamentos. Segundo as autoridades de saúde, a exposição ao sol e a falta de banhos durante a jornada até chegar ao Brasil tem provocado queimaduras e outros problemas na pele, causados por fungos.

O Globo, 21/01/2014, País, p. 4

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