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Cidade virou novo foco de devastação na Amazônia

OESP, Nacional, p. A7
15 de Fev de 2005

Cidade virou novo foco de devastação na Amazônia

BELÉM - A grilagem desenfreada de terras públicas e a extração ilegal de madeira transformaram em menos de quatro anos o município de Anapu numa região semelhante ao que foi o oeste dos Estados Unidos e no mais novo foco da devastação florestal na Amazônia. Pistoleiros circulam pelas ruas com desenvoltura enquanto a cada dia chegam novos migrantes a esse município do sudoeste paraense, entre Altamira e Pacajá, no coração da Rodovia Transamazônica.
Os migrantes chegam iludidos com a perspectiva de encontrar emprego, terra barata e recursos naturais para explorar. O que encontram é frustração. Menos de 20 pessoas, quase todas pecuaristas de Altamira, a 220 quilômetros do município, se declaram proprietários da maioria das terras.

Os números dessa nova corrida fizeram Anapu triplicar sua população: 7 mil pessoas viviam há cinco anos na região. Agora, são mais de 20 mil. As madeireiras pularam de 5 para 34 somente nos últimos 2 anos.

CLIMA DE GUERRA

A disputa por terras se concentra numa área de 120 mil hectares, onde a missionária Dorothy Stang montou um projeto que pretende transformar trabalhadores sem-terra em pequenos produtores rurais com a vantagem de tirar do chão o próprio sustento sem devastar a floresta. O modelo implantado por irmã Dorothy responde pelo nome de Projeto de Desenvolvimento Sustentado (PDS).

É uma sigla amaldiçoada por fazendeiros e madeireiros, que lutam com unhas e dentes para impedir que o projeto vingue. O governo federal garante que o PDS será uma realidade, custe o que custar. E já custou a morte de sua idealizadora.

Nas glebas Belo Monte, Bacajá, Esperança e Virola Jatobá, onde os lotes estão prontos para demarcação pelos técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para ser entregues aos lavradores que eram ligados à irmã Dorothy, um clima de guerra se instalou. Pistoleiros fazem o papel de leões de chácara de supostos proprietários das terras, impedindo que os técnicos do governo realizem a medição das terras.

Empregados de serrarias são levados para os lotes, recebem barracos dos fazendeiros e ordens para ficar nas terras e garantir a área para seus patrões. Os trabalhadores do PDS tacham de jagunços os funcionários dos fazendeiros.

Chegar nos lotes, localizados a 50 quilômetros da cidade de Anapu, é tarefa tão difícil quanto percorrer a caótica Rodovia Transamazônica, transformada nesta época de inverno amazônico num imenso atoleiro. Pelo caminho, carretas e caminhões atolados são puxados por tratores. Quem tiver no mínimo R$ 50 para pagar o tratorista pode garantir a viagem.

Em seus 1.800 quilômetros dentro do Pará, a estrada só tem 40 quilômetros de asfalto, entre Marabá e Utupiranga. Na região vivem mais de 1 milhão de pessoas, a maioria migrantes de Rio Grandes do Sul, Paraná, Minas Gerais e Goiás.

OESP, 15/02/2005, Nacional, p. A7

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