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Ciclistas espalham árvores na cidade de São Paulo

Folha Online - www1.folha.uol.com.br
Autor: ANA PAULA BONI
21 de Set de 2009

Com capacete e luvas, Lilia Diniz, 29, ajuda a apertar uma tira de corda em volta de uma enxada na bicicleta de Anderson Leal, 34. Depois, ele equilibra uma muda de árvore, uma palmeira juçara, de cerca de um metro na garupa da bicicleta dela.

São 8h30 de um domingo e eles estão no parque Ibirapuera, à espera de outras pessoas, que também vão carregar plantas, instrumentos e sacos com mais de 10 kg de terra.

Nenhum deles, no entanto, é funcionário do parque. Todos fazem parte de um grupo chamado Pedal Verde, que une o prazer da pedalada ao de preservar o ambiente. No último domingo de cada mês, desde março deste ano, eles saem de bicicleta pela cidade com a missão de plantar mudas em praças, canteiros e ruas carentes de verde.

Se o domingo é de sol, o grupo passa de 20 pessoas. Algumas transportam as mudas, que geralmente são cinco, mas podem ser mais. Os outros ciclistas carregam o indispensável para o plantio. "Não é uma questão de quantidade, mas de incentivar os paulistanos a pensarem no tema", diz a advogada Lilia. "Muitos param a gente na rua, ficam curiosos, querem saber o que estamos fazendo."

Ela é uma das precursoras do Pedal Verde, que nasceu a partir de um grupo de vidrados em bicicleta que fazem um passeio noturno por mês pela cidade --a chamada Bicicletada.

Em 14 de janeiro, uma dessas ciclistas, Márcia Regina Prado, 40, andava sozinha de bike na avenida Paulista quando foi atropelada por um ônibus e morreu. "Resolvemos plantar uma árvore em homenagem a ela, na praça do Ciclista", conta a designer Juliana Gatti, 28. "Gostamos da ideia e criamos o Pedal Verde."

O projeto pegou e a cada mês mais gente vai se juntando ao grupo. Em sua sexta edição, no último domingo de agosto, foi a primeira vez do designer André Viceconti, 28, amigo de Juliana. "No dia a dia, a gente sempre diz que queria fazer alguma coisa pelo mundo, pela sociedade. Mas ninguém acaba fazendo nada. Por isso, eu resolvi me mexer."

O ponto de encontro da turma é o viveiro Manequinho Lopes, que fica dentro do parque Ibirapuera. No espaço, há uma cordilheira de mudas de árvores de cerca de dois metros de altura, que circunda a calçada do local. É um estoque médio de 20 mil árvores, além de arbustos e outras plantas.

Numa praça

Naquele domingo, os 14 ciclistas saíram do parque pela avenida República do Líbano e se dirigiram à rua Varginha, no Sumaré. Antes de chegar ao local do plantio --a praça Abelardo Rocas-, eles chamavam a atenção pedalando pelas avenidas Brasil, Henrique Schaumann e Sumaré. "Não me sinto tão à vontade para andar de bicicleta na cidade. Mas por esse movimento vale a pena", afirma o engenheiro Anderson, também pioneiro no movimento ecológico-ciclístico.

Na hora do plantio, eles se revezam cavando os buracos, tirando pedras, pondo a muda, ajeitando a terra e regando. Todo mundo ajuda como pode. No local, mais gente é surpreendida com a ação do grupo. São moradores das redondezas, como a socióloga Janaína Caldas, 36, que todos os dias leva seu cachorro para passear na praça Abelardo Rocas. "Eles estão de parabéns. Algumas ainda são árvores frutíferas. É muito legal."

Além dos vizinhos, que "adotam" as plantas, os próprios "pedaleiros" voltam para ver como as árvores estão. Afinal, uma muda de dois metros de uma espécie que pode chegar a 20 metros ainda é um bebê. "Plantar não é só cavar e pôr a muda ali.

Precisa regar, principalmente no inverno", afirma Juliana, que também é fundadora da associação Árvores Vivas, voltada para a educação ambiental.

Adote uma árvore

Cada vez que o Pedal Verde vai às ruas, o local do plantio está previamente aprovado pela prefeitura. Por lei, ninguém pode sair por aí modificando áreas públicas. Mas o processo não é tão burocrático quanto parece. E o poder público dá uma força, já que é do interesse do governo encher a cidade de verde. Em sete meses, o grupo de ciclistas espalhou pela cidade 47 árvores.

"O próprio viveiro Manequinho Lopes pode intermediar a autorização, como fazemos com o Pedal Verde", explica a engenheira agrônoma Cyra Malta, 42, diretora da divisão técnica de produção e arborização da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Além de funcionária da prefeitura responsável pelos três viveiros municipais, Cyra se tornou parte do grupo de ciclistas, desde a primeira edição.

Ela aproveita para divulgar o projeto de incentivo à arborização urbana da prefeitura, por meio do qual são doadas mudas a qualquer cidadão. Para plantar no jardim de casa ou na calçada em frente à residência, não é necessária autorização.

É só ir até um viveiro ou a um dos parques que participam do projeto, preencher uma ficha e ter em mãos informações sobre onde irá plantar. O alerta é bem-vindo para que a árvore, se for inadequada para o local, depois não tenha de ser derrubada -pela própria prefeitura.

"A gente sempre diz: 'Plante uma árvore, não um pepino, não um problema'", diz Cyra. "Quando a árvore tem de ser retirada do local, dizem que a prefeitura está destruindo o verde."

Nesta semana, em que se comemora o Dia da Árvore (amanhã) e o início da primavera (quarta), há motivo de sobra para quem precisava de um empurrão para adotar sua própria muda.

Saiba em quais parques e viveiros as mudas são doadas em www.folha.com.br/092584

Mais informações em http://pedalverde.wordpress.com

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