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Chuvas diminuem, e represas batem em limite de risco

FSP, Dinheiro, p. B6
18 de Jan de 2008

Chuvas diminuem, e represas batem em limite de risco
Reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste descem a 44,8% da capacidade; há um ano, estavam em 67,6%
Necessidade de energia termelétrica triplica em 12 meses; governo articula aumentar o fornecimento de gás e óleo para usinas

Humberto Medina
Da sucursal de Brasília

Gitânio Fortes
Da Redação

Na última quarta-feira, os reservatórios de água das usinas hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste desceram a 44,8% de sua capacidade, tocando no limite de risco -abaixo desse percentual, o governo deve diminuir a geração nas hidrelétricas para conter o esvaziamento. Em 16 de janeiro do ano passado, esses reservatórios estavam com 67,6%.
No começo de 2007, as chuvas estavam muito mais intensas nesta época em janeiro -na ocasião, estava chovendo mais do que a média histórica do período (161% da média histórica). Agora, o volume está bem menor -52% da média.
Em tese, quando o nível de risco dos reservatórios é atingido, o governo determina o acionamento das termelétricas. Com mais energia termelétrica produzida, as hidrelétricas são poupadas e o esvaziamento dos reservatórios é contido. O governo, no entanto, já havia tomado a providência de colocar em funcionamento a maioria das termelétricas e restam poucas usinas para acionar.
Na última quarta-feira, foram gerados 4.711 MW médios de energia termelétrica (sem contar as usinas nucleares), o que representou 7,74% do total gerado. No ano passado, quando a situação dos reservatórios era bem melhor, foram gerados apenas 1.469 MW médios, ou 2,66% do total. Em um ano, a piora no nível dos reservatórios quase triplicou a necessidade de energia termelétrica.
Agora, o governo trabalha com a Petrobras para aumentar a logística de distribuição de óleo para as termelétricas e para elevar o fornecimento de gás. Em fevereiro, o governo conta com a conclusão do gasoduto que liga Vitória (ES) a Macaé (RJ). Com isso, haverá gás para a termelétrica de Macaé gerar mais 1.000 MW.
No fim do primeiro semestre, está prevista a entrada em funcionamento de um terminal de GNL (Gás Natural Liqüefeito) em Pecém (CE). A expectativa é que seja possível adicionar mais 6 milhões de metros cúbicos de gás por dia no mercado. Em setembro, o terminal de GNL do Rio de Janeiro, com capacidade para 14 milhões de metros cúbicos por dia, deve estar funcionando.

Comparação
Com exceção da região Sul, os reservatórios das hidrelétricas estão nos mais baixos níveis, para o mês de janeiro, desde 2001, o ano do "apagão", que marcou o governo FHC. É o que mostra comparação realizada pela Folha a partir de informações do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
A evolução do volume armazenado nas represas, chamado pelos técnicos de "energia armazenada", indica o potencial de movimentação das turbinas que propicia a produção para o consumo elétrico.
No dia 16, dado mais recente disponível na página do ONS na internet ontem, os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste estavam com 44,84% da capacidade. Janeiro de 2000 terminou com 29%. O mesmo mês de 2001, ano do apagão, com 31,41%. Os 44,84% representam 57,2% do volume de água que havia nas represas das duas regiões no final de janeiro do ano passado. A expectativa é de recuperação nesse número.
Ontem, em Fortaleza (CE), foi divulgada a previsão de chuvas para o trimestre fevereiro, março e abril. O trabalho foi realizado pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia, ligado ao Ministério da Agricultura) e o Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia). A previsão é que Sudeste e Centro-Oeste contem com chuvas dentro da média histórica, diz o meteorologista Fabrício Daniel dos Santos Silva.
Na região Norte, com apenas 29,38%, a capacidade no dia 16 estava no menor patamar da década para janeiro -na comparação com os dados fechados para o mês. O mesmo registro vale para o Nordeste, com 27,14%. Segundo Santos Silva, no caso do Norte, a previsão é que chova acima da média histórica no trimestre que se encerra no final de abril. Para boa parte do Nordeste, a meteorologia indica chuvas em quantidades normais, mas abaixo da média histórica na bacia do rio São Francisco, que concentra usinas importantes.
Com 69,86%, o Sul apresentou a mais alta capacidade de energia armazenada entre todas as regiões do país no dia 16. O volume representa crescimento de 10,3% em relação a janeiro de 2007. A previsão indica, de fevereiro a abril, chuvas normais no Paraná e em Santa Catarina, mas abaixo da média no Rio Grande do Sul.

Para analista, medida atenua risco com chuva

Da sucursal do Rio

Na avaliação do coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico) da UFRJ, Nivalde de Castro, a regulamentação da contratação de energia de reserva mostra que o governo federal quer fugir do risco de falta de chuvas.
"O equilíbrio da oferta para este ano depende de dois santos: são Pedro, que precisa nos mandar chuva, e Nossa Senhora das Graças, para nos trazer GNL (Gás Natural Liqüefeito). Essa medida é uma forma de se proteger contra a eventual falta de chuva", disse.
Mesmo com essas variáveis, o professor afirma que não há risco de um apagão em 2008 em razão do nível dos reservatórios. O problema, segundo ele, é verificar como eles estarão em dezembro, o que poderá sinalizar se existirão ou não problemas de oferta de energia em 2009.
Castro estima que o resultado do leilão para compra de energia de reserva indicará uma tarifa de valor mais alto. "Essa energia será usada como um backup caso aumente o risco hidrológico em 2009", disse.

FSP, 18/01/2008, Dinheiro, p. B6

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