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Chinesas mudam perfil do setor de energia no Brasil

Valor Econômico, Empresas, p. B4
04 de Jul de 2016

Chinesas mudam perfil do setor de energia no Brasil

Camila Maia

Com o acordo para aquisição da participação da Camargo Corrêa no bloco de controle da CPFL Energia, a chinesa State Grid tem a possibilidade de se consolidar a maior companhia privada integrada do setor elétrico brasileiro. Em poucos anos, a State Grid -maior empresa de transmissão e distribuição de energia da China- e a conterrânea China Three Gorges (CTG) - maior geradora hidrelétrica do mundo - ganharam espaço de destaque no mercado brasileiro por meio de aquisições e consórcios com empresas locais.
A State Grid, se ficar com 100% da CPFL, vai se tornar uma empresa com forte presença em geração, transmissão e distribuição de energia no país. Já a CTG ocupa o lugar de segunda maior geradora privada. Há ainda um enorme espaço para crescimento dessas companhias no setor elétrico do país, uma vez que há um número elevado de ativos à venda e as empresas são citadas com frequência como potenciais compradoras.
Na sexta-feira, a CPFL Energia informou que foi comunicada pela Camargo Corrêa que o grupo concordou em vender sua participação de 23,6% na elétrica para a State Grid, a R$ 25 por ação ou cerca de R$ 5,85 bilhões. A chinesa foi assessorada pelo Bank of America Merrill Lynch e pelo Santander.
A operação ainda depende da realização de diligência nas operações da CPFL pela chinesa e, depois, de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Se tudo correr como esperado, a oferta será estendida aos demais componentes do bloco de controle da CPFL, formado por Previ (que tem 29,4% das ações) e Bonaire (que reúne os fundos Funcesp, Petros, Sistel e Sabesprev, com 15,1%). Devido ao direito de "tag along" de 100% previsto no acordo de acionistas da CPFL, que obriga que uma oferta nas mesmas condições seja feita aos demais acionistas, se o bloco de controle aceitar a oferta, a State Grid vai fazer uma oferta pública e aquisição de ações (OPA) aos minoritários.
A Previ, que tem a maior participação na elétrica, ainda não tomou uma decisão sobre a venda de sua participação na CPFL Energia, mas o Valor apurou que a fundação, a princípio, vê o negócio com bons olhos. Poderá, portanto, vir a integralizar sua fatia no bloco de controle da elétrica.
Se o bloco de controle aceitar a oferta e a OPA tiver 100% de adesão, a State Grid pode desembolsar até R$ 25 bilhões pela companhia, assumindo ainda R$ 15 bilhões em dívida, levando o total do negócio a R$ 40 bilhões. O valor de mercado da CPFL é de aproximadamente R$ 20 bilhões.
Segundo uma fonte com conhecimento da operação, não é intenção da State Grid fechar o capital da CPFL Energia, ao mesmo por enquanto. Se não houver adesão total dos minoritários à oferta, a companhia pretende manter as ações em circulação no mercado.
Concluída a compra da CPFL, a State Grid vai acrescentar ao seu portfólio no Brasil a capacidade instalada de 3.144 megawatts (MW) de geração de energia e oito concessões de distribuição que têm 14,3% de participação no mercado brasileiro no segmento e foram responsáveis pelo faturamento de 57.558 gigawats-hora (GWh). O número não inclui a AES Sul, cuja aquisição pela CPFL foi anunciada em meados de junho, por cerca de R$ 1,7 bilhão.
Tendo a State Grid como sócia, a CPFL pode ganhar um papel ainda maior na consolidação do setor de distribuição de energia, a começar pela Celg Distribuição (Celg D), que será privatizada em um leilão marcado para agosto.
Em 2015, a CPFL teve lucro líquido de R$ 875 milhões e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida) de R$ 4 bilhões. A companhia tem ainda uma atuação forte no segmento de comercialização, com 330 consumidores na carteira.
Esse portfólio será somado aos mais de 7 mil quilômetros de linhas de transmissão que a State Grid tem em operação no Brasil hoje, e outros 6,6 mil quilômetros em construção, incluindo os dois linhões, com mais de 2 mil quilômetros cada, que vão escoar energia da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), para a região Sudeste. No primeiro linhão, a State Grid tem 51%, em parceria com a Eletronorte (24,5%) e Furnas (24,5%). No segundo, a empresa é controladora integral do ativo.
O investimento na compra da CPFL ainda não teve um modelo de financiamento definido, apurou o Valor. O montante ultrapassa o aporte previsto pela companhia no país para 2016. Em entrevista ao Valor em novembro do ano passado, o presidente da State Grid no Brasil, Cai Hongxian, disse que a empresa pretendia investir R$ 1,6 bilhão no ano.
O montante não incluia potenciais aquisições da empresa no período. Até 2020, o plano contava com investimentos de R$ 15 bilhões, sendo R$ 10 bilhões na construção das duas linhas de Belo Monte.
A companhia ainda pode realizar outras aquisições pela frente. A State Grid confirmou que tinha interesse na aquisição dos ativos de transmissão da Abengoa, incluindo uma linha que vai escoar energia de Belo Monte para o Nordeste. A empresa também foi procurada pela Santo Antonio Energia, controlada pelas empresas Odebrecht, Cemig e Andrade Gutierrez.
Juntas, as três empresas têm 51% da Madeira Energia (Mesa), sociedade que controla a hidrelétrica. O Valor apurou, recentemente, que um grupo de negociadores foi à China negociar a venda de suas participações em Santo Antônio com as estatais chinesas, entre elas a CTG e a State Grid. (Colaboraram Rodrigo Polito e Cláudia Schüffner, do Rio)

Valor Econômico, 04/07/2016, Empresas, p. B4

http://www.valor.com.br/empresas/4622801/chinesas-mudam-perfil-do-setor…

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