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Chefe de posto confirma as deficiências na Funai

A Tarde
Autor: ANA CRISTINA OLIVEIRA
27 de Abr de 2007

O chefe do Posto da Fundação Nacional do Índio (Funai), na Aldeia Caramuru, em Pau Brasil (a 551 km de Salvador, na região sul), Wilson Jesus de Souza, afirma que a atual falta de estrutura do órgão, na região, vai deixar o índio numa situação de abandono ainda maior que a denunciada pela família de Galdino Jesus dos Santos. Galdino foi assassinado há dez anos por jovens de classe média alta de Brasília.

Segundo Souza, o órgão destina apenas R$ 115 mil por ano, para atender às demandas de produção (ferramentas, insumos e sementes) de todas as aldeias do sul e extremo sul, num total de quase 15 mil índios.

As demais carências das comunidades indígenas, nas áreas de saúde e educação, segundo Souza, vão sendo relegadas. Para piorar, o chefe do posto diz que a primeira providência tomada pelo novo presidente, Márcio Meira, visando à reestruturação da Funai, foi extinguir os núcleos de Porto Seguro e Itamaraju, no extremo sul, que atendia a 17 mil índios.

Toda a responsabilidade desses dois núcleos foi transferida para o de Ilhéus, que, segundo o dirigente, não consegue dar conta das próprias demandas. Os recursos foram bloqueados e só serão liberados a partir de maio.

RAZÃO - Para Souza, a líder pataxó Yaranawy, irmã de Galdino, tem toda razão nas críticas recentes que fez, publicadas em A TARDE. A questão da saúde é uma calamidade mesmo, especialmente por falta de transporte. Há áreas na aldeia Caramuru, distantes até 30 km do centro de Pau Brasil, de acesso difícil por causa da buraqueira das estradas. Os dois carros são pequenos, impróprios para transportar muita gente.

Em casos de emergência, segundo ele, muitas vezes o doente acaba morrendo, por falta de socorro rápido, como ocorreu com o pai da líder pataxó, Juvenal dos Santos, 77 anos, que morreu de enfarte por não ter sido atendido.

A hipertensão e as doenças do coração têm-se alastrado na aldeia.

A causa, diz Souza, seria a água salobra dos poços artesianos consumida pelos índios. Ele mesmo tem apresentado alterações de pressão, mas imagina as dificuldades, não tanto de ir ao médico, mas para obter remédios ou fazer exames nos hospitais, que demoram meses no atendimento e entrega de resultados. Por ironia, o índio Juvenal morreu no mesmo dia em que chegou o resultado de seus exames, feitos seis meses antes.

A Funai quer que o índio deixe de ser dependente, mas não dá meios para isso. Os recursos orçamentários para produção, mal cobrem a compra de ferramentas e sementes. Faltam insumos (adubos e defensivos agrícolas) e máquinas para preparar a terra. "Os índios fazem manualmente, por isso o trabalho não rende, só mesmo para a sobrevivência", critica.

Souza reconhece que a Funai gasta muito com indenização de benfeitorias de fazendas negociadas com produtores, mas esquece que as terras devolvidas aos índios estão degradadas. "Há muito que os fazendeiros não roçam pastos, não colocam cercas e tudo isso o índio terá que fazer, mas não tem dinheiro", destaca. Ele sugere parcerias com a Ceplac e Embrapa.

Brasília nega a extinção dos núcleos baianos

A direção da Funai em Brasília esclarece que o novo presidente do órgão, Márcio Meira, não extinguiu os núcleos. A gestão dos recursos é que foi transferida para as administrações. A questão da saúde, segundo assessores, é de responsabilidade da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Meira, que assumiu em março, ainda "toma pé" da situação. Reconhece os problemas e considera que os índios do sul da Bahia têm, ainda hoje, 36 mil hectares ocupados por fazendeiros e que a situação deles é difícil, especialmente os pataxós hã-hã-hães, que foram perseguidos. Sobre a questão das carências nas lavouras, sugere que os índios façam projetos e apresentem, pois a Funai vai tentar buscar os recursos.

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