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Chance para a energia nuclear

CB, Mundo, p. 20
06 de Mai de 2007

Chance para a energia nuclear
Relatório das Nações Unidas sobre mudança climática reabilita centrais atômicas entre as opções para reduzir os impactos do efeito estufa. Sucesso depende também da mudança de hábitos da população

Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio

O terceiro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado anteontem, confirma que a Terra pode chegar a 2100 sem enfrentar catástrofes provocadas pelo aquecimento global. O documento sugere que o mundo tem tecnologia e dinheiro suficientes para agir decisivamente e evitar um trágico aumento da temperatura no planeta. Entre as opções oferecidas no texto estão a energia nuclear, a construção de obras ecologicamente corretas e a mudança de hábitos dos cidadãos, que poderiam, por exemplo, trocar o carro pelo trem nos percursos cotidianos.

Em entrevista ao Correio, por telefone, de Bangcoc, o climatologista holandês Bert Metz confirmou que humanidade pode ser capaz de evitar os mais sérios impactos. No entanto, o co-autor do relatório admitiu ser impossível prevenir danos. "As mudanças climáticas estão em curso, e devemos reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa", sustentou Mertz. "Se conseguirmos manter o aquecimento em até 2 graus Celsius, em relação a antes da Revolução Industrial, não sofreremos problemas mais sérios por volta de 2100", concluiu. Desde 1850, a temperatura global subiu 0,8 grau Celsius. No entanto, o cientista alerta: a omissão pode levar a um aumento de até 6 graus.

De acordo com Metz, o documento do IPCC se abstém de fazer recomendações concretas aos governos. O texto surpreende por considerar a energia nuclear uma opção viável. "Analisamos os potenciais, com base na segurança dos reatores atômicos e na prevenção da proliferação de armas", explicou o holandês. Os climatologistas que participaram da conferência em Bangcoc delegaram aos governos a escolha, desde que haja garantias de responsabilidade.

Se a população mundial quiser um planeta mais sadio no fim do século, deve começar a repensar suas atitudes. "Aconselharia o uso de sistemas de ar-condicionado e meios de transportes movidos a combustíveis limpos, como os trens", acrescentou. "É preciso uma campanha para informar as pessoas sobre as conseqüências e as aplicações da energia. Teremos um mundo mais agradável, caso todas as medidas do IPCC sejam respeitadas", garantiu.

Energia limpa
Para Karen Suassuna, técnica em mudanças climáticas da organização ambientalista WWF, a energia nuclear está fora de propósito, principalmente para o Brasil. "Temos outras formas de energia mais renováveis, abundantes e sem o fator risco. A geração de eletricidade a partir de biomassa, a energia eólica e solar também não emitem gases do efeito estufa",afirmou. Ela concorda com Metz sobre a necessidade de limitar a dois graus Celsius o aquecimento global.

Karen também acredita que o planeta amadureceu para o uso de biomassas, e elogia a adoção de uma engenharia ecologicamente responsável. "Devemos aproveitar tudo que for natural em construções", defendeu. A ativista citou como exemplo o fato de Brasília ser uma cidade que demanda a instalação de ar-condicionado em seus prédios. "Há muito que caminhar na sustentabilidade, mas não mudaremos isso do dia para a noite. Será necessário promover mais pesquisas, formação acadêmica, mão-de-obra e conhecimento genérico."

Kevin Trenberth, meteorologista líder do relatório do IPCC divulgado em 2001, aposta numa mudança de posicionamento sobre educação e pressão pública. "A principal maneira é ter um conjunto de incentivos e penalidades para o lançamento de poluentes na atmosfera", aconselha.

Autoridades do clima

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é a mais alta autoridade
científica do mundo sobre aquecimento global.

Criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o IPCC avalia os dados sobre emissão de gases causadores do efeito estufa. O propósito é influenciar políticas governamentais, estratégias corporativas e hábitos cotidianos.

Formado por centenas de meteorologistas, oceanógrafos, economistas, sociólogos e outros estudiosos, indicados por governos e organizações internacionais, o painel já publicou três relatórios, em 1990, 1995 e 2001, explicando o papel do homem no aquecimento global ao longo do século 21 e as conseqüências das mudanças climáticas. O IPCC tem três grupos de trabalho, com especialistas nomeados por governos e organizações internacionais.

O Grupo 1, cujo relatório foi publicado em fevereiro, atualiza os conhecimentos científicos sobre as mudanças climáticas. O Grupo 2, que lida com os impactos prováveis do aquecimento global, divulgou suas conclusões em abril. O Grupo 3, que se reuniu na semana passada na Taiândia, analisa esforços para reduzir a poluição por carbono.

CB, 06/05/2007, Mundo, p. 20

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