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Cestaria indígena faz sucesso em lojas paulistas

Estado de S. Paulo-SP
Autor: Maura Campanili
23 de Out de 2001

Arte milenar dos índios baniwas, as cestas de arumã viajam do extremo noroeste da Amazônia e ganham o centro-sul do país, num projeto de desenvolvimento sustentável.
São Paulo - Um projeto piloto de alternativas econômicas sustentáveis tem beneficiado diretamente 11 comunidades indígenas do Alto Rio Negro e, ao mesmo tempo, divulgado nos grandes centros urbanos do país a cestaria de arumã e seus belos grafismos, uma arte desenvolvida pelos índios baniwas há mais de 2000 anos. Através de uma parceria entre a entidade ambientalista Instituto Socioambiental (ISA), com sede em São Paulo, e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), os baniwas já comercializaram mais de 10 mil unidades de cestaria, desde o início do programa, em 1999.
Desenvolvida com a participação direta da Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi), filiada à Foirn, a atividade, que começou com 20 artesãos, hoje conta com 143 participantes e já rendeu cerca de R$ 100 mil para as comunidades indígenas. Esses resultados colocaram o projeto Arte Baniwa entre os 20 finalistas do Prêmio Gestão Pública e Cidadania, uma iniciativa das Fundações Ford e Getúlio Vargas, que visa identificar e disseminar experiências positivas de organizações de governos estaduais, municipais e povos indígenas. O prêmio será entregue no próximo dia 23 de novembro.
Segundo Joana Fernandes, responsável pela área de negócios do projeto no ISA, a maior parte da cestaria (500 dúzias) foi comercializada através das lojas de decoração da rede Tok&Stok. Neste ano, as cestas começaram a ser vendidas também em algumas lojas dos hipermercados Extra.
O projeto Arte Baniwa funciona com duas frentes de atuação, uma voltada para a produção e outra para a comercialização. A frente de produção preocupa-se com a comunicação com os produtores, o controle de qualidade, o cumprimento dos prazos de entrega e os impactos sobre a vida das comunidades. A segunda frente, cuida do transporte da produção, da gestão dos recursos financeiros e da promoção dos produtos.
A logística de transporte é um dos pontos nevrálgicos do processo, pois até chegar a São Paulo, as cestas viajam de dois a quatro dias de bongo (uma canoa de madeira com motor), das comunidades (na região do rio Içana, no Alto Rio Negro) até São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. De lá, vão de caminhonete mais 30 quilômetros até o porto Camanaus, de onde seguem de barco até Manaus, por mais três dias. De Manaus, o produto viaja mais 15 dias: de balsa até Belém e, a partir daí, de caminhão até São Paulo.
Joana Fernandes explica que, desde o ano passado, o ISA e o Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), iniciaram também pesquisas para verificar a sustentabilidade ambiental e social do artesanato de arumã, para precisar a capacidade do recurso florestal e o que é preciso para fazer o manejo. O arumã (ou guarimã) é uma espécie de palmeira muito utilizada pelos povos indígenas amazônicos, a partir do Maranhão, onde a planta (que tem várias espécies) cresce em regiões semi-alagadas.
Os baniwas fazem parte de um complexo cultural de 22 povos indígenas diferentes que habitam há séculos o extremo noroeste da fronteira da Amazônia brasileira com a Colômbia e a Venezuela. Contam com uma população estimada em 12 mil pessoas, das quais 4 mil no Brasil, vivendo basicamente da agricultura e da pesca. A cestaria de arumã, na cultura baniwa, é confeccionada pelos homens e usada pelas mulheres no processamento de mandioca brava, sua principal fonte de alimentação.
Segundo o Instituto Socioambiental, que investiu até agora R$ 50 mil no projeto, um dos objetivos do Arte Baniwa é valorizar o patrimônio cultural e ambiental da região e promover a produção sustentável de objetos de arumã, através de um sistema de produção por encomenda, e gerar renda para os produtores indígenas e suas associações.

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