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Cervos estao ameacados em SP

OESP, Vida, p.A10
28 de Dez de 2004

Cervos estão ameaçados em SP
ONGs e técnicos ambientais dizem que eles podem sumir em 4 anos, caso não se tomem medidas de proteção
Chico Siqueira
Ambientalistas e técnicos alertam para a extinção do cervo do pantanal - o maior cervídeo (mamífero herbívoro) da América Latina -, que deverá desaparecer do Estado de São Paulo em menos de quatro anos caso nenhuma medida de proteção e controle da espécie seja tomada com urgência.
Representantes de ONGs ambientais e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) denunciam que o governo do Estado é o responsável pela extinção do animal. A denúncia foi feita oficialmente no dia 14 pela bancada ambientalista do Consema, que pediu o retorno imediato do monitoramento dos animais, paralisado em 2001, e da proteção dos Parques Estaduais do Aguapeí, do Rio Aguapeí, e o do Rio Peixe, que ainda não foram implantados e sofrem depredação e colocam em risco outras espécies da lista de animais em extinção.
Em 2001, a Cesp decidiu romper o contrato de funcionamento do Projeto Cervo do Pantanal, que era mantido por professores da Unesp de Jaboticabal (SP). Eles faziam o monitoramento e controle dos animais em campo.
"Tínhamos um excelente controle da vida desses animais, usávamos radiotelemetria, os animais eram marcados e tínhamos conhecimento da natureza das mortes e infecções. Agora, a gente perdeu o controle", diz o então coordenador do projeto, José Maurício Barbanti Duarte.
Segundo ele, o convênio foi interrompido justamente na época em que o projeto apresentou as ações para proteção da espécie. Isso porque a Cesp se recusou a continuar financiando as pesquisas. "Pedimos que o monitoramento continuasse mesmo se não fosse com a gente, mas se recusaram", diz Duarte.
Segundo ele, a interrupção ocorreu porque a Cesp discordou da realidade apresentada pelos técnicos, depois de quatro anos de pesquisas. "Somos técnicos. Falamos a verdade, não podíamos mentir", afirma Duarte. A verdade, segundo ele, é que o alagamento do Rio Paraná para formação das usinas hidrelétricas da região foi uma "catástrofe" para a sobrevivência do cervo e de outras espécies da região.
"Pelo menos 90% dos cervos foram exterminados pelos efeitos diretos ou indiretos da inundação dos lagos das usinas de Jupiá e Sérgio Mota. A maioria morreu afogada, depois tiveram carrapatos e outras enfermidades passadas por bovinos. Agora, eles são vítimas da caça desenfreada e da consangüinidade", afirma ele.
EXTINÇÃO
O animal pesa até 200 quilos quando adulto. Seu hábitat está restrito a duas áreas dos Parques Estaduais dos Rios Aguapeí e do Peixe, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul.
Segundo Duarte, de 1.200 cervos que existiam em 1998, época do alagamento da Hidrelétrica de Sérgio Mota, no Rio Paraná, apenas 130 animais foram encontrados em 2001, quando a parceria foi rompida. Hoje, não se sabe ao certo quantos animais existem, mas não passariam de 150 nas duas áreas, segundo estimam ambientalistas da região ouvidos pelo Estado.
Segundo Duarte, simulações confiáveis, feitas em dados reais, apontavam, na época, que o cervo iria desaparecer entre cinco e sete anos se nenhuma medida de proteção fosse tomada. A informação, diz ele, foi levada ao Ibama, à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e ao Ministério Público.
Somente agora ela chega ao conhecimento da opinião pública por meio de e-mails enviados a ambientalistas e ONGs. Neste mês, uma expedição formada por ambientalistas de algumas ONGs e representantes do Consema visitou o hábitat dos cervos.
"O que nós constatamos foi que os animais estão mesmo se extinguindo. Há dois meses, por exemplo, a Polícia Ambiental encontrou carcaça de um animal adulto sem o chifre e a patas, que serviram de troféus dos caçadores. A realidade é esta", declara Roberto Franco, que é membro da ONG de Defesa Ambiental de Castilho e Região e representante do Consema. Segundo ele, as medidas de proteção precisam mesmo ser tomadas.

Reestruturação
Apuração: A Secretaria de Estado do Meio Ambiente informou, durante encontro com as entidades ambientais no último dia 14, que as denúncias envolvendo o risco de extinção do cervo do pantanal estão sendo investigadas pelo governo.
Com a reestruturação da Cesp, a secretaria está tentando transferir da companhia para os institutos florestais, que são ligados ao governo, a responsabilidade sobre os projetos envolvendo os animais.

OESP, 28/12/2004, p. A10

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