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Certificação é estratégia para setor madeireiro

Págimna 20-Rio Branco-AC
28 de Out de 2003

Economia florestal inicia processo de consolidação com a adesão da iniciativa privada na busca pelo FSC

Os empresários ligados ao setor da economia florestal começam a investir na certificação do manejo. A floresta estadual do Antimary e a empresa Acre Brasil Verde, duas das mais importantes áreas de manejo florestal do estado, iniciaram esta semana uma pré-avaliação com o objetivo de obter o selo verde mais reconhecido hoje em todo o mundo, o FSC (Forest Stewardship Council), também conhecido como Conselho de Manejo Florestal.

A certificação das duas áreas será uma forma de promover o manejo florestal sustentável, uma vez que as empresas poderão manejar plantações e florestas nativas dentro dos padrões de sustentabilidade, priorizando critérios ambientais, sociais e econômicos. Com isso, o consumidor terá a garantia de que o produto florestal comercializado respeita os processos ecologicamente sustentáveis.

As três empresas que mantém consórcio na Floresta Estadual do Antimary já tem o manejo como um processo estratégico para competir no mercado de exportação. "O processo de certificação é geralmente longo, passa por uma avaliação formal multidisciplinar e um monitoramento contínuo para garantir a credibilidade do selo", explica Rodrigo Pereira Junior, técnico do Instituto Natureza Amazônica, entidade ligada ao FSC.

A certificação das áreas de manejo é voluntária e depende da iniciativa da empresa ou organização interessada. No caso da reserva do Antimary e da área da empresa Acre Brasil Verde, o Governo do Acre tem dado todo o apoio necessário para que as empresas obtenham o certificado. Nos últimos meses, o governo recuperou e ampliou uma série de ramais que dão acesso às empresas de manejo.

Uma das sócias-proprietárias da empresa Acre Brasil Verde, Adelaide de Fátima, acredita que a certificação trará inúmeras vantagens tanto para a empresa quanto para os trabalhadores e a sociedade. De acordo com Fátima, a certificação permite que o empresário saiba exatamente quantas árvores e de quais espécies ele possui, além de saber quando cada uma estará disponível para a derrubada. "O empresário que adquire o selo verde aumenta o rendimento da sua floresta. A produtividade cresce, o desperdício diminui e a regeneração é bem mais rápida", destaca.

De acordo com os técnicos que vieram iniciar o processo de avaliação nas duas áreas de manejo, outro fator importante para quem ganha a certificação é a facilidade de acesso a novos mercados, já que o selo também funciona como um atrativo para novos clientes.

Para a engenheira florestal da Funtac, Andreia da Costa Oertel, uma das coordenadoras do Promatec (programa de capacitação técnica em manejo florestal), a crescente conscientização dos empresários sobre a destruição e degradação da floresta tem feito com que eles assimilem mais rapidamente o conceito de manejo florestal. "As pessoas sabem que precisam assegurar os recursos florestais para o futuro. Uma área que é explorada de forma convencional, sem critérios definidos de sustentabilidade, pode levar até cem nos para se regenerar. Com o manejo é diferente, em menos de trinta anos, aquela área que foi aberta já estará totalmente reconstituída", afirma a engenheira.

De acordo Andreia, três etapas devem ser seguidas rigorosamente para que o processo de manejo seja concluído. A primeira é a atividade pré-exploratória, que consiste no reconhecimento da área e no potencial madeireiro da região. A segunda é a atividade exploratória propriamente dita, quando ocorrerá a derrubada das árvores com o menor impacto possível sobre a natureza. E a última etapa é a atividade pós-exploratória, ou seja, como a floresta estará se comportando após a exploração.

Para candidatar-se à certificação, todas as florestas devem atender aos princípios e critérios estabelecidos pela FSC. "Se apenas um dos nove princípios exigidos para a certificação não estiver de acordo com os nossos critérios, a empresa não consegue o certificado", explica o técnico do Imaflora, Maurício de Almeida.

Hoje já existem 25 milhões de hectares de florestas certificadas em todo o mundo e mais de 20 mil produtos com o selo do FSC. "O selo atesta que a madeira utilizada para a confecção de um produto é oriunda de uma floresta manejada de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável, de acordo com todas as leis vigentes", argumenta Maurício de Almeida.

A certificação também é vantajosa para os trabalhadores que vivem nas florestas. Para adquirir o selo, a empresa deve garantir os direitos legais dos trabalhadores, eliminar o trabalho forçado e a mão de obra infantil, reduzir os acidentes de trabalho e qualificar a mão de obra. Mais de cem famílias vivem hoje na floresta estadual do Antimary. Essa população é beneficiada com 4 postos de saúde, três escolas, dentistas, campanhas de vacinação e controle de câncer de útero.

A atividade econômica no Antimary gira em torno de alguns produtos extrativistas como a borracha e a castanha, além da produção agrícola de grãos. A área total da floresta do Antimary é de 77 mil hectares. Neste ano 2.500 hectares foram manejados. A floresta estadual é a primeira área pública nacional a entrar no processo de certificação sócio-ambiental.

Construção de casa popular com madeira apreendida

A Funtac (Fundação Tecnológica do Acre) e o Imac (Instituto do Meio Ambiente do Acre) fizeram a apresentação de um projeto que auxiliar o uso racional das madeiras apreendidas pelos órgãos ambientais que atuam no Estado. A casa tem 49 m2, divididos em dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Há ainda uma pequena área externa. Cada unidade foi elaborada para atender às comunidades de baixa renda nos pólos e assentamentos agroflorestais e nos quintais florestais (em processo de estudo pela Secretaria das Cidades).

Segundo César Dotto, presidente da Funtac, o governo do Estado não vai construir conjuntos habitacionais, mas atender a casos emergenciais identificados pela Secretaria das Cidades e de Ação Social. "Uma pessoa de baixa renda que tenha perdido, por exemplo, a sua residência em um incêndio pode se cadastrar nessas duas secretarias para ser atendida pelo programa", explicou Dotto, acrescentando que o beneficiado também colabora na construção.

Em março, a Funtac inaugurou uma serraria que produzirá estas unidades habitacionais. A única peça em concreto é o pilar que precisa dar sustentação à casa e evitar o contato da madeira com a terra. Para tornar a casa prática de se construir e com vida útil mais longa, a Funtac desenvolveu um sistema de encaixe que permite que usar qualquer tipo de madeira em diferentes "réguas" (pequenos pedaços de madeira) com tamanho de 90 cm que são encaixadas umas às outras formando os "painéis". De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Edegard de Deus, mais de 2 mil metros cúbicos de madeira (o equivalente a cerca de 200 caminhões) aguardam o momento de se transformar num lar para pessoas carentes. "As casas têm 10 metros cúbicos, e assim poderemos fabricar cerca de 120 unidades imediatamente", disse Edegard de Deus.

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