O Globo, Ciência e Vida, p. 35
30 de Mar de 2006
Cerrado, esquecido e ameaçado
A maior savana do mundo tem espécies exclusivas e em extinção
Tulio Brandão
Enviado especial
0 Cerrado, uma das áreas de maior diversidade biológica e mais ameaçadas do planeta, pode perder zonas de grande valor para a biodiversidade, consideradas insubstituíveis. Um mapeamento feito pela Conservação Internacional-Brasil (CI) e por entidades regionais revela que a Serra do Espinhaço, uma região especialmente rica em espécies, perde anualmente cerca de 1,6 mil quilômetros quadrados do bioma. 0 estudo, apresentado durante a 8ª. Conferências das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), aponta como alternativa a criação de dez novas unidades de conservação, com uma área total de 7,7 mil quilômetros quadrados. Atualmente há 31 zonas protegidas.
0 diretor do Programa Cerrado da CI-Brasil, Ricardo Machado, explica que a Serra do Espinhaço é o maciço que divide Cerrado e Mata Atlântida, entre Minas Gerais e Bahia. A área estudada tem cerca de mil quilômetros de extensão e 180 mil quilômetros quadrados. 0 trecho de Cerrado equivale a 12 da área remanescente do bioma preservado no Brasil, que é de 700 mil quilômetros quadrados.
- É uma questão especialmente crítica porque o desmatamento está ocorrendo em áreas chamadas de Insubstituíveis, de maior percentual de espécies endêmicas do Brasil. Das quatro mil espécies da flora levantadas, 70% só existem lá - disse Machado.
Boa parte delas está nas cangas - vegetação que cresce sobre campos ferruginosos. Segundo o Instituto Biotrópicos, há espécies de orquídeas, bromélias, gramíneas e arbustos que não existem em nenhum outro lugar do mundo. A proteção sugerida para as novas unidades, segundo a CI-Brasil, varia de áreas públicas de proteção integral até uma rede de pequenas reservas particulares. Como boa parte da região é formada por terrenos acidentados e impróprios à agricultura, o impacto econômico não seria expressivo.
ONG estuda área de 50 mil quilômetros quadrados
0 problema ë ainda mais grave em outras áreas do Cerrado. A ONG The Nature Conservancy (TNC), em parceria com órgãos públicos de Mato Grosso, desenvolve um projeto de regularização das reservas legais - fração da propriedade disponível para a conservação - e das áreas de proteção permanentes (APPs), como margens de rio. Segundo o diretor para Savanas da América do Sul da TNC, um rastreamento está sendo feito numa área de 50 mil quilômetros quadrados.
- Estamos levantando todas as propriedades para delimitar as áreas de reserva legal e observar se as APPs estão sendo cumpridas.
Para a Rede Cerrado, que reúne ONGs que estudam o bioma, a situação é crítica. 0 superintendente da Funatura, César Víctor do Espírito Santo, diz que a taxa de desmatamento do Cerrado é de 30 mil quilômetros quadrados ao ano. A rede levou à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma carta com recomendações de políticas urgentes e que pede empenho para aprovar o projeto que reconhece o Cerrado e a Caatinga como Patrimônio Nacional.
O Globo, 30/03/2006, Ciência e Vida, p. 35
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