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Cerrado em chamas

CB, Cidades, p. 16
19 de Jun de 2006

Cerrado em chamas
Corpo de Bombeiros registra, na tarde de domingo, o maior incêndio florestal do ano no Distrito Federal. Fogo consome, durante quatro horas, área do Parque Nacional equivalente a 80 campos de futebol

Laís Garcia
Da Equipe do Correio

Dois incêndios consumiram mais de 100 hectares de vegetação no Distrito Federal na tarde de ontem. No pior deles, no Parque Nacional de Brasília, o maior registrado este ano no DF, as labaredas destruíram 80 hectares de área, em mais de quatro horas. As causas ainda são desconhecidas, mas o fogo pode ter sido provocado por moradores de áreas próximas. Há menos de 15 dias, outro incêndio destruiu mais 25 hectares do parque. Cada hectare equivale a um campo de futebol.

As chamas começaram por volta das 14h, junto à BR-001, na extremidade do Parque Nacional próxima a entrada do Lago Oeste. Por causa do vento forte, as chamas se alastraram rapidamente sobre a vegetação seca e chegaram a atingir 4m de altura. Para controlar as labaredas, foram necessários 45 bombeiros, que usaram bombas-d'água presas às costas e abafadores. A operação mobilizou ainda oito carros e o helicóptero da corporação, que sobrevoou o local várias vezes jogando água retirada do Lago Paranoá nas áreas mais atingidas.

Uma hora depois, a poucos quilômetros dali, um outro incêndio destrui cerca de 30 hectares numa área próxima Academia Nacional de Polícia, da Polícia Federal. Parte dos bombeiros que combatiam o fogo no Parque Nacional teve que se deslocar para o novo foco de incêndio. O fogo foi controlado em três horas. Nenhum dos moradores das casas próximas ao local se feriu. Tampouco não houve danos materiais.

Para o tenente Gabriel Motta, um dos envolvidos na operação, a ação rápida só foi possível graças à Operação Verde Vivo. Todos os anos, nos meses de seca, mais de 80 bombeiros voluntários e 10 carros ficam de sobreaviso, prontos para entrar em ação caso sejam detectados focos de incêndio. Só ontem, foram registrados pela Verde Vivo 17 focos no DF.

O Parque Nacional tem 30 mil hectares e abriga espécies nativas do cerrado, como o pequi, palmeiras e aroreiras. "Incêndios como esse são comuns nesta época do ano. Mas este caso do Parque Nacional é preocupante", comentou o tenente-coronel Vanderlei Faria, comandante da operação. A tendência é que o número de incêndios aumente até o fim de outubro, segundo Faria. Ano passado, foram registrados 3 mil. O maior deles, em julho, destruiu cerca de 500 hectares do Jardim Botânico, em seis horas (leia memória).

Ainda que sejam comuns em época de seca, os incêndios quase sempre acontecem por conta de intervenção humana. "Ainda não sabemos o que provocou este incêndio no parque, mas pode ter sido causado até por uma ponta de cigarro", disse o tenente-coronel. O laudo da perícia que indicará as causas do incêndio deve ficar pronto em 15 dias.

Dicas
De maio a outubro, a umidade relativa do ar fica muito baixa e a seca torna incêndios comuns no Distrito Federal. Muitas queimadas podem ser evitados se os moradores de áreas ricas em vegetação tomassem alguns cuidados. Os principais são não queimar lixo em locais próximos à vegetação, não acender fogueiras - se ascendê-las, apagá-las totalmente - e não jogar pontas de cigarros na mata.

Memória

2005
Em julho, o Jardim Botânico sentiu o primeiro grande prejuízo da seca no inverno do ano, quando 500 hectares viraram brasas em seis horas. Em 31 de agosto, foram destruídos 1,2 mil hectares da Fazenda Água Limpa. Em 20 de setembro, três reservas ecológicas foram atingidas pelo fogo. As labaredas queimaram 25% da Fazenda Água Limpa, da Universidade da Brasília. A Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve 75% dos 1.350 hectares da vegetação consumida pelas chamas. O fogo acabou com 75% dos 5 mil hectares do Jardim Botânico

2004
Em agosto, metade da Chapada Imperial, reserva ambiental que fica em Brazlândia, foi devastada pelo fogo. Milhares de espécies que viviam nos 4,8 mil hectares da reserva morreram. Foi o maior incêndio do ano.

1998
Em setembro ocorreu o maior incêndio florestal do Distrito Federal. O Parque Nacional de Brasília teve 86,3 quilômetros quadrados destruídos, durante três dias de queimadas. Um terço da reserva foi atingido. Dias depois, os focos incandescentes que resistiram à operação do Corpo de Bombeiros para salvar o parque fizeram o incêndio retornar. Foram seis dias de combate até o fim da queimada.

CB, 19/06/2006, Cidades, p. 16

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