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Cerrado brasileiro pode desaparecer até 2030

OESP, Geral, p. A8
19 de Jul de 2004

Cerrado brasileiro pode desaparecer até 2030
Estudo mostra que se ritmo de desmatamento se mantiver em 1,5 % por ano, bioma está ameaçado

As conclusões de um amplo estudo da organização não-governamental (ONG) Conservação Internacional (CI-Brasil) alertam para o perigo de o cerrado brasileiro desaparecer até 2030 caso a taxa anual de desmatamento (1,5%, ou 3 milhões de hectares) do bioma se mantenha. De acordo com o levantamento feito entre os meses de setembro e novembro do ano passado, a partir de imagens satélites do ano de 2002, dos 204 milhões de hectares originais, 57% já foram completamente destruídos.
"Mas a tendência é piorar", afirma o Ricardo Machado, diretor da CI-Brasil para o cerrado, e um dos autores do estudo. Segundo ele, a confrontação dos dados atuais com os dois últimos levantamentos globais feitos no País, prova que o processo de degradação tem se acelerado. Um estudo publicado em 1994 - com base em dados de 1985 - pelo então professor da Universidade de Brasília (UnB) Bráulio Dias indicou que 37% do cerrado já havia sido desmatado. Índice que subiu para 49% em 1998, de acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
"O cerrado perde 2,6 campos de futebol por minuto de sua cobertura vegetal. Essa taxa de desmatamento é dez vezes maior que a da mata atlântica, que é de um campo a cada quatro minutos", compara Machado.
O diretor da CI-Brasil afirma que, atualmente, a principal pressão sobre o bioma é a expansão da fronteira agrícola, basicamente a produção de grãos, com destaque para as culturas de soja e algodão. Nas últimas décadas, segundo ele, o vetor principal foi a expansão da pecuária de corte. O estudo da ONG constatou que a degradação é maior nos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso; no Triângulo Mineiro e no oeste da Bahia.
Remanescentes - O diagnóstico, porém, não é capaz de estimar a real porcentagem de mata nativa nas áreas remanescentes. Pelos cálculos de Machado, a cobertura vegetal de aproximadamente metade dos remanescentes de cerrado já sofreu alterações, podendo não mais servir à conservação da biodiversidade.
Ele chama a atenção para o fato de o cerrado abrigar "a mais rica savana do mundo, com grande biodiversidade, e recursos hídricos valiosos para o Brasil", mas cuja importância não é reconhecida. "Muitos líderes e tomadores de decisão defendem, equivocadamente, o desmatamento do cerrado só porque ele não é coberto por densas florestas tropicais, como a mata atlântica ou a Amazônia", afirma. "Ninguém se preocupa e as possibilidades de conservação estão cada vez mais escassas."
Entre os principais problemas provocados pelo desmatamento do bioma, o diretor da CI-Brasil destaca a degradação de rios importantes como o São Francisco e o Tocantins, e a destruição de habitat que compromete a sobrevivência de milhares de espécies.
Sugestões - De acordo com Machado um relatório será entregue ao Ministério do Meio Ambiente esta semana, com as conclusões do estudo e sugestões de ações para que para que o processo de degradação seja freado.
Ele sugere, por exemplo, que um pequeno porcentual dos investimentos previstos pelo governo federal na próxima safra agrícola sejam destinados para a constituição de um fundo, que seria usado para a proteção de mananciais hídricos, recuperação de áreas degradadas e manutenção de unidades de conservação.
"Se isso for feito, pela primeira vez um governo brasileiro estará tentando conjugar uma política de proteção ambiental com uma política de produção".

Em Minas, grupo reproduz em estufa 40 espécies nativas

BELO HORIZONTE - Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) atestaram que o cerrado, um dos mais degradados biomas brasileiros, pode ser recuperado com espécies vegetais de sua paisagem original. Os resultados obtidos, segundo Geraldo Wilson Fernandes, professor do departamento de Biologia Geral da UFMG e coordenador da pesquisa, contestam os argumentos de que não há alternativa à chamada vegetação exótica, como o eucalipto e os capins braquiária e meloso, utilizada ao longo dos anos para a cobertura da paisagem.
O estudo pioneiro reproduziu em estufas milhares de mudas de 40 espécies nativas, como bromélia, quaresmeira, alecrim, sempre-viva, orquídeas, canela de ema e outras, que tiveram sua capacidade de replantio comprovada.
"São espécies, em geral, ameaçadas de extinção e muitas delas não foram investigadas anteriormente", observa Fernandes. Ele argumenta que as "culturas intrusas" tornam-se, na verdade, "invasoras" de parques, veredas e reservas do ecossistema.
"O fato é que elas têm compostos químicos diferentes e competem com as plantas nativas, acabando por sobrepujá-las", diz o pesquisador, salientando que, além do malefício estético, as espécies exóticas afetam muitas vezes as condições de vida da fauna, retirando água do solo. "Elas acabam secando essas áreas."
Segundo Fernandes, mais de 50% do Parque Nacional das Emas, em Goiás, já foi "invadido" pelo capim braquiária. O mesmo problema, conforme o pesquisador, pode ser observado na Serra do Cipó, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte, justamente o local escolhido para os estudos de campo da investigação científica. (E.K.)

OESP, 19/07/2004, Geral, p. A8

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