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Cerca de 51% das crianças indígenas do país têm anemia

Cimi - http://www.cimi.org.br/
12 de Mai de 2010

A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) divulgou ontem (11), os resultados preliminares do 1o Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas realizado em 2008 e 2009. Os pesquisadores visitaram 113 aldeias indígenas, onde entrevistaram 6.707 mulheres (com idades de 14 a 49 anos) e 6.285 crianças (com até 60 meses de vida).

A pesquisa indicou que 51,3% das crianças com até cinco anos de vida apresentam anemia, problema normalmente decorrente de uma dieta pobre em ferro e que provoca baixo desenvolvimento. O que poderia explicar o fato de que cerca de 26% das crianças apresentam déficit de estatura para a idade. As crianças da região Norte apresentam o maior índice, com 41,1%. A menor incidência está na região Nordeste, que apresenta 13,9%. O inquérito também constatou que uma em cada cinco crianças da região Norte não possui certigão de nascimento.

Destacam-se também as falhas no quadro de imunização. Os dados coletados mostram que a maioria das crianças (92,9%) recebeu pelo menos uma dose da vacina BCG, contra tuberculose. No entanto, quando foi avaliado o porcentual de crianças vacinadas na idade indicada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), no primeiro dia de vida, menos da metade das crianças que nasceram em hospitais foi imunizada. Fica claro ainda o baixo índice do uso do soro oral (56,4%), um forte aliado no combate à mortalidade infantil e de custo extremamente baixo.

Entre as mulheres, os principais resultados apresentados pelo Inquérito foram pressão arterial alterada (8,9%), taxa alterada de glicemia casual, indicativo de anemia (32,7%), e número elevado de mulheres acima do peso, cerca de 46%. Ocorrências verificadas também entre a população não indígena que vive em áreas urbanas.

O que os pesquisadores encontraram foi um cenário que mescla a ausência do Estado, representado pela falta de saneamento, escassez de recursos básicos e de políticas públicas eficientes, altos indíces de doenças facilmente controláveis, como a anemia, e dependência da população dos programas assistencialistas do governo, como a entrega de cestas básicas.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foi responsável pela execução do projeto, em parceria com a Funasa. O Inquérito é uma mostra da situação da população indígena no país quanto às questões nutricionais e servirá como subsídio para a elaboração de políticas que atendam demandas locais e específicas relacionadas ao atendimento à saúde indígena no país.

Relação direta com a terra

Os problemas de saúde apresentados pelo inquérito podem também ser consequência de outros problemas enfrentados pelos povos indígenas no país, como a dificuldade de acesso à terra. O local onde eles moram, o tipo de vida que levam e os alimentos que ingerem têm relação direta com os altos índices de obesidade e também de anemia.

De acordo com o diretor substituto do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Flávio Pereira Nunes, os índios da Região Norte sentem o impacto do desmatamento e da exploração de recursos naturais e começam a mudar de comportamento: em vez do plantio coletivo de alimentos mais variados da aldeia predomina a agricultura de subsistência familiar.

Os dados apontam que as doenças crônicas vão se tornar o grande problema da saúde indígena nos próximos anos, caso medidas de prevenção a tais doenças não sejam tomadas. Esses problemas são decorrentes de novos valores, novas formas de vida e trabalho, bem como acesso a outros alimentos que não os tradicionalmente consumidos. Há uma tendência ao consumo de produtos engordantes, como açúcar, gordura, sal, óleo, macarrão, balas e refrigerantes entre outros.

Em algumas regiões, o avanço da urbanização é um fator que leva à mudança de hábitos alimentares e da cultura. "O índio não é um fóssil vivo ou um animal pré-histórico congelado. Um jovem indígena é tão curioso como um jovem que frequenta escola da classe média em Brasília. Isso faz parte de um processo de incorporação de outros elementos culturais, mas não quer dizer que ele está deixando de ser índio", aponta o pesquisador Carlos Coimbra Junior, um dos coordenadores do estudo.

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