VOLTAR

Censo 2022: homens são 67,7% da população dentro de quilombos demarcados

O Globo - https://oglobo.globo.com
03 de Mai de 2024

Censo 2022: homens são 67,7% da população dentro de quilombos demarcados
Dados inéditos do IBGE mostram que fora dos territórios, entre os 1.625 municípios em que foram mapeadas a presença de quilombolas, o percentual de homens é de 52%, contra 48% de mulheres

Pâmela Dias

03/05/2024

Dentro dos quilombos oficialmente delimitados, 67,7% da população são homens, de acordo com dados inéditos do Censo 2022, divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (3). Fora dos territórios, entre os 1.625 municípios em que foram mapeadas a presença de quilombolas, o percentual de homens e de mulheres é equilibrado: 52% contra 48%, respectivamente.

O IBGE mapeou 465 territórios quilombolas com algum tipo de demarcação. Desses 315 tem prevalência de homens, enquanto nos outros 150 a maioria da população é de mulheres.

No contexto geral dos quilombos, que abrange pessoas residentes dentro e fora de terras delimitadas, a razão de sexo do público masculino foi 100,08, o que significa que existem 100 homens para 100 mulheres. Esse número vai contra o perfil da população residente no Brasil, que tem 94,2 homens para cada 100 mulheres.

De acordo com o coordenador de estruturas territoriais da diretoria de geociências do IBGE, Fernando Damasco, historicamente no país nascem mais homens que mulheres. Contudo, a predominância no contexto quilombola pode estar associada a uma sobremortalidade materna e a migração feminina em busca de trabalho e estudo.

- Os quilombolas têm uma razão de sexo muito equilibrada. Mas nos territórios há predominância masculina que pode ser por influência de mortalidade materna e migrações. O desafio agora é entender melhor essas causas e buscar compreender a dinâmica de vida dos quilombolas que vivem fora dos territórios demarcados - explica Damasco.

Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas

Dados iniciais divulgados em julho do ano passado pelo IBGE mostram que, no Brasil, há 1.327.802 pessoas quilombolas. Apenas 12,6% delas estão em territórios reconhecidos oficialmente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - etapa precedente à demarcação e proteção das comunidades no país. O número de pessoas em territórios demarcados é ainda menor, sendo 4,3% da população quilombola total.

Originalmente, os quilombos eram comunidades autônomas formadas por escravos fugitivos que buscavam a liberdade e a resistência contra a escravização no Brasil colonial. Essas comunidades surgiram, em sua maioria, em regiões remotas, como matas e montanhas. O isolamento foi parte da estratégia que garantiu a sobrevivência naquela época, mas também tornou difícil reunir informações precisas sobre as comunidades de hoje. Por isso é que, até hoje, eram desconhecidos dados básicos sobre essa população, como o total de integrantes.

Segundo o primeiro levantamento histórico, o número de quilombolas representa 0,67% da população brasileira. A pesquisa também revela que, a cada 153 domicílios no Brasil, um tem pelo menos uma pessoa quilombola residente.

Maioria dos quilombolas vive no Nordeste

Utilizando como critério a autodeclaração, o censo identificou que 68,19% dos quilombolas do país vivem no Nordeste. Cerca de metade desse número encontra-se na Bahia e no Maranhão: 29,90% e 20,26%, respectivamente. Na Bahia estão os dois municípios com maior número de pessoas quilombolas, sendo eles Senhor do Bonfim (15.999) e Salvador (15.897).

Os quilombolas são maioria (mais de 50%0 em cinco municípios brasileiros. São eles: Alcântara (MA), 84,57%; Berilo (MG), 58,37%; Cavalcante (GO), 57,08%; Serrano do Maranhão (MA), 55,74%; e Bonito (BA), 50,28%.

O panorama revela que, dos 1.696 municípios com presença de quilombolas, apenas 326 têm territórios delimitados. São 494 quilombos oficialmente reconhecidos no país, com 167.202 residentes. Destes, apesar da Constituição garantir o direito das comunidades quilombolas à propriedade de suas terras, apenas 147 quilombos são titulados.

- Temos uma dívida enorme com a regularização fundiária, especialmente com a titulação das comunidades quilombolas. Essa é uma das tarefas do Incra - afirmou o presidente do Incra, Cesar Aldrighi, ao apresentar os dados do Censo nesta quinta.

Dentre os territórios oficialmente reconhecidos, o de Alcântara (MA) possui a maior população quilombola residente, 9.344. O IBGE cita que existem 2.921 certificados de autoatribuição concedidos a comunidades pela Fundação Cultural Palmares (FCP), mas considerou apenas a delimitação do Incra ou de órgãos estaduais e municipais com competência fundiária.

- Hoje é um dia histórico e importante para a criação de políticas públicas para os quilombolas. Estamos tirando da invisibilidade mais de um milhão de pessoas do país. Agora, precisamos colocar as políticas quilombolas no centro - disse o coordenador nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Denildo Rodrigues.

Na região conhecida como Amazônia Legal, que engloba oito estados do país (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão, o censo identificou 426.449 pessoas quilombolas, o que representa quase um terço (32,1%) do total do país.

- Os dados apresentados hoje pelo IBGE são, praticamente, uma reparação histórica com essa população. Estamos orgulhosos do trabalho e tenho certeza que, nos próximos censos, os números serão mais precisos - disse o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo.

https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/05/03/censo-2022-homens-sa…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.