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Cenários na Transamazônica

O Paraense-Belém-PA
Autor: Abnor Gondim
15 de Jan de 2002

Transamazônica Construída duirante a ditadura, a rodovia será a porta de entrada para milhares de imigrantes

Estudos realizados pela Eletronorte revelam que a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, poderá atrair até 150 mil imigrantes nos próximos 20 anos para a região

Idealizada em 1970 como um dos pólos do Milagre Brasileiro concebido pelo presidente-general Emílio Médici, a região da Transamazônica deu um salto de 1.000% em termos populacionais nos últimos 30 anos. Ganhou feições urbanas, triplicou o número de municípios, hoje são nove, acolheu novos produtos e afastou-se dos embates travados com índios para desenvolver mineração e agropecuária. Mas, desde o início da década passada, o sonho do Eldorado acabou. Hoje, "a região vive um período de estagnação econômica" e a retomada do dinamismo de outros tempos passa pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, projetada para ser a maior do país, com quase 12 mil megawatts, e pelo asfaltamento das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá. Essa é a expectativa traçada sobre o futuro da região até 2020, conforme estudo de cenários da região encomendados pela Eletronorte, estatal responsável pela geração de energia na Amazônia. Os "Cenários Socioeconômicos da Região Polarizada pela Futura Usina Hidrelétrica de Belo Monte e pelo Sistema de Transmissão Tramo-Oeste" sustentam os planos traçados pela empresa para reativar o projeto. Em dezembro passado, o cronograma das obras foi suspenso por ordem judicial, a pedido do Ministério Público Federal, por falhas apontadas nos estudos de impacto ambiental do empreendimento. Nas próximas duas décadas, prevê o estudo, as obras de Belo Monte e o asfaltamento das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá deverão chamar de 50 mil a 150 mil imigrantes, atraídos por investimentos que irão variar de quase R$ 400 milhões a R$ 10,5 bilhões. A pesquisa aponta que a região "altos níveis de pobreza e deterioração do meio ambiente devido às formas tradicionais e rudimentares de exploração dos recursos naturais". Resultado: a renda média anual por habitante é de apenas US$ 903, "bastante inferior à do Estado, de US$ 1.970. Os números mostram a queda da qualidade de vida na região. "No campo social, a região apresenta situação precária refletida principalmente no indicador de mortalidade infantil (32,5 mortes por 1.000 crianças nascidas vivas), analfabetismo (40% dos habitantes), escolaridade média (3,5 anos) e saneamento básico (48%, para água, e 40% para esgoto)." Tem mais: nos últimos 12 anos, diminui o ritmo tanto do crescimento econômico (7,34% por ano na década de 80 para 2,9% na década de 90) quanto do demográfico (11,4% por ano na década de 80 para 1,7% na década passada). Os quatro cenários traçados vão do paraíso ao inferno. As situações variam, de acordo com o resultado das pressões ambientalistas e políticas e da própria ação do Poder Público para ordenar a ocupação e a preservação dos recursos naturais. A principal novidade na ascensão e queda da região é o surgimento e a transformação do Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica, hoje rebatizado com o nome de Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e do Xingu. Trata-se de uma organização que amaldiçoa as propostas de grandes projetos na Amazônia. Um dos piores cenários, o "C", denominado de "Dinamismo Tardio com Conservação e Isolamento" será provocado pela "força dos movimentos ambientalistas e indigenistas", na hipótese de conseguirem retardar ou dificultar a implantação dos grandes projetos de infra-estrutura na região. O texto critica os ambientalistas: "Apesar dos interesses nacionais pela geração de energia elétrica, a construção de Belo Monte tem início apenas na segunda década do século". Em outro trecho, cita como efeitos provocados pelos ecologistas outro atraso na pavimentação da Transamazônica e a suspensão das obras na Santarém-Cuiabá O cenário mais crítico é desenhado com base em situação de grave crise econômica que inviabilizasse quase inteiramente os investimentos em infra-estrutura. Tal situação é definida como "Estagnação e Degradação Ambiental". |Em verdade, repetiria o quadro atual de economia estagnada e baixa qualidade de vida da população. No reino dos céus, estaria o Cenário "A", intitulado "Dinamismo Sustentável". Nele haverá "um rigoroso e eficaz sistema de gestão ambiental". Tudo resultado de um pacto de conversação do meio ambiente negociado entre a sociedade e os investidores. O futuro será complicado, como espelha o cenário "B", se não houver controle do Estado contra as pressões ambientais. O panorama seria de "Modernização e Degradação Ambiental". "Não queremos continuar de lamparina na mão vendo a linha de transmissão passar sobre nossas cabeças", disse Tarcísio Feitosa, coordenador do Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu. Ele se referia ao fato de que a energia a ser gerada por Belo Monte vai ser exportada para abastecer o Centro-Sul do país. Para a Eletronorte, Belo Monte continua sendo uma obra estratégica para o país. Recursos já foram propostos contra a decisão judicial que suspendeu os estudos de impacto ambiental a cargo da Fadesp, fundação ligada à Universidade Federal do Pará, em razão das irregularidades levantadas pelo Ministério Público, como a ausência de licitação. Dois escritórios de divulgação da estatal continuam funcionando na região para divulgar os dados do projeto e convencer sobre a grandiosidade dos números. O setor de engenharia foi desativado por causa da decisão judicial. A direção da empresa reconhece apenas que perdeu uma batalha.

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