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Ceará cria centro para desenvolver novas tecnologias

GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B13
15 de Abr de 2005

Ceará cria centro para desenvolver novas tecnologias

Ligado à indústria, Cenea quer gerar negócios, pesquisas e atrair investimentos de R$ 40 milhões em quatro anos. O Centro de Energias Alternativas (Cenea) do Ceará já tem data e hora para lançamento: dia 9 de maio, às 18h, na Federação das Indústrias do Estado (Fiec), em encontro que reunirá a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia), representantes do governo estadual, entidades de classe, comunidade acadêmica, parlamentares e empresários nacionais e do exterior.
O presidente do Cenea e diretor da Fiec, economista Francisco de Alcântara Macedo, diz que o centro funcionará como articulador do ambiente de negócios proporcionado pela Fiec, aliando conhecimento, por meio das pesquisas produzidas nas universidades, com propósito de gerar patentes.
"A idéia é agregar especialistas de todo o mundo", resume o empresário, que tem como meta para três a quatro anos garantir em carteira projetos avaliados entre R$ 30 milhões a R$ 40 milhões.
O Ceará, que começou a desenvolver os primeiros projetos em energia eólica ainda na década de 90, possui vantagens comparativas para abrigar o centro, pois é rico em energias alternativas provenientes do vento, do sol (300 dias por ano no estado) e do biodiesel (mamona), garante o dirigente.
"Temos as condições naturais, mas ainda precisamos aprimorar o conhecimento sobre o assunto", afirma Macedo. O empresário observa que a investida ganha força no momento que o estado deverá receber via Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o Proinfa, cerca de US$ 700 milhões, com a geração superior a 500 mw, até 2008. Pouco menos da metade do global previsto de 1.381 mw para o País.
A soma de recursos estimada inclui investimentos em fábricas de pás, montadoras de aerogeradores e de torres. A cadeia envolvendo a implantação e operação dos projetos de eólica deve criar 20 mil novos postos de trabalho, entre diretos e indiretos, calcula o coordenador de Energia e Comunicações da Secretaria de Infra-Estrutura do Estado (Seinfra), engenheiro Adão Linhares Muniz, também diretor do Cenea, ao apontar que a participação do Ceará em geração eólica chega a 36,2% do global.
Conforme Linhares, o estado tem em carteira 14 projetos . "O governo inicia a construção de dois parques eólicos próprios de 30 mw cada, nos municípios de Paracuru e Camocim, litoral cearense, financiados pelo Japan Bank for International Cooperation (Jbic), que devem iniciar operação em 2007 avaliados, em torno de US$ 80 milhões", diz. O custo por mw instalado fica ao redor de US$ 1,4 milhão. No global, entre Proinfa e governo estadual, seriam 560 mw gerados, sem considerar as usinas já em operação. Para Macedo, o novo cenário deverá contribuir de forma significativa para a expansão do Produto Interno Bruto cearense, estimado no ano passado em R$ 27,2 bilhões, resultado preliminar.
"Não há dúvida de que o estado será o maior gerador de energia alternativa do País e o maior em eólica da América Latina", acrescenta Macedo.
Expansão assegurada
Parceria de negócio da Wobben Windpower, subsidiaria da alemã Enercon, com a Companhia Energética do Ceará (Coelce), concessionária local, já assegura a contratação de energia em 3 parques eólicos - Prainha (10 MW), Taíba (5 mw) e Mucuripe (2,4 mw), somando 17,4 mw. Esse volume, acrescido dos 500 mw do Proinfa, deverá garantir ao Estado mais de 1.700 gwh/ano.
"O Ceará desenvolveu nos últimos anos, medições de vento, que consolidaram o seu potencial de geração eólica em mais de 25 mil mw, no continente", afirma o engenheiro Linhares, considerado um dos maiores especialistas do setor no País. Outros 10,5 mw em plataforma offshore, na região de Acaraú e Camocim, ainda precisam ser avaliados.
Localizado na posição do Equador, o estado registra vento em direção constante e velocidade continua, com grande vantagem na geração de energia eólica, em relação a outros estados brasileiros."Essa situação evita que a máquina sofra movimentos bruscos e dispensa suporte ou estrutura muito fortes", explica. A velocidade média dos ventos (alísios) alcança entre 8,5 metros e 9 metros por segundo, a 70 metros do litoral, informa.
O especialista Linhares assinala que a localização dos projetos próximos a demanda evita investimentos de geração distante e transmissão da ordem de US$ 188 milhões. A investida no setor assegura também a redução de emissões de CO² promovida pela geração limpa de energia elétrica destes projetos, em substituição da geração por térmicas a gás natural. "Para os 577 mw em geração eólica previstos para do estado serão mais de 1 milhão de toneladas de CO² evitados, o que pode representar, com a implementação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) previsto no Tratado de Quioto, receita de US$ 10 milhões anuais em transações com Certificados de Emissões", diz Linhares, ao considerar a cotação de US$ 10 por tonelada de CO2.
Coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Proinfa prevê a implantação de 3.300 mw de potência instalada, divididos entre a geração de biomassa, eólica e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), com viés de busca de soluções de regionais e da inserção de fontes alternativas renováveis locais. "Por isso, o grande empenho do Ceará em apresentar seu potencial eólico", afirma, ao observar que não há outra fonte além, vento, do sol e das ondas.
Segundo o especialista Linhares, dos 1800 mw licenciados no Estado, cerca de 800 mw foram habilitados pelo Proinfa. Além da energia dos ventos, o Estado conta com suporte da Central Geradora Termelétrica de Fortaleza, do grupo espanhol Endesa, com capacidade de 310,7 mw, e da Termoceará (MPX), de 200 mw, projeto do empresário carioca Eike Batista, que está sendo negociada com a Petrobras. Os próximos passos envolvem a consolidação do potencial offshore e o desenvolvimento do sistema de previsibilidade de geração eólica para o Nordeste.
kicker: Operação para projetos eólicos deve criar cerca de 20 mil postos de trabalho
kicker2: Estado quer dominar geração de energias alternativas na AL

Cenea vai orientar projetos
O Cenea vai iniciar operações amparado na assinatura de convênios, incluindo grupos internacionais, universidades, governo do Estado e Fiec, e já com conselho consultivo definido, segundo Francisco de Alcântara Macedo, ao lembrar que a proposta de criação do centro, partiu do atual vice-governador, Francisco de Queiroz Maia Júnior, quando era secretário de Infra-Estrutura no governo de Tasso Jereissati.
O conselho, presidido pelo secretário de Ciência e Tecnologia, Hélio Guedes de Campos Barros, e integrado por representantes de entidades, empresas concessionárias e do meio acadêmico, se propõe a definir rumos dos projetos. Macedo observa que Centro vai mobilizar instituições como a Fiec, universidades como a Federal (UFC) e Estadual do Ceará (Uece), a de Fortaleza (Unifor), Regional do Cariri (Urca), e do Vale do Acaraú (Uva), aproveitando estruturas já existentes. "Laboratórios e centros de pesquisa garantem suporte físico, reduzindo os custos de operação", assinala Macedo. Conforme o dirigente, na retaguarda de grande projeto sempre existe um centro de pesquisa.
Para a manutenção do Cenea, a idéia é contar com parte do montante de recursos destinados pelas empresas do setor elétrico para pesquisa e desenvolvimento. A Lei 9.991 prevê que as geradoras, transmissoras ou distribuidoras de energia devem aplicar compulsoriamente 1% da receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento.
Deste índice total, 0,4% deve ser destinado a programas e projetos originários na empresa e supervisionados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 0,4% ao Fundo Setorial de Energia (Cteg), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e administrado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e 0,2% para o Ministério das Minas e Energia (MME). "Os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste ficam com 30% da parcela de recursos do CT-Energ", diz Lenardo José Saraiva de Castro, diretor-financeiro do Cenea, que quer parte dos recursos.

GM, 15-17/04/2005, Rede Gazeta do Brasil, p. B13

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