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Casal de índios é ferido a tiros no Maranhão

O Globo, O País, p. 10
24 de Mai de 2008

Casal de índios é ferido a tiros no Maranhão
Cimi, que denunciou o atentado, suspeita que os guajajaras tenham sido vítimas de um grupo de extermínio

Germano Oliveira

Dois índios da etnia guajajara, no Maranhão, foram baleados ontem de manhã no município de Grajaú, perto do povoado de São Raimundo, Sul do estado, por dois pistoleiros que ocupavam uma moto. Atingido com uma bala nas costas, o índio Itamar Carlos Guajajara, de 35 anos, está internado em estado grave no Hospital Santa Neusa, em Grajaú. A bala perfurou o pulmão e ficou alojada perto da coluna. Sua mulher, Deolice Rodrigues Guajajara, de 30, levou um tiro de raspão na coxa, foi medicada e liberada.
O Conselho Missionário Indigenista (Cimi), que denunciou o atentado, acredita que eles tenham sido vítimas de um grupo de extermínio que ameaça indígenas no Sul do Maranhão. Há 15 dias, dois homens numa moto entraram atirando na Aldeia Anajá, também na região do Grajaú, e mataram a índia Maria dos Anjos Guajajara, de 6 anos, com um tiro na cabeça dentro de casa. No ano passado, dez índios guajajaras foram assassinados.
O atentado ontem aconteceu por volta das 10h. Segundo o Cimi de São Luís, Itamar e Deolice caminhavam em direção à Aldeia Bacurizinho, do povo guajajara, pela rodovia MA-006, a cerca de dois quilômetros do trevo de Grajaú, quando foram abordados por dois homens encapuzados. Eles mandaram o casal parar ameaçando atirar. O casal parou, mas mesmo assim os dois homens dispararam diversos tiros de calibre 38.
- Os índios do Guajajara do Grajaú (cerca de 3.400) estão abandonados. A Funai abandonou a região. Os dois índios baleados estavam indo a pé do Grajaú para a aldeia, que fica a 24 kms, porque o caminhão que fazia o transporte dos indígenas da aldeia até a cidade está quebrado e não é consertado por falta de peças que a Funai não compra - disse o índio José Arão Marize Lopes, vereador em Grajaú pelo PTN, que levou o casal para o hospital. Ele acusou a Funai de abandonar a região.
Diretora da Funai lamenta ataque aos indígenas
Informada pelo GLOBO sobre o ataque, a diretora da Funai na região, Claudia Lobo, confirmou o atentado aos indígenas e disse que os dois foram socorridos pelo vereador José Arão pelo fato de ele ser "também chefe do pólo administrativo da Funasa em Grajaú".
- Esse atentando aos índios guajajara é terrível - disse Claudia Lobo, diz que é ligada ao presidente do órgão, Márcio Meira, mas nega ter sido indicada ao cargo por ser petista.
- A Funai precisava de alguém com perfil administrativo para arrumar os erros administrativos do órgão no estado. Não precisava de um índio ou de um indigenista. O próprio Arão já foi administrador da Funai em São Luís, e eu estou aqui para corrigir alguns equívocos administrativos cometidos no passado - disse.
Segundo o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), que denunciou o atentado, este caso se assemelha ao da menina guajajara Maria dos Anjos, morta há duas semanas com um tiro na cabeça enquanto assistia à TV na Aldeia Anajá, às margens da mesma rodovia MA-006, mas próximo ao município de Arame.
- Este tipo de agressão tem se tornado freqüente no Maranhão. Existe a suspeita de que um grupo de extermínio de indígenas possa estar atuando na região - disse ontem Humberto Rezende Capucci, do Cimi em São Luís.

O Globo, 24/05/2008, O País, p. 10

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