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CARTA ABERTA DO POVO PAITER SURUÍ

Grupo de Emails ANAIND (yahoo)
Autor: Almir Suruí
11 de Set de 2006

Há vários anos o mundo vem assistindo o sofrimento dos povos indígenas diante do desrespeito ao seu modo de viver integrado à floresta e aos demais elementos da natureza - rios, animais ... Em nome do desenvolvimento econômico e da geração de renda, a população não é ouvida nem participa das decisões sobre os mega projetos que trazem impactos sociais, ambientais e culturais, interferindo diretamente sobre a sobrevivência cultural e física dos povos amazônicos originais. O grito e o desespero da floresta tentam chegar ao conhecimento da sociedade nacional e internacional, sejam religiosos, políticos, pesquisadores, entidades ambientais e sociais, imprensa e as pessoas que lutam pelo desenvolvimento justo e ambientalmente sustentável que garantam os direitos indígenas.

Existem leis nacionais e internacionais, convenções e acordos que asseguram a preservação ambiental e os direitos indígenas. Não podemos nos omitir diante das invasões dos madeireiros nas terras indígenas, se aproveitando do baixo poder aquisitivo dos índios e aliciando lideranças. Não podemos nos calar diante dos assassinatos de lideranças que resistem a essa ação que massacra nosso modo de vida e pioram as condições de vida nas aldeias. Precisamos impedir a construção de hidrelétricas que alteram as condições ambientais das terras indígenas e de outras unidades conservação. Temos que dizer não aos milhões de reais gastos no Grupo Tarefa Cinta Larga sem resultado, enquanto os assassinatos dos 08 líderes Cinta Larga continuam sem solução e a Polícia Federal continua abusando do poder e desrespeitando a dignidade das comunidades indígenas.

Desde 1986 algumas lideranças Suruí, vêm sendo aliciadas pelos madeireiros e funcionários da FUNAI para explorar de forma ilegal a madeira de sua terra, enquanto órgãos responsáveis pela fiscalização permanecem omissos. Os aliciadores trabalham ilegalmente e em alguns casos com a conivência dos índios que foram aliciados, extraindo da Terra Indígena Sete de Setembro aproximadamente 250 caminhões carregados de madeira por dia, saindo de vários cantos da área, sem que nenhuma ação seja feita para impedir. Enquanto isso, os assassinatos de indígenas por madeireiros e invasores continuando impunes, como no caso do Agoypape Suruí e Yanner Suruí. O pior é que nenhuma investigação esta sendo feita para colocar na cadeia os· assassinos. Também não há nenhum programa de proteção a terra indígena Sete de Setembro, o que demonstra a falta de compromisso dos órgãos governamentais de qualquer esfera para garantir a proteção dos recursos naturais da nossa área.

Não existe nenhum programa voltado à proteção da cultura do povo Paiter Suruí.

Faltam programas de desenvolvimento econômico que garantam aos indígenas a execução de atividades econômicas voltadas à produção ambientalmente sustentável e economicamente viável, gerando renda e elevando o nível de vida dos índios para que não fiquem vulneráveis às propostas indecentes daqueles que só querem explorar as riquezas das terras indígenas.

A saúde indígena se tornou uma ferramenta dos partidos políticos. O atendimento aos indígenas está sendo trocado por votos, principalmente as ações do Programa VIGISUS. As famílias necessitadas têm que se submeter às vontades da FUNASA - Fundação Nacional de Saúde, calando diante dos problemas no atendimento e apoiando ações precárias em troca de atendimento um pouco melhor para um parente em situação de emergência. Os presidentes dos Conselhos Locais e Distritais de saúde são tratados como se fossem empregados da FUNASA. Algumas lideranças indígenas foram aliciadas e se calam em troca de um contrato de assessoria, vindo morar nas cidades enquanto nas aldeias a situação da saúde indígena esta cada vez pior. Os indígenas agora vivem na fila do SUS, enquanto a FUNASA faz o discurso de que a saúde é diferenciada. Realmente é diferenciada para pior, pois o atendimento ao índio nunca foi tão ruim. A falta de respeito aos direitos a saúde e a vida hoje é uma constante pelo órgão que deveria respeitar e garantir a vida.

Já esperamos muito a solução para os problemas que vêm acontecendo nas Terras Indígenas de Rondônia. Exigimos URGENTES providências para que possamos ter a certeza que continuaremos a existir enquanto povo e que a floresta e seus animais continuarão a viver em paz na Amazônia.

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