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Carros a diesel? Nein, danke

FSP, Ciência, p. B15
Autor: LEITE, Marcelo
29 de Mai de 2016

Carros a diesel? Nein, danke

Marcelo Leite

Poucas colunas colheram tantas reações, nos últimos tempos, quanto a aqui publicada no último dia 15. Talvez tenha sido a pequena provocação do título, "Temer movido a diesel", uma cutucada na onça ideológica que ronda qualquer debate no Brasil de hoje e cujos esturros impedem ouvir todo o resto.
Surpreendeu, porém, ver que ainda há quem defenda o óleo diesel como propelente para veículos leves, ou seja, carros de passeio. Noves fora ser um combustível fóssil, que lança dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e assim agrava o efeito estufa, a queima desse derivado de petróleo produz a poluição do ar mais tóxica.
O primeiro e grande problema do diesel é a fuligem, produto da combustão imperfeita do óleo. É um dos principais componentes do material particulado fino, capaz de penetrar fundo no pulmão e depositar materiais danosos à saúde diretamente sobre as células (não bastasse, também contribui para o aquecimento global).
Em segundo lugar, o consumo de diesel emite óxidos de nitrogênio e compostos de enxofre que também são perniciosos para seres humanos. Fora dos grandes centros urbanos ainda predomina no Brasil o padrão S500, sendo que os motores a diesel mais modernos, como os que equipam carros na Europa, têm filtros que só funcionam bem com o S10.
O impedimento a comercializar diesel para veículos leves, no Brasil, não tem contudo origem no combate à poluição do ar. A restrição, que data dos anos 1970, serve para limitar a importação desse combustível e manter seu subsídio para os transportes coletivos e de carga.
Se faz bem para a saúde dos brasileiros, para que então mudar a regra? Só para ficar mais parecido com a Europa?
Na realidade, até os europeus já estão revendo suas políticas permissivas com o diesel em carros de passeio. E não é só por causa dos trambiques para passar nos testes de emissão que vieram à tona com o escândalo da Volkswagen, mas por causa da poluição.
Na última segunda-feira (23), o diário "Frankfurter Rundschau" trouxe uma reportagem apontando a Alemanha -sim, ela, a pátria do Partido Verde- como a campeã do continente em emporcalhamento do ar. E pôs a culpa no diesel.
A Comissão Europeia tem dois processos contra o governo alemão por desrespeito aos limites de emissão de particulado fino e de dióxido de nitrogênio. No segundo caso, o limite europeu de 40 microgramas por metro cúbico de ar vem sendo ultrapassado em 29% de todas as estações medidoras no país de Angela Merkel.
No caso do material particulado fino, são poucas as estações em que o teto europeu termina superado, como em Stuttgart e Leipzig. Mas só porque o padrão na UE é menos exigente que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde, explica o jornalista Frank-Thomas Wenzel; valesse o critério da OMS, 96% das estações alemãs estariam medindo níveis excessivos.
O preço da poluição do ar, aqui como lá, é pago em mortes precoces -sobretudo por problemas cardiovasculares, como infartos e derrames. A OMS calculou que o custo econômico desses óbitos para a Alemanha, em 2010, havia sido de US$ 145 bilhões, segundo o "Rundschau".
E ainda tem gente aqui no Brasil achando que devemos seguir o exemplo alemão.

FSP, 29/05/2016, Ciência, p. B15

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2016/05/1775812-carro…

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