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'Carne sustentável' no foco do Greenpeace

Valor Econômico, Agronegócios, p. B14
18 de Nov de 2015

'Carne sustentável' no foco do Greenpeace

Bettina Barros

Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos para impedir que a pecuária impulsione o desmatamento da Amazônia, há ainda uma boa chance de parte da carne bovina consumida pelos brasileiros chegar à mesa à custa de árvores. A duas semanas da reunião global mais importante para discutir as mudanças climáticas - a CoP-21, em Paris -, o Greenpeace divulga hoje mais um relatório que aponta falhas no controle da cadeia produtiva da pecuária no bioma. Desta vez, o foco está no varejo - e os resultados foram considerados decepcionantes.
Intitulado "Carne com gosto de desmatamento: em um supermercado perto de você", o relatório aponta que um volume significativo da proteína bovina consumida no país ainda não é monitorada pelos supermercados. A falta de rastreamento aumenta o risco de a carne ser de animais associados ao desmatamento ilegal e a condições degradantes de trabalho.
Nos últimos sete meses, o Greenpeace avaliou o desempenho de sete grupos com atuações nacional e regional, que representam quase dois terços das vendas do varejo no Brasil. Três aspectos foram observados: a existência de políticas de aquisição para as compras de carne bovina, a avaliação dos critérios dessas políticas e a transparência das ações com os clientes.
"Quando o assunto é carne bovina livre de desmatamento, os supermercados são pura decepção", afirma o Greenpeace. "Nenhum atingiu o patamar verde do ranking que corresponde às empresas que atingiram de 70% a 100% em todas as áreas-chave que integram o ranking". No resultado final, o melhor colocado foi o Walmart, seguido pelo Carrefour. GPA (bandeiras Pão de Açúcar e Extra) e Cencosud se saíram pior, enquanto os grupos regionais Comper, DB e Y.Yamada, com forte presença no Norte, sequer responderam o questionário ou telefonemas do Greenpeace, iniciados já em abril.
Conforme Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace, a falta de uma política para a compra de carnes chamou a atenção em quase todas as empresas. "Isso é essencial para assegurar que todos os fornecedores estão comprometidos com o desmatamento zero", afirmou ela ao Valor.
Segundo os próprios varejistas, a maior parte da carne bovina adquirida no mercado vem dos três maiores frigoríficos do país - JBS, Marfrig e Minerva -, que já possuem sistemas próprios de averiguação da procedência do animal. Em outras palavras, os frigoríficos já conseguem rastrear com mais facilidade se o animal que eles irão abater foi criado em área socialmente e ambientalmente íntegra, e ainda longe de terras indígenas.
O Pão de Açúcar, por exemplo, afirma que 70% da carne bovina vendida em suas lojas vem desses frigoríficos. O problema, diz o Greenpeace, está nos 30% restantes. O levantamento cita, ainda, que somente a carne da marca própria Taeq é monitorada. Mas o produto, destinado ao mercado premium, representa apenas de 5% a 7% das vendas de carne bovina do grupo.
"Por não ter uma política própria para compra de carne bovina, o GPA, que é o maior varejista no Brasil, só consegue garantir a procedência de parte do produto. Ter a maioria da carne vinda destes frigoríficos não configura um padrão aceitável", afirma Adriana.
"Extra e Pão de Açúcar compram cerca de 70% dos seus produtos de carne bovina de três grandes frigoríficos nacionais, signatários do Compromisso Público de Zero Desmatamento do Greenpeace desde 2009. Além destes, 10% da compra é de produtores do Estado de São Paulo, ou seja, de regiões que não estão contempladas na Amazônia. Para os demais fornecedores, é realizado um trabalho de identificação e monitoramento da cadeia bovina, coordenado pela ONG TFT (The Forest Trust), que deriva da política de compras das redes, garantindo condições de produção social e ambientalmente corretas para os produtos expostos nas lojas", disse, em nota, a GPA.
A falta de uma política de compra de carne também foi alvo de questionamento ao Carrefour, que se comprometeu em 2010 a alcançar o desmatamento zero até 2020. Passados cinco anos, o Greenpeace afirma que o grupo não avançou no tema. Segundo a ONG, a rede diz comprar 90% de sua carne bovina de JBS, Marfrig e Minerva, mas não explica quais mecanismos usa para garantir que o produto não esteja ligado ao desmatamento.
"O Grupo Carrefour possui compromisso global com o desmatamento zero até 2020. Em relação à comercialização da carne, cerca de 90% de todo o volume adquirido pela rede já é proveniente de frigoríficos comprometidos com o desmatamento zero. Como medida adicional, todos os fornecedores de carne são signatários do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), do Ministério Público Federal, assegurando que a carne é proveniente de áreas legalmente autorizadas para a produção. Além disso, o grupo trabalha na ampliação de seus controles internos com base em iniciativas pioneiras como o programa Garantia de Origem, que oferece a rastreabilidade total em seus produtos, o que reafirma seu comprometimento com a meta global estabelecida para todos os produtos que comercializa", afirmou, em nota, o Carrefour.
A liderança do Walmart nas ações para o combate à "ilegalidade do boi" se deve principalmente ao fato de a rede varejista ter criado um monitoramento próprio de checagem. A empresa desenvolveu um sistema que apura o "histórico" do animal no ato do pedido de compra ao fornecedor - tal como os frigoríficos fazem. "Fazemos isso para todos os fornecedores, inclusive com os grandes frigoríficos. É uma rechecagem, até porque não sabemos se eles fazem exatamente todos os nossos passos", diz Luiz Herrisson, diretor de sustentabilidade do Walmart Brasil.
Em agosto, a empresa incluiu uma cláusula contratual que obriga o pecuarista a também fazer o seu monitoramento. Há três anos, o Walmart tem treinado os fornecedores médios e pequenos para esse momento, apresentando novas ferramentas de monitoramento e melhoria no manejo. São 35 mil fazendas cadastradas. A expectativa é que todos estejam fazendo sua própria checagem até o mês que vem - para ser rechecado posteriormente pelo Walmart.

Valor Econômico, 18/11/2015, Agronegócios, p. B14

http://www.valor.com.br/agro/4319982/carne-sustentavel-no-foco-do-green…

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