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Carnavalesco da Imperatriz responde críticas de produtores rurais sobre enredo

Extra- http://extra.globo.com
07 de Jan de 2017

Um dia depois da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) criticar publicamente o enredo da Imperatriz Leopoldinense para este carnaval, o carnavalesco da agremiação, Cahê Rodrigues, resolveu se manifestar sobre o assunto na tarde deste sábado. O artista afirmou em post, publicado em seu Facebook, que "nunca foi intenção agredir o agronegócio" durante o desfile. Ele afirma que a apresentação irá combater o uso indevido "do agrotóxico, que polui os rios, mata os peixes e coloca em risco a vida de seres humanos, sejam eles índios ou não". A Verde e branco da Zona Norte do Rio faz uma homenagem este ano aos índios da Reserva do Xingu.

A polêmica começou no início da semana quando diversas entidades ligadas ao agronegócio começaram a criticar o enredo e o samba-enredo da Imperatriz por supostamente classificar o setor de "monstro". A página da Imperatriz nas redes sociais chegou a ser alvo de comentários negativos. Para a ABCZ, "a escola mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país". Segundo informações da coluna do Ancelmo Gois, no jornal O Globo deste sábado, a ABCZ iria pedir para Zezé di Camargo, que é produtor rural, para desistir de desfilar pela agremiação.

No seu post, Cahê Rodrigues lembra que no carnaval do ano passado a escola fez uma homenagem aos cantores Zezé di Camargo e Luciano, além de exaltar as maravilhas do campo.

"Seria, no mínimo, estranha a nossa posição exaltarmos o trabalho de produtores rurais num Carnaval e criticá-lo no outro. Nem vamos sustentar números ou comparações entre os territórios ocupados pelas etnias indígenas, demarcados por leis federais, com as terras produtivas. Cada uma dessas áreas possui a sua finalidade e devem ser respeitadas como tal".

A Imperatriz será a terceira a desfilar no domingo de carnaval.

Leia na íntegra a resposta do carnavalesco da Imperatriz:

"Quando a Imperatriz Leopoldinense decidiu levar para a Avenida o enredo Xingu, o clamor que vem da floresta, assumiu o desafio de apresentar muito mais que um desfile voltado à cultura e às tradições das etnias indígenas que ocupam o coração do Brasil.

O clamor, destacado no título, pode ser traduzido como a voz que teimamos em não ouvir desde o dia em que os europeus descobriram oficialmente estas terras, batizadas com o nome da madeira que, antes da cana-de-açúcar, do ouro, dos diamantes e da escravaria, começou a enriquecer os cofres de Portugal.

Ao longo dos séculos, aprendemos que o povo brasileiro é resultante de três raças: o índio, o negro e o branco. No entanto, nossa História sempre foi contada pelos brancos, pois negros e índios raramente tiveram a chance de expressar tudo que tiveram de enfrentar para ajudar a construir essa História. Infelizmente, pouco sabemos sobre eles, além da certeza de que milhões de vidas foram ceifadas para dar passagem ao que os colonizadores do passado e do presente rotulam como "progresso".

Antes de entrarmos no âmago do enredo que a Imperatriz, orgulhosamente, prepara para o Carnaval 2017, é importante reavivar a memória.

No Carnaval 2015, com o enredo Axé,Nkenda!, a Imperatriz fez um alerta sobre atitudes racistas que ainda ferem a raça negra. Para isso, fizemos uma viagem à África, mostrando de onde vem boa parte de nossas raízes culturais. Mostramos ao público o orgulho que devemos ter da genética negra que carregamos em nosso DNA.

No ano passado, pela primeira vez na história do Carnaval Carioca, a Imperatriz ousou em exaltar a música sertaneja, personificada na dupla Zezé Di Camargo e Luciano. Para falar de sertanejos, também mostramos a lida do homem do campo e da importância da agropecuária do Centro-Oeste brasileiro no abastecimento de alimentos para a nossa população. A mão que revolve a terra é a mesma que ponteia a viola e traz à mesa os alimentos que garantem a nossa sobrevivência.

Quando decidimos falar sobre o índio e, em especial, sobre a importância da reserva do Parque Indígena do Xingu, nosso objetivo não é outro senão fazer um alerta sobre os riscos que ainda ameaçam as 16 etnias que ali resistem e, indiretamente, muitas outras espalhadas pela Amazônia.

Cabe lembrar que os povos xinguanos são originários de territórios vizinhos ao Parque e foram transferidos para a reserva depois de um longo e exaustivo trabalho de convencimento feito pelos Irmãos Villas-Bôas, exaltados em nosso enredo. Não fossem os Villas-Bôas, esses povos indígenas, como tantos outros, já teriam desaparecido em função de doenças, envenenamento e atos de extrema violência cometidos por invasores de terras das mais variadas espécies, como madeireiros, mineradores e até fazendeiros.

Seria, no mínimo, estranha a nossa posição exaltarmos o trabalho de produtores rurais num Carnaval e criticá-lo no outro. Nem vamos sustentar números ou comparações entre os territórios ocupados pelas etnias indígenas, demarcados por leis federais, com as terras produtivas. Cada uma dessas áreas possui a sua finalidade e devem ser respeitadas como tal. Nunca foi nossa intenção agredir o agronegócio, setor produtivo de nossa economia a quem respeitamos e valorizamos. Combatemos sim, em nosso enredo, o uso indevido do agrotóxico, que polui os rios, mata os peixes e coloca em risco a vida de seres humanos, sejam eles índios ou não, alem de trazer danos em alguns casos irreversíveis para nossa fauna e flora.

Mas também chamamos a atenção para o medo e a preocupação permanentes dos xinguanos, que a cada noite temem uma nova invasão de suas terras. Ou imaginam a catástrofe que a usina de Belo Monte desencadeará no ecossistema de toda aquela região, inundando aldeias, igarapés e levando na força de suas águas as chances de sobrevivência de sua gente. Tive a oportunidade de ver isso pessoalmente. Conversei com eles, ouvi a sua angústia.

Quando a Imperatriz decidiu levar o Xingu para a Avenida, tinha uma razão muito forte. Ela quer dizer apenas: respeitem o nosso índio e aprenda, com ele, a amar o que chamamos de Brasil.

Viva o Xingu! Viva os Irmãos Villas-Boas e todos aqueles que lutam pela causa indígena! Viva o Índio Brasileiro! Viva a Imperatriz Leopoldinense! Para sempre..."

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