VOLTAR

Cariocas com asas

O Globo, Revista O Globo, p. 56-57
26 de Fev de 2006

Cariocas com asas
Cientistas identificam espécies de aves raras e coloridas que habitam florestas e praias. Estudo lança alerta para o perigo de extinção

Por Antônio Marinho

UMA PESQUISA SOBRE AVES brasileiras nos 15 estados litorâneos e em Minas Gerais concluiu que das 350 espécies analisadas, 98 correm risco de extinção. Só na região que engloba a Serra da Bocaina, Paraty e Angra dos Reis, na divisa dos estados do Rio e de São Paulo, 13 espécies estão ameaçadas. O levantamento feito pela Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), representante da BirdLife International, durou cinco anos, envolveu 30 biólogos, e virou livro: "Áreas Importantes para a Conservação das Aves no Brasil -- Estados de domínio da Mata Atlântica". Ele será lançado no próximo dia 22, em Curitiba, na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).
No trabalho (coordenado pelos biólogos Pedro F. Develey, Jaqueline M. Goerck, Glayson Bencke e Giovanni Maurício) foram identificadas 163 Áreas Importantes para a Conservação das Aves (ou IBAs, na sigla em inglês), totalizando 8.385.791 hectares (ha). Um dos objetivos é mostrar a importância dessas IBAs e propor medidas para salvar as aves brasileiras.
Segundo Develey, a escolha da aves para estudo tem vários motivos. Um dos mais importantes é que elas são um bom indicador do estado de conservação da natureza:
- Quando você entra numa mata e encontra grande variedade de espécies de aves, isto indica que a região está bem preservada, com árvores, nascentes etc. Esses animais são um bom termômetro.
Brasil tem cerca 1.800 espécies
Foram pesquisadas as áreas de Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa. E 83% das espécies de aves ameaçadas de extinção no país ocorrem nos estados pesquisados. A IBA que concentra o maior número em risco fica entre os estados do Paraná e São Paulo, concentrando 17 tipos de aves em 500 mil ha. A que mais preocupa, segundo os pesquisadores, é a de Murici, em Alagoas, que reúne 14 espécies ameaçadas em 7 mil ha. Já o estado com o maior número de IBAs é a Bahia, com 31 áreas, seguida por Minas Gerais, com 18.
No Estado do Rio, com 11 IBAs (duas interestaduais), duas são prioritárias: a da Restinga da Massambaba (9 mil ha), na Região dos Lagos, com duas espécies em perigo, e a interestadual RJ/SP (Bocaina/Paraty e Angra dos Reis, num total de 150 mil ha), com 13 espécies. Um dos fatores que leva ao desaparecimento das aves e de outros animais é a ocupação desordenada, inclusive de áreas de proteção ambiental.
- Uma das espécies ameaçadas na Massambaba é o formigueiro-do-litoral ( Formicivora littoralis). A outra é a saíra-sapucaia (Tangara peruviana). O maior problema é a destruição do habitat. No Estado do Rio, por exemplo, existem reservas ainda não implementadas. E no Brasil, de um total de 163 IBAs, apenas 23% têm total proteção total. É importante conscientizar governos e sociedade para a preservação. É possível ocupar uma área sem destruir os animais - afirma o biólogo.
Um dos objetivos da SAVE é distribuir o livro para prefeituras de áreas com aves em perigo.
- Desta forma as autoridades podem entender melhor o problema e implementar medidas de conservação das IBAs - diz Develey.
O estudo faz parte de uma estratégia mundial da BirdLife, que já detectou 3.400 IBAs em 24 países. Entre os critérios para se estabelecer uma IBA estão a presença na área de espécies globalmente ameaçadas de extinção, espécies de distribuição restrita, espécies restritas a um bioma e/ou espécies congregatórias, ou seja, aves que usam determinadas áreas para reprodução, locais de invernagem ou paradas durante a migração.
Estima-se que no Brasil tem cerca de 1.800 espécies de aves, representando 20% das 9 mil existentes no mundo. É o terceiro país em diversidade de aves (atrás apenas da Colômbia e do Peru). No entanto, é o primeiro em número de espécies em extinção. Das 1.212 aves ameaçadas no planeta, 118 estão no país, incluindo duas já extintas na natureza: o mutum-do-nordeste (Mitu mitu) e a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii).
A BirdLife International foi criada em 1922 e é uma aliança de organizações ambientalistas presentes em mais de cem países. O grupo é uma referência em conhecimento sobre o estado de conservação das aves, seus habitats e assuntos e problemas em geral que afetam a avifauna mundial.

O Globo, 26/02/2006, Revista O Globo, p. 56-57

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.